Domingo, 24 Mai 2015 00:00

VENTAVA MUITO NAQUELE DIA - Para a solenidade de Pentecostes

Naquele dia havia um vento muito forte.

Era um vento diferente.

Nada tinha desses ventos maus que, turbulentos

que destroem e arrancam,

destelham os tetos e fazem o mar bramir violentamente.

Também não era como o vento

que anuncia o inverno, espalha folhas pelo chão

e faz gemer as venezianas.

 

Era um vento estranho,

de uma suave violência, como uma brisa de furacão

ou o leve murmúrio de uma tempestade.

Foi se infiltrando para atrás das portas chaveadas

e das janelas fechadas.

Foi se infiltrando

no coração e na mente

de crentes preguiçosos e friorentos.

 

Lá dentro, bem no interior daquele cômodo,

liberou sua força e seu poder,

esse vento estranho, o vento de Deus.

 

Tratava-se de um vento

que perturbava as mentes,

virava o coração de pernas para o ar, s

soltava as línguas

e abria os olhos.

Era um vento que tornava tolos os sábios

e dava sabedoria aos tolos,

um vento que sopra fora

e que se quer guardar dentro,

que incomoda os ricos esvaziando suas mãos e seus bolsos

que acompanha os pobres de toda a terra.

Um vento que murmura

no âmago dos seres,

que grita nos mais altos píncaros 

que Deus vive

e que seu amor

se estende de idade em idade

a todos os homens.

 

Vê, Senhor, desse vento que é teu próprio sopro,

hálito de tua vida e de teu amor, o que andamos fazendo.

O Espírito da vida

tornou-se um pássaro de pedras

no fundo de nossos templos.

O Espírito de liberdade 

colocamos a serviço de nossos desejos

e de nossas carências.

 

Dá-nos novamente,  Senhor,

o gosto pelo vento.

Faz de nós filhos do Espírito!

Que possamos percorrer a terra toda,

esse mundo paralisado em seus medos, 

para anunciar a todos que venceste a morte.

 

 

 

Revista Prier, maio de 1988

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