Naquele dia havia um vento muito forte.
Era um vento diferente.
Nada tinha desses ventos maus que, turbulentos
que destroem e arrancam,
destelham os tetos e fazem o mar bramir violentamente.
Também não era como o vento
que anuncia o inverno, espalha folhas pelo chão
e faz gemer as venezianas.
Era um vento estranho,
de uma suave violência, como uma brisa de furacão
ou o leve murmúrio de uma tempestade.
Foi se infiltrando para atrás das portas chaveadas
e das janelas fechadas.
Foi se infiltrando
no coração e na mente
de crentes preguiçosos e friorentos.
Lá dentro, bem no interior daquele cômodo,
liberou sua força e seu poder,
esse vento estranho, o vento de Deus.
Tratava-se de um vento
que perturbava as mentes,
virava o coração de pernas para o ar, s
soltava as línguas
e abria os olhos.
Era um vento que tornava tolos os sábios
e dava sabedoria aos tolos,
um vento que sopra fora
e que se quer guardar dentro,
que incomoda os ricos esvaziando suas mãos e seus bolsos
que acompanha os pobres de toda a terra.
Um vento que murmura
no âmago dos seres,
que grita nos mais altos píncaros
que Deus vive
e que seu amor
se estende de idade em idade
a todos os homens.
Vê, Senhor, desse vento que é teu próprio sopro,
hálito de tua vida e de teu amor, o que andamos fazendo.
O Espírito da vida
tornou-se um pássaro de pedras
no fundo de nossos templos.
O Espírito de liberdade
colocamos a serviço de nossos desejos
e de nossas carências.
Dá-nos novamente, Senhor,
o gosto pelo vento.
Faz de nós filhos do Espírito!
Que possamos percorrer a terra toda,
esse mundo paralisado em seus medos,
para anunciar a todos que venceste a morte.
Revista Prier, maio de 1988