Paz e bem, irmãs e irmãos da OFS do Brasil!

É com grande alegria que o Conselho Nacional da OFS, a partir da Coordenação de Comunicação, lança seu novo projeto, intitulado “OFS e o Espelho da Perfeição”, que apresentará uma série de reflexões promovidas por convidados sobre os capítulos desta parte de nossas fontes.

Este projeto se inicia dentro do “recente” contexto da inserção da Comunicação como parte da Equipe de Formação. Desse modo, não podemos pensar no serviço da comunicação apenas como um “replicador de notícias”. Propõe-se então que sua atuação seja criativa e integrada aos demais serviços, nos levando à reflexão e ao aprofundamento no nosso carisma de variados modos.

Assim, neste projeto, apresentaremos os capítulos do Espelho da Perfeição e, a cada um deles, teremos um convidado que fará uma conexão entre o texto e nossa realidade enquanto franciscanos seculares, nos provocando a pensar na nossa vivência pessoal e em fraternidade.

Esperamos que aproveitem e que façam chegar a todos os irmãos da nossa Ordem! Paz e bem!

Márcio Bernardo – Coordenador de Comunicação

 

 

ESPELHO DE PERFEIÇÃO (EP)

PRÓLOGO

Aqui começa o Espelho de Perfeição do Frade Menor

CAPÍTULO I

Como S. Francisco respondeu a alguns ministros que não queriam observar a Regra que ele andava a escrever

1 Tendo-se extraviado a segunda Regra redigida por São Francisco, este, acompanhado de Fr. Leão e de Fr. Bonifácio de Bolonha, subiu a um monte com a finalidade de fazer outra Regra. E mandou-a escrever na forma que Cristo lhe inspirou.

2 Mas alguns ministros reuniram-se à volta de Fr. Elias, que era Vigário de S. Francisco, e disseram-lhe: «Ouvimos dizer que Fr. Francisco anda a escrever uma nova Regra e nós receamos que ele a faça tão rigorosa que não possamos observá-la. 3 Queremos, pois, que vás ter com ele e lhe digas que recusamos sujeitar-nos a esta nova Regra. Que a faça para ele, não para nós».

4 A isto respondeu Fr. Elias que não se atrevia a ir, pois receava uma forte reprimenda de Fr. Francisco. Mas os ministros tanto apertaram com ele que resolveu ir, desde que o acompanhassem. Então foram todos juntos. 5 Chegando ao lugar em que se encontrava S. Francisco, Fr. Elias chamou por ele. Ao ver os ministros, o santo perguntou: «O que é que querem estes meus frades?» 6 Logo Fr. Elias se explicou: «Estes frades são ministros que, ao ouvirem dizer que tencionas fazer nova Regra e receosos de que a faças ainda mais apertada do que as anteriores, dizem e protestam que não se querem obrigar a ela e que a faças para ti e não para eles».

7 Então S. Francisco voltou o rosto para o céu e falou assim com o Senhor: «Senhor, não te dizia eu que eles não me acreditariam?»

8 Naquele momento, todos ouviram a voz de Cristo, que lhes falava do céu: «Francisco, nada há na Regra que seja teu, mas tudo quanto nela se encontra a Mim pertence; quero que esta Regra seja observada à letra, à letra, à letra, sem glosa, sem glosa, sem glosa». 9 E acrescentou: «Eu sei de quanto é capaz a fragilidade humana e sei também quanto posso ajudar-vos. Aqueles que não quiserem observar a Regra saiam da Ordem». 10 Então S. Francisco voltou-se para os ministros e disse-lhes: «Ouvistes? Ouvistes? Ou quereis que vo-lo faça repetir?» Os ministros, reconhecendo a sua culpa, retiraram-se confusos e temerosos.

Reflexão 

O primeiro capítulo do Espelho da Perfeição recebe como título: “S. Francisco respondeu a alguns ministros que não queriam observar a Regra que ele andava a escrever”. Esse é o sinal de que algo ia errado na Ordem. Mas o que isso tem a ver com nossa vida Franciscana Secular?

