Ó glorioso Deus altíssimo, ilumina as trevas do meu coração, concede-me uma fé verdadeira, uma esperança firme e um amor perfeito. Mostra-me, Senhor, o (reto) sentido e conhecimento, a fim de que eu possa cumprir o sagrado encargo que, na verdade, acabas de dar-me. Amém.
Esta oração de oferenda e de súplica, pronunciada por Francisco aos pés do Ressuscitado, é de grande profundidade espiritual. Revela, ao mesmo tempo, a força que o impulsiona para Deus e sua fragilidade espiritual. Deseja intensamente ser esclarecido a respeito de seu estado de alma e a situação de seu coração. Se esta oração desvela seu desejo de Deus, revela também sua incapacidade de saber, por si mesmo, com amar mais. Mostra a coragem com qual ele se confronta com as camadas de seu ser mais profundo que necessitam de transformação. Ele olha, deixa-se olhar e todo o seu ser se oferece à presença de Deus. Francisco pede que Deus se aposse dele.
Com este ato de humildade, de confiança e de abandono aproxima-se de Cristo e, com ele, se deixa envolver num diálogo de amor. Teu mistério é tão grande, vinde em meu auxílio, parece que está a dizer. Recorre à luz de Deus que ilumina as trevas do coração e que brilha em nossa vida. A luz de Cristo é uma luz que nos permite ver nuances, diferenças, obstáculos e pistas que se abrem. Pede as virtudes da fé, esperança e caridade e ainda a inteligência do coração para observar a lei e os mandamentos do seu Senhor. Todos os mandamentos são verdade. Pede ainda poder sentir e conhecer porque é necessário que tenhamos clareza em nosso interior para poder discernir e agir antes de se dirigir ao exterior.
Esta oração, caracterizada pela gratuidade e realismo, constitui uma etapa importante no caminho espiritual de Francisco. Coloca todo o seu ser, sombras e luzes diante de Deus em total comunhão com o Altíssimo.
“No momento em que a solidão pesa, apenas a humildade profunda pode vir em nosso auxílio, reconhecendo a impotência radical do humano natural: ela predispõe o homem a colocar todo o seu ser ao pé da cruz e, então, bruscamente esse esmagador peso, Cristo carrega em nosso lugar. ‘Aprendei de mim que meu jugo é leve e meu peso suave’”.
Suzanne Giuseppi Testut
François d’Assise
Le prophète de l”extrême
Nouvelle Cité p. 109-110