Segunda, 11 Setembro 2017 12:43

Missa pelos direitos humanos encerra visita do Papa

Cartagena – Após almoçar no Claustro do Mosteiro de Santo Domingo, em Cartagena, neste domingo (10/09), o Papa foi ao Arcebispado e à Catedral, onde se encontravam cerca de 300 pessoas enfermas. De carro fechado, se deslocou até a Base Naval de Cartagena, e de helicóptero, foi a Contecar, área portuária da cidade. Durante o voo, Francisco abençoou a imagem da Virgem da Bahia, que se encontra nesta baía natural de 8 mil hectares. O terminal Contecar é o quarto mais importante da América Latina, além de hospedar grandes eventos esportivos, musicais e culturais.

Com o papamóvel, Francisco deu uma volta entre a multidão, estimada em 1 milhão de pessoas, e foi acolhido por uma delegação de portuários (estivadores), que o acompanharam à Sacristia.

No palco montado para a ocasião, estavam as relíquias de São Pedro Claver, a quem o Papa dedicou suas primeiras palavras na homilia da missa. O tema deste último dia da viagem, «Dignidade da pessoa e direitos humanos», foi inspiração para a reflexão de Francisco.

A homilia

 

Cartagena das Índias é a sede dos Direitos Humanos na Colômbia. E aqui, no Santuário de São Pedro Claver, iniciou o Papa, “a Palavra de Deus fala-nos de perdão, correção, comunidade e oração”.

Lembrando os diversos encontros que teve nos últimos dias com ex-guerrilheiros e vítimas da violência da guerra e de abusos, o Papa disse ter ouvido muitos testemunhos de pessoas que foram ao encontro de quem lhes fizera mal.

Há décadas – disse – a Colômbia busca a paz mas, como ensina Jesus, não foi suficiente que as duas partes se encontrassem e dialogassem; foi necessário incorporar muitos mais atores neste diálogo reparador dos pecados.

«O autor principal, o sujeito histórico deste processo, é a gente e a sua cultura, não uma classe, um grupo, uma elite”, disse, citando o modelo de São Pedro Claver:

São Pedro Claver

 

“Soube restaurar a dignidade e a esperança de centenas de milhares de negros e escravos que chegavam em condições absolutamente desumanas, cheios de pavor, com todas as suas esperanças perdidas”.

Mas infelizmente, prosseguiu, “há pessoas que persistem em pecados que ferem a convivência e a comunidade, como aqueles que lucram com as drogas, desafiando leis morais e civis, devastam os recursos naturais, exploram o trabalho; fazem tráficos ilícitos de dinheiro e especulações financeiras, lançando na pobreza milhões de homens e mulheres”.

“A prostituição que diariamente ceifa vítimas inocentes, sobretudo entre os mais jovens, roubando-lhes o futuro; o abominoso tráfico de seres humanos, os crimes e abusos contra menores, a escravidão que ainda espalha o seu horror em muitas partes do mundo, a tragédia freqüentemente ignorada dos emigrantes sobre quem se especula indignamente na ilegalidade”.

A história e Jesus nos interpelam

“A história”, exortou o Papa, “pede-nos para assumirmos um compromisso definitivo na defesa dos direitos humanos. E Jesus pede-nos para rezarmos juntos; que a nossa oração seja sinfônica, com matizes pessoais, acentuações diferentes, mas que se erga de maneira concorde num único grito”.

 

E concluiu:

“Estou certo de que hoje rezamos juntos pelo resgate daqueles que erraram e não pela sua destruição, pela justiça e não pela vingança, pela reparação na verdade e não no seu esquecimento. Rezamos para cumprir o lema desta visita: «Demos o primeiro passo», e que este primeiro passo seja numa direção comum”.

“Se a Colômbia quer uma paz estável e duradoura, deve dar urgentemente um passo nesta direção, que é a do bem comum, da equidade, da justiça, do respeito pela natureza humana e as suas exigências. Jesus prometeu acompanhar-nos até ao fim dos tempos, Ele não deixará estéril um esforço tão grande”.

ANGELUS

Papa em Cartagena: trabalhemos pela dignidade dos pobres e descartados

A oração mariana do Angelus deste domingo (10) foi feita direto do Santuário São Pedro Claver, no centro histórico da cidade de Cartagena. O Mosteiro e a Igreja dedicados ao santo missionário espanhol, defensor dos direitos dos escravos, pertencem à Companhia de Jesus.

Em frente ao complexo religioso, a comunidade de Cartagena escutou atenta à alocução do Papa Francisco da Praça da Aduana. O Santo Padre conduziu o pensamento de todos à Maria, convidando os fiéis a contemplá-La, sob a invocação de Nossa Senhora de Chiquinquirá, a padroeira da Colômbia.

“Como sabeis, durante um longo período de tempo, essa imagem esteve abandonada, perdeu a cor e se encontrava quebrada e esburacada. Era tratada como um pedaço de saco velho, usada sem qualquer respeito até que acabou entre as coisas descartadas. Foi então que uma mulher simples (chamada, segundo a tradição, Maria Ramos), a primeira devota da Virgem de Chiquinquirá, viu naquela tela algo de diferente. Teve a coragem e a fé de colocar aquela imagem arruinada e quebrada num lugar de destaque, devolvendo-lhe a sua dignidade perdida. Soube encontrar e honrar Maria, segurando o Filho nos seus braços, precisamente naquilo que, para os outros, era desprezível e inútil.”

