Sábado, 26 Novembro 2016 15:15

Formação para Fraternidade: Artigo 6 da Regra da OFS

 

FRANCISCANOS SECULARES:

ANUNCIANDO CRISTO PELA VIDA E PELA PALAVRA

 

 Por: Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

Petrópolis, RJ

             Sepultados e ressuscitados com Cristo no Batismo, que os torna membros vivos da Igreja, e a ela mais fortemente ligados pela Profissão, (os franciscanos seculares) tornem-se testemunhas e instrumentos da sua missão entre os homens, anunciando Cristo pela vida e pela palavra. Inspirados por São Francisco e com ele chamados a restaurar a Igreja, empenhem-se em viver em comunhão plena com o Papa, os Bispos e os Sacerdotes, promovendo um confiante e aberto diálogo de fecundidade e de riqueza apostólica (Regra n. 6).

    Chamados a colaborar na construção da Igreja, como sacramento de salvação para todos os homens, e constituídos pelo Batismo e pela Profissão “testemunhas e instrumentos da sua missão”, os franciscanos seculares anunciam Cristo pela vida e pela palavra.  Seu apostolado preferencial é o testemunho pessoal no ambiente em que vivem e o serviço para a edificação do Reino de Deus nas realidades terrestres(Constituições Gerais art. 17, 1).

 

 Oração de abertura

 Tu sabes, Senhor, sabes de verdade...

Tu sabes, Senhor,

quanto eu tento conciliar o inconciliável,

o interior e o exterior, o de fora e o de dentro,

o silêncio e a ação, 

as trevas de minha vida e

a luz de minha confiança  inquebrantável em ti,

tu bem sabes!

Tu vês que me agito, trabalho,

corro de um lado para o outro,

procuro viver o silêncio ,

sempre buscando meu lugar,

querendo saber onde está o Reino.

Os anos vai passando e não chego a dar um testemunho de ti,

tu bem sabes.

Tu vês o meu ego que renasce incessantemente

e essa chama dirigindo-se para ti e que não se apaga,

nem a alegria de existir e o desejo de tua Vida.

Ao meu coração insaciável concede a paz,

faze um lugar para mim em teus braços,

dá-me um coração puro e um espírito vigilante!

 (Janine Feller. Revista Prier, maio de 1998)

 

Introduzindo

             Em poucas linhas o capítulo sexto da Regra da OFS provoca nossa reflexão em várias direções.   Fala do renascimento do cristão por meio do batismo. Assinala a profissão na OFS como realidade vinculada a esse morrer e renascer do Mistério Pascal.  Os que assim vivem, passam a anunciar Cristo como membros vivos da Igreja. À maneira de Francisco, em união com bispos e sacerdotes são convidados a restaurar a Igreja. O capítulo nos coloca diante da vocação e missão dos franciscanos seculares. Tudo se realiza tendo como pano de fundo a Igreja.  Os membros da OFS  são viçosos quando seu coração bate com o coração da Igreja. Anunciam a ventura de sua fé pela vida e pela palavra.

 

Sepultados e ressuscitados com Cristo pelo Batismo, que os torna membros  vivos da Igreja

             Estamos diante do fundamento e base  da vida cristã. Os que querem ser de Cristo são pessoas que buscam morrer a si mesmas,  descobrem que  sua vida é vida escondida em  Cristo  Jesus. Antes de tudo foram sentindo  um chamamento para o seguimento do Senhor. Não podem deixar de levar em conta o  Batismo como evento e acontecimento  fundamental de seu existir e de sua vida nova.  Morrem e renascem, são sepultados e ressuscitam  com  Cristo.  São inseridos na Páscoa do Senhor, na passagem do  Senhor.

 

            Quando falamos em Páscoa  lembramos do Êxodo do Povo de Deus, da saída do  Egito, terra da opressão,  da passagem do  Mar Vermelho, da travessia do deserto, das tentações, da água que brotou do rochedo, do maná e da entrada na Terra Prometida.  Sabemos que todos esses elementos  são figuras da paixão, morte e ressurreição do Senhor.  Todas essas figuras dão cor ao  Mistério Pascal de Cristo Jesus. Fazem parte de nossa biografia cristã.

