Sábado, 26 Setembro 2020 15:21

OFS e o Espelho da Perfeição: reflexão sobre o capítulo X - Parte 2

Capítulo X - Parte 2

A maneira de escolher os lugares nas cidades e ne­les construir, segundo a intenção de São Francisco.

 

16 A seguir, recebida a bênção do bispo, vão e façam cavar um grande fosso em torno do terreno que tiverem recebido para a construção do lugar e plantem ali uma boa sebe em lugar de um muro, como sinal da santa pobreza e da humildade. 17 Depois façam construir casas pobrezinhas de barro e madeira e algumas celas, nas quais os frades possam de vez em quando orar e trabalhar para maior edificação e evitar a ociosidade.
18 Façam construir também pequenas igre­jas; pois não devem mandar construir grandes igrejas, a pretexto de pregar ao povo, ou por outra razão, pois é sinal de maior hu­mildade e melhor exemplo, se forem pregar em outras igrejas. 19 E se alguma vez os prelados e os clérigos, os religiosos e os secula­res vierem a seus lugares, as casas pobrezinhas, as celas e as igrejas pequenas deles pregar-lhes-ão por si, e eles ficarão edifi­cados mais por elas do que pelas palavras”.
20 E disse: “Muitas vezes, os frades mandam construir grandes edifícios, rompendo nossa santa pobreza, para murmuração e mau exemplo ao próximo; 21 e algumas vezes, a pretexto de terem lugares melhores, mais santos ou para abri­gar uma ocorrência maior de povo, por cobiça e avareza abandonam aqueles lugares e edifícios ou os destroem para construí-los grandes e excessivos, 22 e daí os que deram as esmolas e os outros que vêem isso se escandalizam muito e se perturbam. 23 Por conseguinte, é melhor que os frades construam edifícios pequenos e pobrezi­nhos, observando sua profissão e dando bom exemplo ao próxi­mo, do que ajam contra sua profissão, dando mau exemplo aos outros. 24 Pois se, alguma vez, os frades abandonarem lugares po­brezinhos por outro mais conveniente, o escândalo será maior”.

 

Reflexão

Vamos continuar nossa reflexão sobre o capítulo 10. Aqui o autor do texto cria uma narrativa com uma orientação de como deveriam ser os conventos dos frades. Inicia pelo muro. Sabemos que a Idade Média era um período onde inclusive as cidades tinham muralhas para defenderem-se dos inimigos. Quanto mais imponentes elas eram, maior era o poder do local. Segundo o texto os frades deveriam plantar uma espécie de cerca viva ou parede de taipa dentro de um fosso, o que deveria tornar esta proteção bem frágil.

Além disso, as moradias deveriam ser simples, pequenas e feitas de barro e madeira, que não trouxessem conforto, a fim de que os frades não ficassem ociosos. As suas igrejas também deveriam ser assim, pois a ideia era mostrar a humildade e demarcar o exemplo a ser seguido.

Vemos que o texto tem uma preocupação muito grande com a “opinião pública”. Apesar de muitos de nós acharmos que isto não é importante, deveríamos nos perguntar se realmente não o é. Sabemos que quando Francisco era vivo os frades deviam trabalhar. E o texto já foi escrito em uma realidade mendicante. Talvez por isso o zelo com o modo de vida.

Quanto a nós, seculares ,já tratamos muito sobre a questão de nossas propriedades privadas ou da fraternidade. Agora tem um detalhe muito importante, que é preocupação com olhar do outro. Ou seja, como estamos sendo vistos. Nós, como irmãos e fraternidade, como estamos sendo vistos? Já falamos um pouco sobre isso. Mas a temática é muito importante. A nossa coerência é fundamental. Como dizermos que somos franciscanos se o que aparece primeiro é a soberba?

Será que a forma como vivemos a fraternidade faz com que os outros membros da Igreja nos vejam como um “grupo de pessoas” que vivem a fé de forma convergente a do Poverello? Será que honramos nossa profissão? Nossa história está aí para mostrar o quanto já saímos dos trilhos da caminhada da penitência.

Igrejas riquíssimas, uma quantidade muito grande de imóveis e, por vezes, fraternidades aristocráticas que eram vistas como um centro de poder, onde se faziam negociatas e se tramavam maracutaias. Uma frase de Santa Clara Sempre aparece nessas horas: “Não perca de vista seu ponto de partida”.

Será o "ponto de partida" que nos fará enxergar qual deve ser nosso itinerário. Será ele que nos fará ver a importância da fraternidade. Fará nos ver que a vida humilde é fundamental. Mas, para isso, temos que sentir o gosto desse modo de vida. Temos que esquecer os muros de proteção e as construções magníficas. E aqui deveríamos refletir sobre dois pontos de nossa Regra:

11 - (…) os franciscanos seculares procurem, no desapego e no uso, um justo relacionamento com os bens temporais, simplificando as próprias exigências materiais; estejam, pois, conscientes de que, segundo o Evangelho, são administradores dos bens recebidos em favor dos filhos de Deus. Assim, no espírito das "Bem-aventuranças", se esforcem para purificar o coração de toda inclinação e avidez de posse e de dominação, como "peregrinos e forasteiros" a caminho da casa do Pai.

12-  Testemunhas dos bens futuros e empenhados pela vocação abraçada em adquirir a pureza do coração, desse modo tornar-se-ão livres para o amor de Deus e dos irmãos.

Primeiro, um trecho, que já usamos anteriormente, onde fica claro que temos que viver de forma simples e humilde. E o segundo reforça que somos testemunhas, isso é, temos que mostrar à humanidade que para alcançar a vida eterna este é o caminho. Além disso, devemos nos empenhar a viver a vocação que abraçamos ao fazer a profissão.

 

Para meditar:

Será que estamos dando bom exemplo como nos diz o texto?

O que temos feito para tornar esta orientação uma realidade para nossas fraternidades?

Nossa fraternidade tem buscado se mostrar pobre ou poderosa aos olhos dos outros?

 

Texto de Jefferson Eduardo dos Santos Machado – Coordenador de Formação da Fraternidade Nossa Senhora Aparecida – Nilópolis (RJ)

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