Em meio ao mundo exigente e extremamente corrido em que vivemos atualmente, é fato que as pessoas acabam se tornando cada vez mais inclinadas a serem intolerantes, impacientes, e propensas a rotular as outras.
Sufocados por tantos dilemas e exigências, poucos conseguem ter a devida paciência para com os outros, e muitos, se não alcançam respostas imediatas em um determinado relacionamento, acabam desistindo facilmente destas pessoas que buscavam se aproximar. Descobrir alguém leva tempo. E quando nos tornamos superficiais demais, desistindo facilmente frente ao primeiro desencanto, acabamos por perder a feliz oportunidade de descobrir pessoas maravilhosas.
Como nos convida nosso devocionário a rezar a regra “Auxiliai-nos a acolher a todos os homens como vosso dom e imagem de Cristo”. (Dev. 583).Acolher é receber a pessoa tal qual ela é e se apresenta. E a condição essencial do acolhimento é a empatia. Esta permite e conduz à consideração da pessoa do acolhido na sua integralidade e na sua especificidade única, pedindo simultaneamente que quem acolhe se ponha o mais possível no seu lugar para melhor poder compreender a sua situação real. Com disponibilidade e compreensão, competência e afeto, abertura e flexibilidade, o acolhimento torna-se um espaço no qual as pessoas se encontram para se conhecerem como são e também se aceitarem como são, o que não é incompatível com a sua própria evolução e modificação de atitudes e comportamentos, expectativas e projetos. O qual consiste nesse princípio interno que há de estar na origem da atuação de todo o seguidor de Jesus e se baseia na compaixão como elemento configurador de toda a nossa visão de mundo, da vida, das pessoas, da Igreja e da história.
A acolhida é uma experiência estruturante na vida de toda pessoa, pois se constitui no que mais equilibra o humano, sendo este um desafio fundamental e permanente á saciedade humana: o amar e sentir-se amado.
Nosso fundamento cristão acerca do acolhimento, parte do seguinte ponto: Deus é o sujeito através de suas características que encontramos na sagrada escritura de: condescendência e de misericórdia. Logo podemos refletir nossa temática partindo do principio que o acolhimento Divino, trata-se de uma atitude pedagógica, na medida em que se refere á relação entre pessoas: Deus e os homens, que se configura na condescendência como uma realidade fundante.
O Concílio Vaticano II, na sua Constituição dogmática sobre a Revelação Divina, afirma que na Sagrada Escritura, salvas sempre a verdade e a santidade de Deus, manifesta-se a admirável condescendência da eterna sabedoria para “conhecermos a inefável benignidade de Deus e com quanta acomodação Ele falou, tomando providência e cuidado da nossa natureza” (Gen 3-8).
Percebemos também que a Encíclica Divino afflante Spiritus¹ nos reafirma que “assim como o Verbo substância de Deus se fez semelhante aos homens em tudo, exceto no pecado, assim também a palavra de Deus, expressada em linguagem humana, faz-se em tudo semelhantes à linguagem humana, exceto no erro”. Nisto consiste a condescendência divina como característica pedagógica acolhedora proveniente de Deus para com a humanidade.
Nesse sentido nós franciscanos somos constantemente convidados a “condescender”, isto é “baixar-se juntamente baixar-se juntamente com alguém”, ou então, no caso de significar o baixar de uma só pessoa, este baixar-se aponta já para um ir ter com o outro que está mais abaixo, adaptando-se ao seu nível, com vista a prestar-lhe ajuda ou socorro.
A condescendência divina se trata, pois, do descer de Deus até junto do homem, assumindo a sua historicidade, para salvá-lo a partir justamente da sua condição que, aliás, Deus passa a partilhar.
A misericórdia divina é outra característica do ser de Deus, ser de Deus, muito semelhante à condescendência, mas que põe preferentemente o acento já não na forma da relação de Deus com o Homem, mas sim no conteúdo de amor e intenção salvífica que fundamentam e norteiam essa relação. Podemos perceber em “Javé enche-se de compaixão/misericórdia e liberta-o.” Ex.3, e ainda em “Deus é clemente e compassivo, lento para a ira e cheio de misericórdia”.(Sl. 85).
A atitude de Jesus ao longo de nossa caminhada cristã fora nos assinalando, como sendo uma prática de inclusão e não o contrário. O acolhimento divino estendeu-se a toda Criatura e sua características particulares- o que lhe valeu até incompreensões e antagonismos por parte daqueles que se surpreenderam e escandalizaram com o seu testemunho.
Dentre muitos textos evangélicos apropriados para explicitar a prática de acolhimento de Jesus, as escrituras nos propõe fazer “memorial” de três momentos: o encontro com Nicodemos (Jo.3), a conversa com a mulher adúltera (Jo.8) e o jantar em casa de Zaqueu (Luc. 19). O que nos desperta a fazermos o mesmo seguimento de Cristo, para nos explicitar acerca do que seria a perspectiva cristã do “autêntico acolhimento”.
