No dia 17 de setembro a Família Franciscana celebra, em todo o mundo, a festa da impressão das Chagas, também chamada de Estigmas de São Francisco de Assis. A introdução litúrgica da Missa e Liturgia das Horas diz o seguinte:
“O Seráfico Pai Francisco, desde o início de sua conversão, dedicou-se de uma maneira toda especial à devoção e veneração do Cristo crucificado, devoção que até a morte ele inculcava a todos por palavras e exemplo. Quando, em 1224, Francisco se abismava em profunda contemplação no Monte Alverne, por um admirável e estupendo prodígio, o Senhor Jesus imprimiu-lhe no corpo as chagas de sua paixão. O Papa Bento XI concedeu à Ordem dos Frades Menores que todos os anos, neste dia, celebrasse, no grau de festa, a memória de tão memorável prodígio, comprovado pelos mais fidedignos testemunhos.” Da legenda Menor, de São Boaventura, bispo (De Stigmatibus sacris, 1-4; ed. Quaracchi 1941, p. 202-204). Pelos sagrados estigmas Francisco se tornou imagem do Crucificado

O fiel servo e ministro de Cristo Francisco, dois anos antes entregar a Deus o espírito, tendo iniciado, num lugar elevado e solitário chamado Monte Alverne, um jejum de 40 dias, em honra do arcanjo São Miguel, mais do que de costume infundiu-se nele a suavidade de elevada contemplação, e, inflamado em desejo mais ardente das coisas celestes começou a perceber dons vindos do alto.
Enquanto, nos ardores de seráficos desejos, arrebatava-se em Deus, certa manhã, nas proximidades da festa da Exaltação da santa Cruz, rezando na encosta do monte, viu uma espécie de serafim, tendo seis asas tão fúlgidas quando ígneas, do alto dos céus. Com voo célere pelo ar, chegando perto do homem de Deus, apareceu não só alado, mas crucificado. Ao ver isto, admirou-se assaz e um misto de alegria e dor encheu-lhe o espírito, enquanto sentia enorme alegria diante de Cristo que lhe aparecia, em aspecto afável, tão familiarmente, bem como a visão cruel da crucifixão atravessava-lhe a alma como uma espada de dor compassiva.
A visão desapareceu, depois de misterioso e familiar colóquio, e inflamou-o interiormente por seráfico ardor; marcou-lhe a carne externamente com uma efígie do Crucifixo, como se à força antecedente de liquefazer do fogo se seguisse a impressão de um sigilo. Logo, nas mãos e nos pés começaram a aparecer-lhe os sinais dos cravos, as cabeças dos quais apareceram na parte inferior das mãos e na superior dos pés e suas pontas estavam em sentido contrário. Também o lado direito, como se fosse transpassado por uma lança, apresentava rubra cicatriz que frequentemente vertia o sangue sagrado.
Depois de Francisco aparecer distinguido como homem do novo, por estupendo milagre e singular privilégio, não concedido nos séculos anteriores, a saber, decorado dos sagrados estigmas, desceu do monte, trazendo em si a efígie do Crucificado, não gravada em tábuas de pedra ou de madeira por mão de artífice, mas inscrita em membros carnais pelo dedo do Deus vivo.