 

            Os católicos, em sua maioria, são batizados pouco tempo depois de seu nascimento.  Não vivenciam as riquezas do sacramento que lhes é administrado. Vem à nossa mente aquele tempo na vida da Igreja em que, preferencialmente, eram batizados adultos, pessoas que, conhecendo Cristo Jesus pelo testemunho de comunidades de fé tomavam a resolução de serem iniciados na fé.   Durante um período mais ou menos longo de uma ou três quaresmas eram instruídos, recebiam as noções fundamentais da fé e do estilo de viver dos cristãos. Esses e essas que mergulhavam nas águas do Batismo começavam a fazer parte da Igreja dessa comunidade de fé que nasceu do lado aberto de Cristo no alto da cruz, sua ressurreição e na manhã luminosa de Pentecostes.  Até que ponto os terceiros franciscanos têm consciência de toda a beleza e profundidade de seu Batismo?

             Mistério de morte e vida, união com Cristo morto e ressuscitado!  Os cristãos são homens e  mulheres  da páscoa, da passagem, da morte ao homem velho marcado pela concupiscência,  busca de si mesmo e nascimento do homem novo.  O cristão deixa suas coisas, seus projetos, o  girar em torno de seus interesses, ingressa no processo de conversão e  pode dizer que seu viver é Cristo, uma vida nova.

 

            O texto da Regra fala que os franciscanos seculares se transforam em membros vivos da Igreja.  Ao longo do tempo da vida nada mais têm a fazer a ser senão alimentar essa vida, cultivar um sentimento de rejeição total a tudo o que  mata essa vida, ou seja, o pecado, a vida morna, a vida indiferente. Tudo se realiza na vida no seio da Igreja. Hoje, na era do Papa  Francisco, estamos retomando nosso carinho e grande apreço pela Igreja, uma Igreja profundamente missionária.

 

... a ela mais fortemente ligados pela Profissão

             Os franciscanos seculares são, pois, homens da páscoa. Ingressando Ordem, depois de um tempo razoável de formação,  são levados a fazer a Profissão.  Esta nada mais é do que uma retomada do Batismo. Trata-se de uma decisão celebrada  no seio da Igreja,  resolução de assumir de verdade seus compromissos batismais e viver a vida toda iluminada pela espiritualidade  franciscana.  Essa promessa/profissão é feita por toda a vida.  Não seria o caso de que, por ocasião da Profissão os candidatos e toda a fraternidade  revissem  o sentido de suas vidas de batizados e professos?

 

 ...tornem-se testemunhas e instrumentos da sua missão entre os homens, anunciando Cristo pela vida e pela palavra.

             Vivemos no seio da Igreja.  Não se pode imaginar franciscanos seculares como que acantonados em suas fraternidades, fazendo  suas reuniões e praticando seus rituais.  Os franciscanos seculares são missionários, são pessoas do testemunho e da pastoral, do exemplo e da ação evangelizadora.  Sentem-se muito à vontade com o discurso e as posturas do  Papa Francisco que fala de uma Igreja em saída, que vai buscar as pessoas lá onde elas se encontram, uma Igreja marcada pelo acolhimento, pela compreensão, pela misericórdia.  Muito será feito pela palavra, mas quase tudo pelo testemunho.   

              Neste contexto vale recordar estas palavras do Papa  Francisco: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura   eclesial  se tornem um canal  proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação. A reforma das estruturas, exigidas pela conversão pastoral, só se pode entender  neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas a suas instâncias  seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais  em atitude constante de “saída”, e assim favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade”  (Evangelii  Gaudium, n. 27)

             Os franciscanos seculares são leigos no meio do mundo.  Seu apostolado e sua missão não se resumem às tarefas em torno do altar e dos sacramentos.  Sonhamos com pessoas ardorosas no meio do mundo.  Os franciscanos seculares vivem uma tensão:  querem ir pelo mundo corajosamente, mas sentem saudada do eremitério, da vida de oração.  Espera-se que eles sejam agentes de pastoral com espírito crítico.

