Cidade do Vaticano – Frei Raniero Cantalamessa, Pregador oficial da Casa Pontifícia, fez, na manhã desta sexta-feira, na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano, a sua primeira pregação de Quaresma sobre o tema: “Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo”, extraído da Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 12,3).
O Frei Cantalamessa, Capuchinho e pregador oficial da Casa Pontifícia, desde 1980, deu seu testemunho pessoal em sua pregação quaresmal de hoje falando sobre o Espírito Santo que nos introduz no conhecimento do mistério de Cristo.
Desta forma, o Padre Cantalamessa dá continuação à pregação sua de Advento, ou seja, sobre “o Espírito Santo permeia toda a vida da Igreja e seu anúncio”. Agora, nestas sextas-feiras de Quaresma, ele procura aprofundar o papel do Espírito Santo na Morte e Ressurreição de Cristo.
Neste sentido, o Pregador aborda os diversos aspectos do Espírito Santo em relação a Jesus: testemunho, conhecimento e pessoa de Cristo.
Ao longo dos séculos, continua-se a falar de Jesus como o Senhor: “Nosso Senhor Jesus Cristo” ou “Jesus é o nosso Senhor? São duas coisas diferentes. Uma coisa é dizer “Nosso Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Pai” e outra “Jesus Cristo é o nosso Senhor, a glória de Deus Pai”.
Hoje, não pronunciamos somente um Nome, mas fazemos a sua profissão de fé. Ao proclamarmos o nome de Jesus Cristo imergimos no conhecimento de Cristo ressuscitado e vivo. Aqui, Cantalamessa retomou as palavras do Papa Francisco na Evangelii Gaudium:
“Convido todo cristão, em qualquer lugar ou situação que se encontrar, a renovar o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de deixar-se encontrar por Ele, a procurá-lo todos os dias, sem cessar! Este é um convite para todos os cristãos”.
GUARDAR-SE DO DEUS DINHEIRO, QUE SE ENCARREGA ELE MESMO DE PUNIR SEUS ADORADORES
Da misericórdia que “ressoa em modo novo” à necessidade de guardar-se do deus dinheiro, “grande Velho” falso e mentiroso, que “se encarrega de punir ele mesmo os seus adoradores”, e o alerta de que o outro “é uma palavra que se vê” e o Lázaro de hoje “não é mais uma pessoa, mas um continente, ou até mesmo, um hemisfério”.
Na primeira Quaresma após o Jubileu da Misericórdia, o Pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, traçou para a Agência Sir (da Igreja italiana) um panorama deste tempo forte do ano litúrgico.
Misericórdia
Após o Jubileu – observa o pregador – a palavra misericórdia “evoca gestos, comportamentos e uma praxis eclesial bem precisa. O próprio exemplo do Papa indicou toda uma série de aplicações concretas, de âmbitos novos e atuais onde encarnar a bem-aventurança dos misericordiosos”.
“Antes ainda do dever de ser misericordiosos – continuou – o Papa Francisco insistiu na misericórdia como dom de Deus à humanidade que assumiu um rosto humano em Cristo. A misericórdia dos homens e da Igreja – disse ele – não é a causa, mas o efeito da misericórdia de Deus”.
Neste sentido, “a Parábola do servo mau que, perdoado não soube por sua vez perdoar a quem lhe devia cem míseros denários, fixou para sempre a relação existente entre as duas faces da misericórdia segundo o Evangelho”.
A palavra é um dom
O frei capuchinho recorda que a mensagem do Santo Padre para a Quaresma deste ano “é centrada na relação entre a Palavra que Deus dirige a cada pessoa por meio do Evangelho e a palavra viva que é cada irmão, sobretudo o pobre e o necessitado”. Santo Agostinho, neste sentido, define a palavra como “um sacramento que se ouve” e o sacramento “uma palavra que se vê”. Assim, o Papa nos recorda que “o outro é uma palavra que se vê”.
