Em algum momento ou situação na vida atravessamos crises. A crise pode ser na vida pessoal, espiritual, profissional, familiar, social, econômica, ambiental ou mesmo na fraternidade. A origem da palavra significa fase de mudança ou momento difícil. Quem nunca passou por uma crise, pode estar certo que passará. Lembro do evangelho de Marcos (4,35-41) onde os discípulos ao passarem por uma tempestade, ficaram com muito medo e acordaram Jesus. Ele fez com que a tempestade cessasse e admoestou aos discípulos: Vocês ainda não tem fé?
Neste mês de outubro, estamos nos aproximando das eleições estaduais e federais, embargada em meio as tempestades do ataque a democracia, aos direitos, o aumento das desigualdades, fome, desemprego, conflitos mediáticos, sociais e partidários, corrupção, violências e mortes. Parece que estamos perdidos, não tem saída? Nesse momento, é preciso lembrar que essa não é a primeira crise e não será a última. Porém, quais os fatores da crise? O que estamos aprendendo com ela? Como estamos enfrentando? Estimulamos a divisão e violência nos conflitos? Conseguimos pensar mais e além das informações que nos chegam? Pensar além dos nossos próprios interesses? Sim, a crise, pode gerar conflitos entre posições ou pensamentos diferentes, “cada um pensa a partir do chão que pisa”.
Sair da crise é o que mais se deseja, seja ela uma crise interna ou externa. Imagino a crise de fé dos apóstolos ao verem seu Mestre Jesus sendo crucificado e morto. Angústias, medo, aquela sensação do meu chão caiu, para onde vou? No entanto, Jesus estava logo caminhando junto com eles, a caminho de Emaús e permaneceu mesmo na noite, ou seja, nos momentos de escuridão, pois ele ressuscitou. A superação da crise pede com toda certeza uma força espiritual, um discernimento autêntico, as vezes doloroso. Pede oração, partilha, fé, escuta, por se a caminho e coração aberto, você sentia o coração arder quando Ele nos falava?
Somos herdeiros de um carisma muito forte e significativo para os dias atuais. Herdamos a harmonia da integralidade do ser, somos todos criaturas de Deus. Quando passamos por uma crise, não é apenas uma dimensão em nosso ser que passa, está interligada. A crise ambiental por exemplo, a relação que fazemos do uso do descartável. Descarta-se também as pessoas, os imigrantes, as relações afetivas, o cuidado com nosso corpo, nossa alimentação.
Como disse frei Vitório Mazzuco, OFM “defender o que é justo, não é ser inimigo”, ou seja, podemos apresentar posições diferentes, mas nada adianta fazer guerra e maturar ódio. Uma vez que nossas experiências já mostraram que ódio, só traz mais guerra, mas violência. Então se você é a favor da posse de arma, reflita mais o chão franciscano e evangélico que está pisando? Franciscano é aquele que tem em primeiro lugar o Cristo, que está em tudo criado, que está no outro, e prioritariamente nos pobres. Sim, temos nosso ponto de partida, a partir do que Francisco e Clara nos inspiraram. Papa Francisco nos alerta o tempo todo, não é possível viver numa vida dupla. O Evangelho autêntico em nós transforma a nossa alma, espírito e corpo, ou seja, é integral, não uma parte. Que nos festejos de São Francisco possamos pedir a ele a graça de sermos íntegros em nosso carisma.
Ainda no mês de outubro acontecerá o Sínodo dos Bispos com o tema "Juventude, Fé e Discernimento Vocacional". É evidente que a igreja precisa preocupar-se e acompanhar os jovens. É preciso ouvi-los, suas inquietações, proporcionar oportunidades, refletir e aprender juntos, partilhar e testemunhar experiências. Acompanhar os jovens em seu percurso de discernimento nesta “mudança de época”. Todos um dia fomos jovens, é uma fase importante da vida que faz crescer, maturar, experienciar o mundo e seu contexto. Mas também é uma fase afetada diretamente pelas crises, seja porque precisam mesmo passar por elas, seja porque são impostas e as vezes colhem o que outros plantaram. Papa Francisco insistentemente comunica aos jovens, coragem, coragem, não se acomodem, não sejam jovens de sofá, sonhem sonhos mais altos, nadem contra a corrente. Pois são os jovens que irão fazer e fazem a diferença, mas qual a disposição do jovem de hoje que faz o presente e fará o futuro? Qual a abertura e acolhimento que os jovens recebem?
No último Capítulo Nacional e Eletivo realizado na cidade de Salvador/BA, com o tema Franciscanos Seculares, protagonista de uma Igreja em Saída e o lema a partir do artigo 6º da Regra - Anunciando Cristo pela vida e pela palavra, a Ordem Franciscana Secular reafirmou seu compromisso de estar aberta e disposta ao compromisso de testemunhar e acompanhar os jovens no caminho evangélico de vida. Uma vez que essa relação transforma, renasce, desenvolve, frutifica e multiplica a semente do carisma no/a franciscano/a e no/a jovem franciscano/a secular, contaminando ao redor com a mensagem do Evangelho. Celebramos nossos 40 anos da regra renovada e logo mais será os 800 anos, rogamos ao Pai que nos preencha do Espírito Santo para prosseguirmos perseverante no caminho, em nossas crises, perguntas e inquietações, em nosso pensar e agir autênticos e íntegros. Que sejamos suas testemunhas!
Maria Aparecida Brito, OFS
Animadora Fraterna Nacional