Segunda, 16 Outubro 2017 12:39

FAO: Papa pede amor nas relações internacionais

Cidade do Vaticano – O Papa Francisco visitou, na manhã desta segunda-feira (16/10), Dia Mundial da Alimentação, a sede do Fundo das Nações Unidos para Agricultura e Alimentação (FAO), em Roma. Após agradecer ao diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, e demais autoridades, o Papa recordou, em seu discurso, que em 16 de outubro de 1945, os governos decidiram eliminar a fome no mundo através do desenvolvimento do setor agrícola, instituindo a FAO.

“Era um período de uma grave insegurança alimentar e grandes deslocamentos da população, com milhões de pessoas à procura de um lugar para sobreviver às misérias e adversidades causadas pela guerra. À luz desse contexto, refletir sobre os efeitos da segurança alimentar na mobilidade humana significa retornar ao compromisso pelo qual a FAO nasceu, a fim de renová-lo. A realidade atual exige uma maior responsabilidade em todos os níveis, não só para garantir a produção necessária ou a distribuição equitativa dos frutos da terra – isso deve ser dado por certo – mas sobretudo para garantir o direito de todo ser humano de alimentar-se segundo as próprias necessidades, participando das decisões que o afetam e na realização das próprias aspirações, sem ter que se separar de seus entes queridos”.

Segundo Francisco, “diante de tal objetivo, o que está em jogo é a credibilidade de todo o sistema internacional. Sabemos que a cooperação está cada vez mais condicionada por compromissos parciais, limitando inclusive a ajuda nas emergências. Também as mortes por causa da fome e o abandono da própria terra são notícias comuns, com o perigo da indiferença. Precisamos urgentemente encontrar novas maneiras de transformar as possibilidades que dispomos numa garantia que permita a cada pessoa encarar o futuro com confiança, e não apenas com alguma ilusão”.

“Então, eu me coloco – e vos coloco – esta questão: é demais para introduzir na linguagem da cooperação internacional a categoria do amor, proclamada como gratuidade, igualdade no trato, solidariedade, cultura presente, fraternidade e misericórdia? Na verdade, essas palavras expressam o conteúdo prático do termo “humanitário”, tanto em uso na atividade internacional. Amar os irmãos e fazê-lo primeiro, sem esperar nada em troca: este é um princípio evangélico que se manifesta em muitas culturas e religiões e se torna o princípio da humanidade na linguagem das relações internacionais”, disse.

O cenário das relações internacionais mostra uma capacidade crescente de responder às expectativas da família humana, também com o contribuição da ciência e da tecnologia que ao estudarem os problemas, propõem soluções adequadas. “No entanto, essas novas conquistas não conseguem eliminar a exclusão de grande parte da população mundial: quantos são vítimas de desnutrição, de guerras e mudanças climáticas! Quantos precisam de trabalho ou de bens necessários e são obrigados a abandonar suas terras, expondo-se a muitas e terríveis formas de exploração. Valorizar a tecnologia para o desenvolvimento é certamente um caminho a seguir, desde que sejam tomadas ações concretas para reduzir o número de pessoas que passam fome ou para controlar o fenômeno da migração forçada”.

Segundo o Papa, “a relação entre fome e migração só pode ser enfrentada se formos a raiz do problema. A este respeito, os estudos realizados pelas Nações Unidas, como tantos outros realizados por organizações da sociedade civil, concordam que existem dois obstáculos a serem superados: conflitos e mudanças climáticas”.

“Como os conflitos podem ser superados? O direito internacional nos indica os meios para preveni-los ou resolvê-los rapidamente, evitando que se prolonguem e produzam fome e destruição do tecido social. Pensemos nas populações martirizadas por guerras que duram décadas e que poderiam ter sido evitadas, propagando efeitos desastrosos e cruéis como a insegurança alimentar e o deslocamento forçado de pessoas”.

Papa Francisco, “são necessários boa vontade e diálogo para frear os conflitos e um compromisso total contra o desarmamento gradual e sistemático, conforme previsto pela Carta das Nações Unidas, e para remediar a chaga do tráfico de armas. Do que adianta denunciar que por causa dos conflitos milhões de pessoas são vítimas da fome e da desnutrição, se não agimos de forma eficaz em favor da paz e do desarmamento”?

Então, eu me coloco – e vos coloco – esta questão: é demais para introduzir na linguagem da cooperação internacional a categoria do amor, proclamada como gratuidade, igualdade no trato, solidariedade, cultura presente, fraternidade e misericórdia? Na verdade, essas palavras expressam o conteúdo prático do termo “humanitário”, tanto em uso na atividade internacional. Amar os irmãos e fazê-lo primeiro, sem esperar nada em troca: este é um princípio evangélico que se manifesta em muitas culturas e religiões e se torna o princípio da humanidade na linguagem das relações internacionais.

Espera-se que a diplomacia e as instituições multilaterais alimentem e organizem essa habilidade de amar porque é o caminho principal que garante não só a segurança alimentar, mas a segurança humana na sua totalidade. Nós não podemos apenas fazê-lo se os outros o façam, nem nos limitamos a pena, porque a piedade pára no auxílio de emergência, enquanto o amor inspira justiça e é essencial para alcançar uma ordem social justa entre diferentes realidades que desejam assumir o risco da reunião mútua. Amar significa ajudar cada país a aumentar a produção e alcançar a auto-suficiência. Amar traduz-se em pensar em novos padrões de desenvolvimento e consumo, e adotando políticas que não agravam a situação de populações menos avançadas ou sua dependência externa. Amar significa não continuar a dividir a família humana entre aqueles que têm a superfluidade e que não necessitam.

 

 

Fonte: Franciscanos

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