Terça, 18 Junho 2019 10:52

Estudo da Regra em Fraternidade - Artigo 20

Estudo da Regra em fraternidade: Artigo 20º da Regra e Vida da OFS

 

Canto (“É isso que queremos” – Frei Florival Mariano)

 

Se alguém quiser vir após mim, deverá a si mesmo renunciar

E com o mais sincero “sim” seguir-me e sua cruz carregar

 

É isso que queremos, é isso que procuramos

é isso que desejamos, irmãos

É isso que queremos, é isso que procuramos

é isso que desejamos, irmãos

fazer de todo coração

 

Não levar mais anda no caminho nem dinheiro, nem mochila, ou mesmo pão

E por entre flores e espinhos esta paz será perfume na missão

 

Sempre o Evangelho anunciar, na vivencia, no andar e até sozinhos

E se de palavras precisar que elas tenham do agir o mesmo brilho

 

Oração inicial

Senhor, te peço pela minha Fraternidade: para que nos conheçamos sempre melhor em nossas aspirações, nos compreendamos mais em nossas limitações. Para que cada um de nós, sinta e viva as necessidades dos outros. Para que nossas discussões não nos dividam, mas nos unam em busca da verdade e do bem. Para que cada um de nós, ao construir a própria vida, não impeça ao outro de viver a sua. Para que nossas diferenças não excluam a ninguém da comunidade, mas nos levem a buscar a riqueza da unidade. Para quer olhemos para cada um, Senhor, com os teus olhos e nos amemos com o teu coração. Para que nossa fraternidade não se feche em si mesma, mas seja disponível, aberta, sensível aos desejos dos outros. Para que no fim de todos os caminhos, além de todas as buscas, e no final de cada discussão, e depois de cada encontro, nunca haja “vencidos”, mas sempre “irmãos”. E estará começando o caminho que termina no céu. Amém.

 

Leitura do artigo

(1º momento: leitura silenciosa individual; 2º momento: um irmão lê em voz alta; 3º momento: toda a fraternidade lê conjuntamente em voz alta)

 

Artigo 20 – A Ordem Franciscana Secular se articula em Fraternidade de vários níveis: local, regional, nacional e internacional, que tem na Igreja a sua própria personalidade moral. Essas fraternidades, dos diversos níveis estão coordenadas e ligadas entre si segundo a norma desta Regra e das Constituições.

 

Leitura e reflexão do tema a partir das Fonte Franciscanas

 

Legenda Maior 4, 5-7

 

Diferente do bloco anterior de artigos da Regra e Vida da OFS, que trata de aspectos, do ponto de vista formativo, mais profundo, tais como a pobreza, a pureza de coração e a obediência, o vigésimo artigo discorre sobre um ponto mais técnico e formal, e nem por isso menos interessante: a organização e a estrutura da OFS.

São Boaventura narra em sua Legenda Maior, como multidões de homens e mulheres, dos mais variados segmentos sociais, idades e estados de vida acorriam a Francisco, de modo a alinharem suas vidas com a proposta do poverello. Sabemos que Francisco iniciou seu processo de conversão buscando algo muito próprio, sem a intenção primeira de atrair outros para o mesmo caminho. Mas como o biografo mesmo diz, logo vieram os primeiros companheiros, seduzidos pelo odorífero perfume do Senhor, exalado pelo assisense que abraçava leprosos e reconstruía igrejas abandonadas. Logo chegaram ao número de doze, tal como os apóstolos de Cristo.

Como a legenda relata, não só homens e mulheres solteiros, com a intenção de se entregarem a Deus e assumirem o celibato, abraçaram o ideal de Francisco. Homens e mulheres casados também se deixaram conduzir pelo clamor penitencial pregado por nosso Seráfico Pai. Surge então o que Boaventura chama de Ordem dos frades (ou irmãos) da penitência, que ao longo dos séculos passou por diversas nomenclaturas, se multiplicou para além das muralhas de Assis, para além da Itália, para além da Europa. Ultrapassou as fronteiras do tempo e do espaço, até chegar a nós sob o nome de Ordem Franciscana Secular.

Durante boa parte dos últimos oitocentos anos de sua história, os franciscanos seculares, terciários, ou irmãos da penitência, estiveram muito ligados ou atrelados, em uma relação nítida de dependência, aos frades e casas das diversas obediências. A partir do Concilio Vaticano II e do processo de renovação da própria Ordem, culminando com a promulgação do atual texto da Regra e Vida em 1978, a OFS estabelece uma nova forma de se relacionar e se organizar, consigo mesma, e com os demais ramos da família franciscana. O que antes era uma relação de dependência, e em alguns casos, de subserviência da OFS à OFM, tornou-se uma relação de diálogo, de independência estrutural, de troca de experiências, de zelo e cuidado com nossa espiritualidade através da chamada assistência espiritual.

