Quarta, 10 Outubro 2018 03:56

Cultivar o Espírito Fraterno

 

Falar de fraternidade para nós que somos franciscanos seculares é vital, pois, não é possível viver o carisma e a vocação sem vivenciar o "ser fraterno”. É um exercício para toda vida, está intrínseco a nós o “espírito fraterno”. Porém, este espírito necessita de muito cuidado, cultivo, perseverança, humildade, oração e a graça de Deus. Afinal, foi o próprio filho de Deus, Jesus Cristo, crucificado e ressuscitado que nos uniu como irmãos nessa família espiritual. Podemos dizer que viver a fraternidade é um desafio constante, mesmo para aqueles que já possuem anos de profissão e “experiência”.

Temos uma dimensão humana da fraternidade que se caracteriza por um comportamento amigável com os outros: evitando brigas, intrigas, compreendendo os outros (C.A.F, 2015). E uma dimensão espiritual que nos impele um olhar, agir e amar como Cristo nos ensinou. Aspirando à fraternidade universal que abrange toda a criação e não termina aqui, mas como na oração da fraternidade afirmamos que “estará começando o caminho que termina no céu”.

Em contrapartida, vemos uma sociedade onde cresce o individualismo, consumismo, a indiferença, o preconceito e a intolerância. Uma sociedade “doente”, que nos provoca a agirmos contrários ao carisma, contrários ao próprio evangelho. Nesse momento que precisamos reafirmar nossa identidade de franciscanos, a fraternidade, o “espírito fraterno”. Por vezes o Papa Francisco observa: “Por isso, Jesus pedia ao Pai, naquela ceia: Pai, não te peço que os tire do mundo, mas que os proteja do mundo”, desta mentalidade, deste humanismo que vem tomar o lugar do homem verdadeiro, Jesus Cristo, que vem nos tirar a identidade cristã e nos leva ao pensamento único: ‘Todos fazem assim, por que nós não?’. Nesses tempos, isso nos deve questionar: como é a minha identidade? É cristã ou mundana? Ou me declaro cristão porque quando criança fui batizado ou nasci num país cristão? A mundanidade que entra lentamente, cresce, se justifica e contagia: cresce como raiz, se justifica – ‘mas façamos como todos, não somos tão diferentes’.

É muito importante destacar que na animação fraterna o irmão ou irmã nomeado (a) para acompanhar os jovens represente toda fraternidade a qual pertence, ou seja, a missão de apontar aos jovens esse “ser fraterno” dentro do carisma franciscano, não é apenas dele (a), mas é incumbida a toda fraternidade. Logo, os jovens precisam ver em nossas fraternidades de OFS, irmãos e irmãs que lutam por esse “espírito fraterno”, se esforçam por cultivá-lo, mesmo dentro de suas limitações, que não são poucas. Sabemos que é um desafio, por vezes vemos situações na qual não testemunhamos a fraternidade. Não assumimos a vocação e a regra que nos pede constante conversão e vida evangélica. Temos dificuldade de partilhar nossos dons na fraternidade, vivendo situações de incoerência, mundanidade ou negligência.

Isso pode acontecer a qualquer tempo e com qualquer um de nós, pois somos limitados, pecadores, e o caminho é longo. No entanto é essencial que os jovens percebam uma perseverança na busca de superar essas situações, e temos certeza que os jovens percebem. Assim como numa família, os filhos sentem que os pais não estão bem ou estão com dificuldades. Quando vemos falar que determinado regional ou fraternidade local de juventude franciscana está em crise, ao aproximarmos, geralmente a situação vem acompanhada também de uma fraternidade de OFS que não caminha bem. Isso não é norma geral, mas é algo para refletirmos. Lembrando que nas fraternidades de Jufra, os jovens estão descobrindo e enfrentando os desafios de uma vida fraterna, em conjunto com seus dilemas de juventude e sociedade. Buscando cultivar o “espírito fraterno”, o ideal franciscano de vida, dentro do seu processo formativo: humano, cristão e franciscano.

Algumas práticas são necessárias para exercitarmos nosso “espírito fraterno” como cultivar uma formação em nossas fraternidades na qual haja valorização da partilha entre os irmãos e não apenas como um “grupo que se encontra”, mas alimentando a identidade franciscana e cristã... “vejam como eles se amam”. Revisar a vida e vocação, buscando uma espiritualidade e sintonia com o interior e o exterior de cada um(a), sem máscaras ou fingimento. Afinal, é muito difícil que haja um “espírito fraterno” onde não se cultiva uma boa espiritualidade franciscana. Além de fomentar a alegria de estar com irmãos em fraternidade “E onde quer que os irmãos estiverem e se encontraremtratem uns aos outros como membros de uma só família” (R.B 6,7).

Nessa dimensão, ser animador(a) fraterno(a) junto a OFS e a JUFRA é ser privilegiado(a), pois pode enriquecer-se em reciprocidade se viver intensamente essa missão. Cultivando em si e partilhando com os demais essa graça do “espírito fraterno”. Que o Senhor no dê a graça de cultivar, vivenciar e testemunhar esse carisma.  

 

Maria Aparecida Brito, OFS

Animadora Fraterna Nacional

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