Os franciscanos seculares, portanto, procurem a pessoa vivente e operante do Cristo nos Irmãos, na Sagrada Escritura, na Igreja e nas Ações Litúrgicas. A fé de São Francisco, que ditou estas palavras: “Nada vejo corporalmente neste mundo do altíssimo Filho de Deus, senão o seu santíssimo corpo e o santíssimo Sangue”, seja para eles a inspiração e o caminho da sua vida eucarística.
TEMA: DEUS ESTÁ INTIMAMENTE MISTURADO COM NOSSA HISTÓRIA
Oração Inicial: Fazei brilhar o vosso Rosto (Teilhard de Chardin)
“Meu Deus,
fazei brilhar para mim, na vida do outro,
o vosso Rosto.
Essa luz irresistível do vosso olhar,
acesa no fundo das coisas,
já me lançou em toda a obra a empreender
e em todo o trabalho a sofrer.
Concedei-me,
o favor de vos ver,
mesmo e sobretudo,
no mais íntimo, no mais perfeito,
no mais remoto da alma dos meus irmãos”.
Amém.
“Deus está intimamente misturado com a história do homem que, no final, o homem é feito partícipe da glória de Deus. E isso começa desde agora, sob nossos olhos”. (A Béguin, L’Osservatore Romano, 02/04/1980)
Nossa Regra é constituída, todos sabemos, de três Capítulos e um total de vinte e seis Artigos. Para que? Simplesmente para memorizarmos e os citarmos em determinadas ocasiões, seja em encontros formativos ou reuniões em nossa Fraternidade? Que sabemos sobre cada artigo e o que está misteriosa e maravilhosamente guardado nas entrelinhas?
O Artigo 5º, de nossa Regra nos indica, de modo claro, como encontrarmos Jesus Cristo, como vivenciarmos esse encontro, o que extrair dele para nossa caminhada como franciscanos seculares.
Começa nos mostrando que precisamos buscar a pessoa vivente e operante de Cristo, ou seja, o Cristo vivo, que age. Isso sabemos fazer parte da fé que proclamamos. Mas, Cristo não está conosco fisicamente. Mas, acreditamos que Ele está conosco. Mas, mas, mas ... Mas nossa Regra nos diz como encontrá-lo:
Primeiro remete aos irmãos. Em qual deles? Naquele que nos acolhe, nos dias bons e santos, nos aconselha e incentiva, nos apoia e auxilia? Claro! Neles está Jesus e neles O encontramos. De que maneira? Ora, nesses irmãos encontramos o coração de Jesus cheio de compaixão e misericórdia, os olhos de Jesus plenos de ternura, os braços de Jesus estendidos num convite amoroso, a escuta paciente de nossas dificuldades, suas palavras amigas, a sabedoria do Mestre Jesus em cada conselho. Sentimo-nos carinhosamente abraçados e protegidos.
Isso é imensamente grato quando somos capazes de percebê-lo. Aquece nosso coração, alegra nossa alma, clareia nosso caminho, nos impulsiona a também amar, acolher, escutar e espalhar a notícia dessa descoberta.
Mas, aí vem outro “mas”: E aqueles irmãos que nos evitam, nos machucam, nos agridem com palavras amargas e até grosseiras, falam mal de nós, ou pior, são indiferentes? Como encontrar neles o Senhor?
Jesus mesmo nos responde no Evangelho segundo João 15,9.12.17: 9Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. 12Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. 17O que vos mando é que vos ameis uns aos outros”.
E o Beato João Paulo II diz: “é desta palavra do Senhor que depende a nossa credibilidade de cristãos”.
Então, irmãos, este é o nosso ponto de partida para encontrar Jesus no irmão que nos aponta o dedo, muitas vezes com revolta ou naquele que nos dá as costas: O AMOR.
Bom. É fácil dizer “eu te amo”. Se é fácil, vamos dizê-lo. E não só dizê-lo, mas amar de verdade.
Cá pra nós, gostamos de ser reconhecidos e apesar de nossos esforços, sempre fica um “que” de vontade de ser “vistos”. E por isso, ocupados conosco mesmos, deixamos de perceber a carência, a dúvida, o desencanto, o sentimento de desamparo e a tristeza de nossos irmãos, que se traduz em palavras ásperas, atitudes negativas, distância, incompreensão e, infelizmente, algumas vezes o afastamento da Fraternidade e até da Ordem.
