Sexta, 15 Março 2019 14:22

Diálogo entre as gerações: “Ó mestre, que eu procure mais compreender do que ser compreendido”

O diálogo é fundamental para o bom desenvolvimento, seja do indivíduo, das famílias, das culturas, das comunidades, seja das religiões e, também, entre as nações e países. O diálogo é uma virtude na espiritualidade franciscana. Frei Vitório Mazzuco descreve que, no diálogo, através da palavra, da comunicação, da fala e da escuta, entramos no mundo das ideias, num intercâmbio de compreensão. São a fala e a escuta que nos permitem atravessar os nossos medos. E saber silenciar. Os corretos falar e pensar tem muito a ver com o silenciar.

Em outubro de 2018, a Igreja vivenciou um momento de reflexão e escuta junto aos jovens de vários países. Isso ocorreu com a realização do Sínodo dos Bispos, que teve como temática: “Jovens, Fé e Discernimento Vocacional”. Dentro do Sínodo, o Papa Francisco observou o chamado da Igreja para favorecer o encontro entre dois importantes períodos da vida: juventude e velhice, o encontro entre as relações intergeracionais. Esse encontro significa que as comunidades possuem uma memória coletiva, ou seja, “cada geração retoma os ensinamentos de seus predecessores, deixando uma herança aos seus sucessores. Deste modo, se forma um quadro de referências para consolidar, com firmeza, uma sociedade no mundo de hoje”.

No entanto, percebemos em nossa sociedade a cultura do descarte, onde o idoso já não mais chamado a contribuir. Muitas vezes são ignorados em seu potencial e sabedoria. A cultura do descarte, que usa e joga fora, é uma das formas do individualismo, num mercado de aparência e competição, cujo preço pode ser pisar na cabeça dos outros.

Contra o abismo entre as gerações, que aos olhos do mundo parece irrecuperável, a resposta para enfrentar o presente é o diálogo construtivo entre jovens, adultos e idosos. A partir desta inspiração o Papa Francisco apresentou o livro “A Sabedoria do Tempo” (2018), onde velhos falam aos jovens sobre os grandes temas da existência, sobre a importância do trabalho, a capacidade de lutar e de não se render diante das dificuldades, pensar no amor e na esperança. Isso anima os/as jovens para que estes vejam com olhos do coração, com audácia e profundidade, não na superfície. Como disse Dom Hélder Câmera: “bem aventurados os que sonham, porque levarão esperança a muitos corações e correrão o risco de ver seus sonhos realizados”.

Atualmente, enfrentamos guerras e conflitos em vários lugares do mundo. Falta humanidade, crescem a violência, o ódio e as divisões entre culturas e tribos, deformam as religiões, utilizando o nome de Deus. Um descaso e descuido com a casa comum, a mãe Terra. Trilhamos um caminho de destruição. No entanto não podemos nos acomodar ou apenas nos entristecer. Ao contrário, precisamos resistir e nos fortalecer com a palavra do Senhor e em fraternidade. A cultura do encontro é a única maneira para promover avanço na vida dos povos e promover o bem comum, “revitalizando o pensamento e a vida, frente à desilusão e o desencanto que invadem os corações e saltam para o mundo” (Bento XVI).

"Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade." (Papa Francisco)

Com esse tema, finalizo o triênio imensamente agradecida ao Senhor pela vocação franciscana, pelo sustento e pela perseverança. Pela possibilidade de, nas minhas limitações, aprender e favorecer o diálogo fraterno entre JUFRA e OFS, entre OFS e JUFRA. Deixo uma mensagem para os/as jovens: Tenham esperança no futuro e lutem por isso! O Senhor está sempre conosco, inspirando, ensinando e fortalecendo. Levem vida e recebam vida de outros/as jovens, dos mais velhos, dos seus pais e mães, dos irmãos e irmãs da OFS, dos freis, de todos com os quais se relacionarem.

Para a OFS, que celebra os 35 anos do Acordo de Anápolis, momento forte para as mútuas relações OFS e JUFRA, afirmo: devemos criar pontes e não muros, ofertando nosso testemunho e sonhos, recebendo a força e ânimo da juventude. E assim como fez nosso pai seráfico São Francisco, comecemos, pois ainda temos feito pouco! Paz e bem!

“Contra esta cultura que destrói os sentimentos, o serviço é servir. Assim você poderá ver que pessoas mais amadurecidas, os jovens mais amadurecidos – amadurecidos no sentido de desenvolvidos, seguros de si mesmos, sorridentes, com senso de humor – são aqueles que vão adiante, a caminho, com o serviço. E outra coisa: que arriscam. Se você não arrisca na sua vida, nunca, nunca estará amadurecido, jamais poderá fazer uma previsão, apenas a ilusão de receber, para se sentir seguro.” (Papa Francisco) 

 

Maria Aparecida Brito, OFS

Animação Fraterna Nacional - Triênio 2016-2019

 

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