O verdadeiro amor se expressa em um acolhimento que permite que o outro seja simplesmente o que é sem precisar representar para nos agradar e assim ser aceito. Amar é acolher e buscar compreender. Dessa forma será possível permitir que o outro, neste universo de verdade e liberdade, se revele expressando o amor como sabe, pois só assim este poderá aprender – a partir do amor/acolhida que recebeu – a melhor forma de amar e se ofertar.
Eis o desafio: amar com acolhida e maturidade, sem exigir que o outro se transforme em uma representação fiel do que “estabeleci” como verdade e valor. Assim as pessoas poderão ser de fato pessoas ao nosso lado – ao invés de coisas –, e na verdade do que recebemos e ofertamos, poderemos também nós nos tornar melhores, sem a exigência desumana de precisarmos nos alienar para sermos aceitos.
Acolher é evangelizar! Acolher exige então ser compreensivo, testemunhar uma imagem de Igreja e de vida cristã muitas vezes totalmente nova e insuspeitada por parte daquele que pede ser acolhido e, mais importante ainda, exige o lançar de desafios à maneira de Jesus, que sempre abria novos horizontes e não deixava indiferentes todos quantos o encontravam.
Em Francisco de Assis, o acolhimento refere-se, sobretudo, ao amor-compaixão que abarca o ser humano e todas as criaturas. É a expressão singular daquela ternura que supera os muros e as fronteiras do mundo egocêntrico. É algo que afeta e atinge o outro na sua totalidade. É um amor visceral, que se comove e se move, com dinâmica própria, na direção do homem irmão e da mulher irmã. Ultrapassa as formas e estruturas instituídas. Procura e se encontra no outro, independentemente de suas situações e condições sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas. Assim estamos diante de uma expressão significativa inspirada na proposta do Evangelho, assumida por esse homem, como nos exorta (2Cel,85). A leitura e o encontro com o Evangelho (1Cel 22). Depois daquele encontro objetivo, ele vive novo modo de pensar, perceber e sentir a vida. Tudo aconteceu por iniciativa do Senhor. Foi conduzido por Deus a fazer uma experiência radical da misericórdia. Superou, então, as barreiras do medo e do preconceito. Aproximou-se do irmão, relacionando-se com ele horizontalmente, frente a frente. Esse encontro significou, também, acolhimento da realidade humana, nua e crua.
Francisco de Assis soube acolher a misericórdia de Deus. Soube amar ao próximo de maneira incondicional, portanto façamos hoje e sempre como o Pai Seráfico, Enquanto franciscanos (as) não deixemos que a tirania das aparências marginalize o irmão e a irmã. Não deixemos que a economia esmague a riqueza da vida fraterna, que tem como maior valor os dons espirituais de cada irmão e irmã (EP 85). Não deixemos que o individualismo ofusque a cordialidade. Não permitamos que a intolerância nos impeça de praticar a misericórdia. Somos todos irmãos e irmãs dados uns aos outros por Deus, para construirmos fraternidade, lugar de misericórdia.
04 – AÇÃO CONCRETA: Proporcionar momento na fraternidade, no qual possamos refletir estas inquietações: Como estamos trabalhando a acolhida em nossas fraternidades? Comunidades? Pastorais? Na secularidade no qual estamos inseridos? 05 –ORAÇÃO FINAL:Ajudai-me, Senhor, para que meus olhos sejam misericordiosos, para que eu jamais suspeite nem julgue as pessoas pela aparência externa, mas perceba a beleza interior dos outros e possa ajudá-los. Ajudai-me para que meu ouvido seja misericordioso, de modo que eu esteja atenta às necessidades do próximo e não me permitais permanecer indiferente diante de suas dores e lágrimas. Ajudai-me Senhor, para que a minha língua seja misericordiosa, de modo que eu nunca fale mal do próximo; que eu tenha para cada um deles uma palavra de conforto e de perdão. Ajudai-me Senhor, para que o meu coração seja misericordioso, para que eu seja sensível a todos os sofrimentos do próximo; ninguém receba uma recusa do meu coração. Que eu conviva sinceramente mesmo com aqueles que abusam da minha bondade. Amém. 06 – CANTO FINAL:Mantra: Onde reina o amor fraterno amor( bis) Deus ai está (bis) 07 –PARA ENRIQUECIMENTO DO ESTUDO:I- Leitura orante:
Jo 15,12
Tg 2 1-4
Rm 8,29
Mt 25,40
II Celano 85
I Carta 26
I Regra 7,13
I Regra 9,3
Divino afflante Spiritus,30-9-1943: DS 2294- Pio XII.
Livro Vida em Fraternidade.
Autores: Ana Célia Carvalho Ferreira, OFSCoordenadora Formação Regional NE A II CE/PIFrei Jardiel Souza da Silva, OFM Assistente Espiritual JUFRA CIL