A OFS passou então, de fraternidades formadas por núcleos isolados, à fraternidades que se articulam, se conhecem e reconhecem, se formam, que trocam experiências entre si, e que para isso, estabelecem uma organização própria, com coordenação e lideranças também próprias.

Alguns irmãos da OFS, e muitas outras pessoas que tenham um primeiro e superficial contato com a regra e com o franciscanismo, ao se deparar com o texto desse artigo que fala de fraternidades locais, regionais, nacionais e internacional, podem ler e ver uma espécie de “burocracia fraterna”, ou uma “burocratização de um ideal e de uma forma de vida tão livre quanto o próprio Francisco era em seu tempo”. Talvez essa seja uma leitura até natural em um primeiro momento, mas quando olhamos para além do nosso umbigo, para além da nossa fraternidade local, do nosso próprio mundinho, e nos deparamos com as responsabilidades assumidas ao longo dos séculos pelos irmãos da penitência, junto à Igreja e às sociedades onde se estabeleceram, compreendemos melhor a necessidade de nos organizarmos em uma estrutura que busque a unicidade a partir da diversidade de realidades vividas e experimentadas em cada lugar.

Como não estabelecer uma estrutura ou propor uma organização regional, em um estado como São Paulo, que conta com 85 fraternidades locais, e aproximadamente 2500 irmãos? Como seria possível manter a coesão entre tantos núcleos locais em um país como o Brasil que conta com 653 fraternidades locais, espalhadas em 16 fraternidades regionais, contando com aproximadamente 15 mil irmãos dispersos de Norte a Sul, de Leste a Oeste, mas congregados por um mesmo ideal franciscano de vida?

Há, ainda, quem possa olhar para essa estrutura - essa grande estrutura, diga-se de passagem – e pensar que fraternidades regionais, nacionais e internacional (CIOFS – Conselho Internacional da Ordem Franciscana Secular) não sejam mais que meras estruturas artificiais de governo, já que seus membros são eleitos, não convivem e nem se veem cotidianamente como nas fraternidades locais. Ledo engano.

A troca de experiências entre os membros dessas estruturas é tão intensa, e ao mesmo tempo tão exigente, que na busca de propiciar o bem-estar das fraternidades, nos diversos níveis de sua organização, esses irmãos e irmãs por vezes desenvolvem laços fortes e permanentes, estabelecendo assim um canal de carinho, de reciprocidade, de verdadeira fraternidade.

Essa reflexão não estaria completa se não apresentasse ainda os números da OFS ao redor do mundo, propondo uma última pergunta ao término desse parágrafo. A Ordem Franciscana Secular está presente em 112 países ao redor do globo, organizadas em 70 fraternidades nacionais formalmente constituídas. E, apesar das diversas dificuldades de se contabilizar o número total, estima-se em 300 mil o número de franciscanos seculares, que enfrentam por vezes o esfriamento vocacional, a perseguição política e a falta de liberdade religiosa em suas nações. Diante de tantos números e realidades, resta a pergunta: como não estabelecer uma estrutura mínima que garanta, mais do que a mera coesão, mas a união de tantos homens e mulheres, solteiros, viúvos etc, que se deixaram encantar por Francisco de Assis nos mais variados rincões desse planeta?

Os irmãos e irmãs da Ordem Franciscana Secular, a partir de sua organização e estrutura, devem rezar ao Senhor, pela união de tantos e tantos núcleos locais, que garantem a mesma beleza e riqueza das primeiras fraternidades de irmãos da penitência de quase oitocentos anos atrás.

 

Oração final

Pai Santo, guarda em teu nome os que escolheste. Abençoa-os e santifica-os. Santifica-os para a união, assim como tu és um com teu Filho Jesus. Conserva-os em ti e manifesta-lhes tua gloria. Realiza neles o teu Reino de amor, para que em tudo te louvem, te bendigam e glorifiquem. Amém.

 

Referências de dados

1 – Relatório sobre quantidade de irmãos – ano 2016 – Ordem Franciscana Secular do Brasil;

2 – Informe da presidência do CIOFS e do ministro geral ao 15º Capitulo Geral Ordinário da Ordem Franciscana Secular (novembro/2017)

 

Autor: Wendell Blois (ministro da OFS “Fonte Colombo” de Franca-SP, membro da equipe de formação do regional Sudeste III)

 

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