O Papa Francisco, assim, procurou ilustrar “o exemplo dos humildes e dos que não contam” que conseguem recuperar a dignidade através das mãos de pessoas simples, como as de Maria Ramos, que contemplam a presença de Deus, que se revela com maior nitidez o Mistério do amor de Deus. Além de Maria, a “escrava do Senhor”, o Papa Francisco também pediu uma oração a São Pedro Claver, “o escravo dos negros para sempre”, “caritativo até o heroísmo”.

“Ele esperava os navios que chegavam da África ao principal mercado de escravos no Novo Mundo. Muitas vezes recebia-os apenas com gestos evangelizadores, devido à impossibilidade de comunicar pela diferença das línguas. Mas Pedro Claver sabia que a linguagem da caridade e da misericórdia era entendida por todos. Na verdade, a caridade ajuda a compreender a verdade, e a verdade reclama gestos de caridade. Quando sentia repugnância deles, beijava-lhes as feridas.

Ainda hoje, acrescentou o Papa, “na Colômbia e no mundo, milhões de pessoas são vendidas como escravos, ou então mendigam um pouco de humanidade, uma migalha de ternura, fazem-se ao mar ou metem-se a caminho porque perderam tudo, a começar pela sua dignidade e os seus direitos”.

“Maria de Chiquinquirá e Pedro Claver nos convidam a trabalhar pela dignidade de todos os nossos irmãos, especialmente os pobres e descartados da sociedade, aqueles que estão abandonados, os emigrantes, as vítimas da violência e do tráfico humano. Todos eles têm a sua dignidade, e são imagem viva de Deus. Todos fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e a todos nos sustenta a Virgem nos seus braços como filhos amados.”

Depois da oração mariana do Angelus, o Papa assegurou a sua oração pelos países da América Latina, em particular pela vizinha Venezuela e pela Colômbia. “Expresso a minha proximidade a cada um dos filhos e filhas desta amada nação, e também aos venezuelanos que encontraram guarida nesta terra colombiana. Daqui, desta cidade sede dos direitos humanos, faço apelo para que se rejeite todo o tipo de violência na vida política e se encontre uma solução para a grave crise que se está a viver e afeta a todos, especialmente aos mais pobres e desfavorecidos da sociedade.”

Em seguida, o Papa fez uma visita ao Santuário, onde estavam cerca de 300 expoentes da comunidade afro-americana, que recebem auxílio dos jesuítas. Francisco ainda fez um instante de oração e silêncio perante as relíquias do santo espanhol para depois, de forma privada, encontrar um grupo de representantes da Companhia de Jesus.

O domingo (10/09) do Papa começou cedo. Às 7h20 (horário local), Francisco deixou a Nunciatura Apostólica e se dirigiu ao aeroporto militar de Bogotá. Centenas de milhares de pessoas saudaram o Papa em sua passagem com o papamóvel aberto. A grande multidão dos dois lados das ruas, aclamando o Pontífice, por vezes dificultou a passagem do cortejo papal.

Cartagena das Índias

Cartagena é capital do Departamento de Bolívar e se encontra a 635 km ao norte da capital, no Mar do Caribe. É a quinta maior cidade do país e suas mais importantes atividades econômicas são os complexos marítimos, pesqueiros e petroquímicos, além de ser o principal destino turístico do país.

Ao chegar, depois de 1h30 de voo, o Papa foi recebido por autoridades civis e religiosas, como o arcebispo, Dom Enrique Carvajal. Diante do hangar do aeroporto, foi realizada uma breve apresentação folclórica inspirada no tema ‘dignidade da pessoa’, que marca este último dia de viagem papal em terras colombianas.

A primeira parada de Francisco na cidade de Cartagena foi o bairro São Francisco, onde se situa a Casa para sem-teto da Obra Talitha Kum, uma rede internacional da Vida Consagrada contra o tráfico de pessoas. Na Praça São Francisco de Assis, centenas de pessoas aguardavam o Papa, inclusive muitas meninas assistidas pela Obra que foram recuperadas da escravidão e da prostituição. O Pároco Pe. Elkin Acavedo cumprimentou o Papa, trocando algumas palavras, e Francisco abençoou a pedra fundamental da Casa e fez a seguinte oração: “Bendito sejas, Senhor, Deus de misericórdia, que em teu Filho destes um admirável exemplo de caridade e por Ele nos encomendou vivamente o mandato do amor; colmai de bênçãos estes teus servidores que se dedicam generosamente à ajuda dos irmãos; faz com que, nas necessidades urgentes, te sirvam fielmente com uma entrega total à pessoa do próximo”.

Em seguida, o Papa percorreu alguns metros em papamóvel até entrar na casa de uma senhora, Lorenza, 77, que há mais de 50 anos é voluntária no refeitório da Obra.

 

 

Fonte: Franciscanos

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