“O rico epulão – explica o Pregador da Casa Pontifícia – não soube ver esta palavra no pobre Lázaro; tendemos – nos adverte o Papa – a fazer o mesmo também nós com os inúmeros “Lázaros” que existem nas nossas portas e pelas nossas ruas”.
Para o Frei Raniero, “nunca se fará o bastante em termos de misericórdia espiritual e corporal, mesmo porque as necessidades são imensas e objetivamente superiores às forças humanas”.
No entanto, isto “não deve fazer com que fechemos nossos olhos para as iniciativas extraordinárias de solidariedade, que sob diversas formas, religiosas ou leigas, estão em andamento no nosso mundo ocidental, também graças ao exemplo pessoal e aos contínuos apelos do Papa Francisco”.
“O bem não faz barulho e o barulho não faz bem” – sublinha – e isto fica “particularmente evidente nas obras de misericórdia, sobretudo da misericórdia corriqueira e capilar”.
“Ouvimos falar continuamente – observa o Frei Raniero – de escândalos financeiros e de apropriações indevidas, mas raramente das tantas, pequenas ou grandes “expropriações” voluntárias”.
Corrupção e o deus dinheiro
O Papa Francisco, em sua mensagem para a Quaresma, também toca num tema que lhe é muito caro: a corrupção. E fala do dinheiro como o “ídolo tirânico”.
Neste contexto, o Pregador da Casa Pontifícia recorda que nos anos 70 e 80 na Itália, “as inesperadas reviravoltas políticas, os jogos ocultos de poder, o terrorismo e os mistérios de todo tipo” que afligiam a convivência civil, fizeram com que se firmasse a ideia, “quase mística, da existência de um “grande Velho”: um personagem astuto e poderoso, que por detrás do panos teria influenciado tudo, com um fim somente por ele conhecido. Este “grande Velho” – sublinha Raniero – realmente existe, não é um mito; chama-se Dinheiro!”.
E como todos os ídolos – alerta – “o dinheiro é falso e mentiroso”. Promete a segurança, ao invés disto, a tira; promete liberdade, e ao invés disto, a destrói” .
“Homens ocupando cargos de responsabilidade, que não sabiam mais em qual banco ou paraíso fiscal depositar seus ganhos com a corrupção, acabaram no banco dos réus, ou na cela de uma prisão. Para quem o fizeram? Valia a pena fazê-lo? Fizeram realmente o bem dos filhos e da família, ou do partido, se é isto que buscavam? Ou simplesmente acabaram arruinando a si mesmos e aos outros? O deus dinheiro se encarrega ele mesmo de punir os seus adoradores”.
Sacramento da Penitência
No Jubileu da Misericórdia, o Papa enviou os missionários da misericórdia, também para dar uma maior centralidade ao Sacramento da Penitência. Para Raniero Cantalamessa, a postura que se tem atualmente em relação ao Sacramento da Reconciliação “espelha a tendência existente em todas as Igrejas cristãs e na prática religiosa em geral”. Isto é, “a confissão é praticada por um número menor, muito menor (de fieis) em relação ao passado, mas aqueles que se aproximam dele, o fazem, de forma geral, com uma convicção maior do que em outros tempos”.
O frei capuchinho acredita que, atendendo aos numerosos apelos do Papa neste sentido, seria necessário “fazer da confissão um sinal de autêntica conversão do coração”.
“Existem pecados que nós sacerdotes quase nunca ouvimos mencionados no confessionário e que são muito difusos na vida e uma verdadeira chaga da sociedade: aqueles que dizem respeito ao modo de administrar ou de buscar dinheiro”.
“Esperemos – concluiu Frei Raniero Cantalamessa – que o comentário que o Papa faz em sua mensagem para a Quaresma da parábola evangélica, não seja lido e ouvido somente pelos tantos Lázaro, mas também por algum rico epulão”.
Fonte: Franciscanos