Os franciscanos seculares conhecem bem o “irmão” Paulo. Os petropolitanos, por sua vez, ao se referirem a ele o designam de “professor Paulo Machado”. Está página é uma manifestação de carinho a um dos mais franciscanos entre os franciscanos. Isto é para começo de conversa.
No dia 17 de maio de 2017 Paulo Machado da Costa e Silva, comemorou festivamente seu centenário de vida numa bela celebração na Igreja do Sagrado Coração de Jesus e na Casa da Ordem Franciscana Secular, em Petrópolis. Familiares, amigos da cidade, muitos irmãos e muitas irmãs da Ordem Franciscana encheram o templo da rua Montecaseros. Um digno cidadão, uma pessoa de Deus, um filho carinhoso de Maria e um irmão franciscano, assim é Paulo Machado. Houve discursos, cantos, aplausos, expressões de gratidão, emoção. O mês de maio em Petrópolis ficou mais bonito e a rua Montecaseros não cabia em si de tanta alegria. Faltaram bandeirinhas e uma banda de música!
Paulo não vive mais em seu apartamento no Edifício Cinda, na rua do Imperador, perto do Colégio Santa Isabel. Há algum tempo ele precisou recolher-se a um Lar de Idosos no Distrito de Itaipava, na Casa dos Irmãos de São João de Deus. Numa tarde de setembro recebi o convite de um terceiro franciscano para visitar o Irmão Paulo já com 100 anos e quatro meses.
Ele passou a viver num quarto asseado e claro com as coisas necessárias para uma vida digna. Lá chegando encontrei Paulo com as vistas marcadas pelos anos, os pés inchados, muito bem vestido com um terno cinza e uma camisa social sem graveta. Dizendo-se cansado, ouvindo com aparelho, respondendo com voz forte, lembrando-se de tudo. Aceitei o convite para a visita também porque queria ainda uma vez administrar-lhe o sacramento da unção dos enfermos. Antes falamos sobre as catástrofes políticas brasileiras, os processos, as condenações, a função do Procurador Geral da República, da Polícia Federal, do Ministério Público. Sobre cada um desses itens ele deu um sucinto e preciso resumo. Evocamos passagens da história: o tempo do governo Eurico Gaspar Dutra, da influência que exercia a primeira dama Carmela Dutra, o tempo de Brasília, do governo Juscelino, da construção da capital no Planalto. Lembramos que nosso Hotel Quitandinha no idos de 1940 recebia a fina flor das artes de Hollywood. Uma conversa amistosa…
Ali estava um pai de família extremado, professor de português e de história, vereador, advogado, assessor da Câmara Municipal, sobretudo um homem reto, um ser humano límpido e transparente, um cristão, um devoto profundo de Maria e honra da Família Franciscana de modo especial dos franciscanos seculares. Exerceu cargos na OFS em muitos escalões. Foi colaborador na redação da preciosa Regra dos terceiros aprovada por Paulo VI em junho de 1978. Um homem que concretizava o ideal do cristão leigo franciscano vivendo no mundo e sempre com o coração a dizer que ele precisava ser contemplativo. Um contemplativo na ação. Nos últimos anos andou se despojando de tudo e passou a viver apenas com o estrito necessário.
Sobre uma cadeira do quarto havia um exemplar do jornal “O Globo” com notícias a respeito de Palocci, Janot e a Lava-Jato. Um homem que se interessa, aos 100 anos, pela vida e pelo que acontece no mundo. Um homem que recebia com gratidão e alegria, uma vez mais o sacramento da unção dos enfermos. Um leigo cristão…
Depois de uma visita de perto de uma hora deixamos o quarto do “professor”. Ficou em Itaipava aquele gigante com o corpo alquebrado, as pernas inchadas, a dificuldade de ouvir e de enxergar, vestido com um terno, uma camisa sem gravata e respirando uma imensa dignidade através do irmão corpo.
Foi uma visita que fizemos ao irmão Paulo Machado da Costa e Silva, honra da Família Franciscana e da Ordem Secular inventada por Francisco de Assis.
Fonte: Franciscanos