Por Frei Almir Guimarães, OFM

• Sobre a minha mesa tenho um livro caindo aos pedaços e com suas folhas amareladas pelo passar do tempo. Há um carimbo na página de rosto que estampa: Convento Franciscano (Ipanema). Veio da biblioteca do Convento da Casa Nossa Senhora da Paz que deixou de existir há muitos anos. Trata-se de: Santo Antônio de Lisboa. Doutor Evangélico, escrito por Frei Fernando Felix Lopes, publicado pela Editorial de Braga, Portugal (1954, 2ª. Edição). A primeira edição data de 1946. O autor escreve “lusitanamente” bem e com estilo saboroso. De sua autoria é também Francisco de Assis. O Poverello. Quero pinçar algumas pérolas que Frei Fernando nos oferece na apresentação da obra a respeito do Santo que é de Lisboa, mas também de Pádua.

• O português mais festejado no mundo: “Santo Antônio de Lisboa é, com certeza, ainda hoje em todo o mundo o português mais conhecido e festejado. Os homens de agradecidos, nunca séculos fora, poderão esquecer a mais alguns dos nossos: ao infante D. Henrique, a Vasco da Gama, Cabral, Fernão de Magalhães, Camões – os heróis que descobriram nos mares os caminhos novos por onde as gentes da Europa, se foram a abraçar os irmãos de longe, e cantor da gesta aventureira que, nas estrofes dos Lusíadas, eternizou as alegrias daquele abraço. Mas a estes, se por toda a banda academias os recordam e festejam, nem por isso as multidões com eles se entretêm. Suas almas, de pequeninas, não abarcaram ainda a grandeza de heróis tamanhos, e por isso não podem nelas reboar em simpatia e entusiasmos de tão larga fraternização”.

• Foi tido como alguém da família: “Não assim no que respeita a Santo Antônio de Lisboa, pois é de feitio diferente sua fascinante sedução. Desde que há sete séculos apareceu no mundo, logo conquistou o coração de pequenos e grandes, de sábios e ignorantes, de pobres e de ricos; e os homens das mais diferentes raças e das terras mais distantes trazem-no na sua roda como se fora pessoa da família, e até, para gozar de sua boa vizinhança, lhe montam casa mesmo à beira de seus lares”.

• O santo tem altares em quase todas a igrejas – Em choupanas humildes escondidas nos refegos das serras, em palhoças perdidas pelos sertões, em casa e palácios de aldeias, vilas e cidades, há sempre um cantinho para seu retrato. Mais aqui, mais além, à borda dos caminhos, sua imagem sorri, desde o nicho devoto, sorrisos de bênçãos aos viandantes e quantos trabalham no amanho dos campos e ao redor. E por toda a cristandade quase não há igreja nem ermida onde ele não disponha de um altar para atender os seus devotos”.

• Todos batem à sua porta: “E todos, por toda parte, lidam com o Santo português como se fora parente ou amigo prestadio. Tudo lhe pedem, para tudo lhe batem à porta. E ele, o coração a transbordar de compaixão imensa e humaníssima caridade, todo se reparte a atender e a despachar”.

• Livre do corpo o Santo do céu age com mais agilidade : “…hoje mais livre, sem a inércia do corpo a embaraçar, deveras todo se multiplica para valer a quem precisa de seus favores. Anda pelas portas a esmolar o pão com que ao depois vai matar a fome dos pobrezinhos; corre, açudado, a toda parte em busca das coisas que perdemos; contrata noivos para as moças casadoiras em perigo de, solteiras, chegarem à velhice; compõe arrufos de namorados; alumia a cerração das trevas em que se perderam as almas; noutros tempos comandou os exércitos vitoriosos de nosso Portugal; e está presente e vivo, por aí fora, em tantos e tantos corações”.

• Evocação de recordações do tempo da infância : “Em tamanhinho, nas noites de reza (que saudades me ficaram destas noites tão longínquas!), era eu quem acendia as velas do altar de Santo Antônio, lá na sua ermida da minha aldeia. Oxalá seja este meu trabalho mais uma vela que acendo, agora em velho, a alumiar a memória querida do meu Santo Antônio de Lisboa, na reza grande que sempre lhe fará o bom povo seu amigo, o povo de Portugal”.

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