É o grito de Jesus desfigurado para o acolhermos, entendermos, escutarmos, ajudarmos. É Jesus nos convidando a abraçar sua Cruz, abraçando a cruz do irmão, nos tornando cireneus, nos aproximando mais até ficarmos juntinhos do irmão, valorizando sua pessoa, fazendo-o sentir que seu sofrimento é também nosso e que ele não está sozinho.
Este encontro com o Senhor desfigurado, Francisco o fez com o leproso que lançava sobre ele e seus companheiros, palavras ásperas, de revolta, brandindo o chicote e gritando blasfêmias contra Cristo. O que fez Francisco?
Escutou-o pacientemente, colocou-se a seu serviço, lavou seu corpo chagado e fétido com água e ervas aromáticas, rezou por ele, curando seu corpo e sua alma (Atos do bem aventurado Francisco e seus companheiros, 28). Imitemos São Francisco agindo como ele agiu, por amor a Cristo.
O Artigo 5º também nos manda procurar o Cristo nas Sagradas Escrituras, Carta Magna de Deus para o homem, onde está contido o segredo de seu coração amoroso e desvendado o mistério de seu Amor. Aí podemos chegar bem pertinho do coração de Deus, conduzidos por nossa Mãe Santíssima, São José, os Apóstolos e ajudados por São Francisco, Santa Clara e tantos outros santos que O encontraram e seguiram fielmente.
Os irmãos que recebemos da bondade do Senhor também nos conduzem até o encontro pessoal com o Mestre e Senhor, com sua experiência fraterna, com o testemunho de seu amor, pela Palavra, com a vivência concreta dessa Palavra.
“Deus está intimamente misturado com a história do homem, dissemos no início”.
Observemos este mês especial, em que celebramos Nossa Senhora dos Anjos, o oitavo centenário do Perdão de Assis, Santa Clara, nosso Patrono São Luís de França; o mês vocacional com destaque para o sacerdócio, o matrimônio, a consagração religiosa, a família; e, ainda este ano, o grandíssimo evento do XVII Congresso Eucarístico Nacional (15 a 21/08) em Belém, mês em que também se comemora o quarto centenário de sua fundação e do início da Evangelização na Amazônia!
Quanta maravilha o Senhor inventa para que possamos encontrar com Ele! Deus está conosco, está no meio de nós e em cada um de nós. Podemos, então, encontrá-lo na Liturgia das Horas, quando rezamos com toda sua Igreja; podemos encontrá-lo em nossas casas, na recitação do Rosário, no diálogo amoroso com nossos familiares, em nossos colegas de trabalho, em nossos momentos de lazer, na grandeza e beleza da criação.
O Artigo 5º manda também buscá-lo nas ações litúrgicas e, entre elas privilegia a vida Eucarística. Nela, cada cristão, cada franciscano secular descobre de modo singular a intimidade esponsal com Jesus e por isso anseia diariamente participar da Santa Missa, alimentar-se do Cristo Eucarístico e, como fruto, busca tornar-se eucaristia para os irmãos.
Frei Alberto Beckhäuser, ofm, em seu livro “A Espiritualidade do Franciscano Secular – Exemplo e Proposta de Francisco de Assis”, fala da compreensão da Eucaristia, que torna o homem livre, desapegado como Jesus Cristo e desprende-o dos bens que o impedem em sua caminhada para Deus, fazendo-o capaz de ser fraterno, menor e assim ir ao encontro do outro e serví-lo.
Nosso saudoso Frei José Carlos Pedroso, ofmcap, em seu livro “Olhos do Espírito”, diz que: “Nossa vida tem uma história: ela é um caminho. E é muito importante que cada um de nós tenha consciência do caminho que está fazendo.”
Esse caminho começa na estrada que segue para dentro de nós, para nossa interioridade, onde estamos juntos - só nós e o Cristo – e só depois do encontro com Ele, de ouvi-lo e experimentar sua misericordiosa presença, podemos fazer o caminho de saída de nós mesmos para encontrar Jesus que está no irmão.
Deus está intimamente misturado com nossa história!
Oração Final (cantada):
Senhor, fazei-me instrumento de vossa Paz.
Ação Concreta:
Procurar o irmão que nos feriu; pedir perdão por não tê-lo compreendido; escutá-lo com paciência e humildade, restaurando a fraternidade perdida. Rezar juntos, buscando encontrar o Senhor, um no coração do outro.