Sábado, 19 Abril 2014 21:31

Sábado Santo: O Rei dorme

19  de abril de 2014- Sábado Santo

 

O REI DORME

 

            Este é o sábado santo. Não é o sábado de aleluia.  Neste dia cessam os ruídos, a fala se torna quase imperceptível.  Tudo se reveste de silêncio.  Nós, os discípulos, nos revestimos de sentimentos de gratidão pela vida, paixão e morte do  mais belo dos filhos dos homens.  De alguma forma,  atualizamos o abandono do Senhor na morte. Sábado santo, dia de silêncio e de recolhimento. A Igreja não celebra liturgia alguma.   A cruz está vazia.  Jesus foi colocado num sepulcro novo, num jardim.

 

“A liturgia determina que passemos o dia inteiro ao pé da sepultura de Cristo morto.  E assim nos faz entrar em nosso próprio túmulo, na profundidade de nossa alma, de modo a nos tornarmos um com a essência de nosso ser, com as raízes de nossa vida. Cristo não só morreu a nossa morte, como também passou três dias morto. Nada podia fazer, nada sentir;  desprovido de vida, estava incomunicável.  No túmulo, Cristo experimentou  a  morte como uma solidão radical, a que nenhuma palavra de amor tinha acesso.  O Sábado santo quer nos dizer:  Cristo introduziu-se em nossa solidão, no frio e na rigidez de nossa vida. E lá,  onde antes a morte imperava, agora seu amor reside. Ali, onde  somos desligados da vida. Ele nos alcança com sua palavra de amor” ( Grün/Reepen, O ano litúrgico como ritmo de uma vida plena de sentido,  Vozes,  p. 63-64).

            “Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra.  Um grande silêncio e uma grande solidão. Grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou na mansão dos mortos.

            Vai, antes de tudo, à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos.  O Senhor entrou  onde estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”.  E Cristo respondeu a Adão:  “E com o teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre  os mortos, e Cristo te iluminará”.

            “Eu sou o teu  Deus que, por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: “Saí!” E aos que jaziam nas trevas: “Vinde para a luz!”; e aos entorpecidos: “Levantai-vos!”  (...).

            Por ti, eu, teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor tomei a condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra;  por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos.  Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim, fui entregue aos judeus e, num jardim, crucificado”. (De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo)

Frei Almir Ribeiro Guimarães

Ler 3244 vezes
© 2016 - Ordem Franciscana Secular do Brasil.
Edifício Darke, na Av. Treze de Maio, 23, Salas 2232 a 2234 - Centro, Rio de Janeiro - RJ, CEP 20031-007
Fone: (21) 3172-4789 ou (21) 99785-8960 (WhatsApp)
Email: ofsbr@terra.com.br