Segundo esta Legenda, alguns ministros foram até Fr. Elias. Estes queriam saber se Francisco estava a escrever outra regra e, caso fosse verdade, queriam que fosse exclusivamente seguida por ele próprio. Não aceitavam a imposição de um novo documento com uma rigidez acima do que se propunham a seguir. Este contexto demonstra que o grupo estava com problemas. Em quantas de nossas fraternidades, em todos os níveis, não acontecem estes enfrentamentos? E em nossas famílias ou no trabalho? Lembremos que o debate e as discussões fazem parte do nosso viver.

Elias aceitou o pedido e foi até o Poverello. Chegando lá sabatinaram o fundador. Na conversa esclareceram que não queriam uma regra mais rígida do que a que tinham. O texto demonstra que os irmãos buscavam um distanciamento da essência do movimento. Viver a rigidez da pobreza e da humildade não é mais válido. Talvez seja visto como algo piegas e sem sentido.

O texto então leva o debate para o sobrenatural. O diálogo passa a ter outro participante. A legitimidade do que Francisco fazia é transferida para a intervenção divina. Francisco pergunta então: “Senhor, não te dizia eu que eles não me acreditam?” Cristo interpela a todos e afirma que a Regra é dele, que ele conhece a fragilidade humana e sabe até onde pode ir, convidando aos insatisfeitos a retirarem-se da Ordem.

Não estamos aqui para discutir a credibilidade dessas palavras. O que precisamos observar é que, em nome de seus desejos, os frades buscavam modificar o ideário do próprio fundador. A rigidez da proposta de Francisco passou a ser questionada.
Será que questionamos nosso modo de viver também em nossas fraternidades da OFS? Será que também relutamos em seguir o previsto em nossa Regra?

O Evangelho é fundamental em nossa vida de franciscanas e franciscanos seculares. É a partir dele que escutamos o Cristo? Francisco sabe disso e nos propõe a adoção dele como parte de nossa vida. Diante disso, outro problema é a adaptação do Evangelho a nossa vida e não o contrário. A tendência é querermos que os princípios que deveriam nortear nossas vidas tornem-se muletas. Na verdade, eles devem ser trilhas, ou seja, caminhos que façam nos levar até a perfeição evangélica.

Não podemos questionar as bases do que temos que viver. Trombar com aquilo que deve ser o maior tesouro em nosso carisma é um erro. Isto é impróprio, pois somos aqueles que devem tornar presente o carisma do nosso Pai Seráfico na vida e na missão da Igreja.

Se um irmão ou irmã busca nos mostrar que não estamos seguindo a trilha do carisma, não podemos vê-los como pessoas inconvenientes. Precisamos abraçar nossa Regra e nosso convívio fraterno. Dialogar e buscar escutar o que o Senhor nos fala através do irmão. A retórica do texto mostra isso.

Temos que entender que inclusive nossas escolhas são baseadas também nos contextos em que vivemos. Nem sempre poderemos viver de forma mais abrangente o que acreditamos. Mas, nosso esforço deve ser para isso. Se os Conselhos e Ministros tentarem nos iluminar o caminho através de nosso carisma, não podemos questionar com o intuito de tornar a trilha mais agradável.

Diferente dos frades que foram interpelar ao Poverello, temos que agir a partir da afirmação feita por Michel Hubaut sobre o leigo franciscano. Para ele este é o que sente o “apelo de seguir a Cristo, à maneira de Francisco de Assis, pois descobre uma cumplicidade espiritual com as intuições de Francisco”.

É isso que o texto tenta mostrar. Francisco faz o que Cristo quer. Quando propõe, não é uma proposição sua e sim do Senhor. Ao lermos e buscarmos seguir a vida franciscana, a partir da Regra e do Evangelho, nossos olhos precisam ver que é próprio Filho de Deus que constrói as trilhas que devemos seguir.

Será duro, mas doce!

Questionamentos:

Como estamos vivendo a radicalidade de nossa Regra?

Será que preferimos viver uma Regra nossa e não a da Ordem?

Os frades criaram conflitos diante da radicalidade do projeto. Mas e nós, como devemos vivenciar o que os exige nossa profissão?

 

Texto de Jefferson Eduardo dos Santos Machado – Coordenador de Formação da Fraternidade Nossa Senhora Aparecida – Nilópolis (RJ)

 

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