            

Inspirados por São Francisco e com ele chamados a restaurar a Igreja, empenhem-se em viver em comunhão com o Papa, os Bispos e os Sacerdotes, promovendo um confiante e aberto  diálogo de fecundidade e de riqueza apostólica.

            Francisco esteve à disposição da Igreja.  Houve uma ação evangelizadora com sua pessoa, suas opões, sua coragem, sua simplicidade e por meio das fraternidades que começaram a se multiplicar: trabalho manual no meio do povo, cuidado e carinho pelos leprosos, pregações em torno da penitência em praças e capelas com a autorização dos bispos, expedição ao Oriente.

 

            O texto da Regra lembra o conhecido episódio ocorrido em São Damião.  O Crucifixo faz um pedido/ordem a Francisco: Francisco, vai e restaura a minha Igreja que,  como vês está em ruína.  Como se efetuará esse “restaurar” da Igreja pelos franciscanos?

 

·         Antes de mais nada restaura-se  a Igreja pela vida dos franciscanos,  sejam eles da Ordem I ou Ordem III, uma vida marcadamente evangélica.  A ação pastoral depende de franciscanos revestidos do espírito da Boa Nova.  Os franciscanos, como Francisco, reescrevem o Evangelho em suas vidas.  Importante a qualidade dos retiros, na oração na reunião, da leitura espiritual, do exame de consciência.

·         Há um engajamento na paróquia que se fará com critério. Não podemos ser coniventes com uma  pastoral apenas conservadora e sacramentalista.  O Papa Francisco quer uma Igreja acolhedora, em saída,  buscando os mais abandonados.  Trabalhar na paróquia sem perder a identidade franciscana.  Trabalhar com competência e não improvisar.  “Promova-se  nas Fraternidades a preparação dos irmãos  para a difusão da mensagem evangélica  nas comuns condições do século e para a colaboração na catequese nas comunidades eclesiais (Constituições Gerais da OFS  art 17, 2).

 

·          Algumas características de uma pastoral  desejada pelo Papa e também com marca franciscana: prática pastoral reagindo contra o consumismo, nada de conservar o que já devia ter sido deixado de lado, criar e multiplicar grupos fraternos,  levando as pessoas a ter gosto pela simplicidade,   cuidado pela casa comum, pastoral e contato sem imposições, intransigências e condenações;  desenvolver  reflexões em reação à dinâmica do provisório, do descartável, do  imediatismo, do hedonismo, atingir preferencialmente famílias,  criar espaços de oração e de meditação.

 

·         Voltamos a citar as orientações das Constituições Gerais:  “Os que são chamados a desempenhar a missão de catequistas, de dirigentes da comunidades eclesiais  ou outros ministérios, bem como os ministros sagrados, apropriem-se  do amor de Francisco pela   Palavra de Deus, da sua fé naqueles que a anunciam  e do grande fervor que ele recebeu do Papa  a missão de pregar a penitência “ (art. 17,3).

 

Questões:

 

·         O que mais chamou sua atenção na leitura deste artigo?

·         Como poderíamos ajudar os irmãos da Fraternidade a valorizar seu Batismo e sua Profissão?

·         O que vocês entendem pela expressão Mistério Pascal aplicado à nossa vida cristã e à vida franciscana?

·         Na pastoral e evangelização como fazer com que as pessoas tenham atração por  Cristo?

·         Como leigos e franciscanos o que nos cabe fazer para “restaurar a Igreja”?

 

 Oração/texto de conclusão

 

 O Espírito Santo, sopro vital da Igreja

 Sem o Espirito Santo, Deus se faz distância,

o Cristo permanece no passado,

o Evangelho é letra morta,

a  Igreja, uma simples organização, 

a autoridade, uma dominação,

a missão, uma propaganda,

o culto, uma evocação,

o agir cristãos uma moral de escravo.

 

Mas nele: o cosmos é soerguido e geme na parturição do  Reino, 

Cristo Jesus se faz presente,

o Evangelho é dinamismo de vida,

a Igreja significa comunhão trinitária, 

a autoridade é um serviço libertador, 

a missão é um Pentecostes, 

a liturgia é memorial  e antecipação

e o agir humano é deificado.

 

(Atenágoras, patriarca ortodoxo de Constantinopla)


 

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