Sexta, 16 Março 2018 12:25

“Malditas as armas que ferem e matam”

Acompanhavam Jesus os Doze e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, o procurador de Herodes; Suzana e muitas outras, que o serviam com seus bens. (Lc 8, 1-3).

 

Estimadas irmãs e irmãos, Paz e Bem!

Nossa vocação primeira enquanto franciscanos é “seguir os passos de Cristo ao modo de Francisco”. São cristalinamente manifestos na Sagrada Escritura, o respeito, o carinho, a dileção e a confiança que Jesus depositava na figura das mulheres. Desde Maria, sua Mãe, passando por Marta e Maria, grandes amigas, as muitas mulheres que ele curou e libertou, inclusive Maria Madalena, sua discípula, o Mestre sempre soube valorizar e promover a participação feminina na Missão Evangelizadora por Ele proposta e apresentada.

Diante deste direcionamento que o próprio Senhor nos apresenta, não poderia deixar de manifestar, em nome de todos os frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, minha indignação e tristeza diante de dois fatos que tingiram de sangue esta fatídica quarta-feira, dia 14 de março, menos de uma semana após o Dia Internacional da Mulher. Duas mulheres, atacadas de forma covarde, que encarnam duas lutas profundamente sintonizadas com a proposta do Reino de Deus encarnada em Jesus Cristo.

A primeira, Luciana Xavier, Professora da Rede Municipal de São Paulo há 14 anos, teve o nariz fraturado durante uma confusão na Câmara Municipal, onde a Guarda Civil Metropolitana agiu com truculência contra um grande grupo de professores. Eles estavam ali para manifestar seu descontentamento em relação à Reforma da Previdência Municipal que, aos moldes da Reforma Nacional, corta benefícios e aumenta a taxação e o número de anos de trabalho para aqueles que já recebem pouco para sobreviver. Desejavam o diálogo e receberam bomba, gás e balas de borracha.

A segunda, Marielle Franco, vereadora da cidade do Rio de Janeiro, morta a tiros na Região Central da capital fluminense. De acordo com os jornais, a principal linha de investigação aponta para o crime de execução. Marielle foi morta às 21h30, quando voltava de um evento sobre o protagonismo das jovens mulheres negras. Ela tinha 38 anos, foi a quinta vereadora mais votada no Rio nas eleições de 2016, formou-se pela PUC-Rio e destacava-se pelo firme engajamento nas causas sociais e na defesa dos direitos humanos. Em suas redes sociais vinha denunciando com frequência casos de abuso de autoridade e execução de jovens pobres e negros em diversas regiões do Rio de Janeiro.

Que estas barbáries, sinais de uma sociedade doente e cega por conta de interesses egoístas e antievangélicos, nos ajudem a renovar nosso compromisso cristão e franciscano no engajamento firme e comprometido pela superação da violência. Que o Senhor da Vida nos livre de toda tentação ao revanchismo e ao combate da violência com mais violência: malditas as armas que ferem e matam, maldito o dinheiro que oprime ao invés de servir, malditas estruturas que roubam a humanidade das pessoas e as transformam em objetos usados de acordo com a conveniência de quem domina.

Que Deus ilumine nossos passos e inspire nossas ações, hoje e sempre.

Fraternalmente,

Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM
Ministro Provincial

 

Fonte: Franciscanos

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