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RUGAS: Leitos secos das lágrimas da vida

          Um dia desses encontrei um pensamento muito curioso que tinha sido publicado  no  Daily  Mail de 10 de janeiro de 1961:  “As rugas são as rugas; para alguns representam a perda da beleza, do atrativo e do interesse sexual; para outros constituem os galardões obtidos ao longo da grande campanha da vida. Um rosto enrugado é um semblante, firme, estável, seguro.  As rugas são os leitos secos das lágrimas da vida.  As rugas são as recordações cheias de saudade de um milhão de risos.  As rugas são reentrâncias e suportes no aspecto liso da vida, nos quais as pessoas podem se apoiar e conseguir consolo e segurança”.

 

            Não se deve ter medo de envelhecer. Não é nenhuma tragédia. Ao contrário, é glória.  O autor das linhas acima transcritas nos leva a refletir.  Muitas pessoas ficam por demais preocupadas com o chegar dos anos e a “instalação das rugas”.  Compreende-se que o envelhecimento é  um fenômeno que  deverá ser levado em consideração. Há os que buscam cirurgias plásticas, remédios para melhorar a performance sexual e cremes que disfarcem os sinais de envelhecimento. Importante viver o  “tempo das rugas”, com serenidade, sem neuroses. Artifícios exteriores não resolvem os problemas. É a partir do coração, do interior  que se pode viver belamente. O pensamento acima transcrito  afirma que a pessoa que envelhece, que tem no rosto as rendinhas das rugas, na verdade  exibe  as “condecorações”, as “medalhas”, conseguidas e obtidas nas campanhas e batalhas da vida: trabalho de sol a sol,  noites mal dormidas, sonhos que foram desmoronando, alimentação nem sempre saudável e suficiente.  A vida vai cavando sulcos no rosto das pessoas.  As rugas são leitos secos das lágrimas da vida: um filho que chega doentinho, um casamento desfeito, a perda de um ente querido barbaramente assassinado.

            De outro lado,  as rugas simplesmente são sinais de que a vida foi passando.  Em seus sulcos se podem descobrir alegrias: as refeições feitas em famílias, as amizades persistentemente cultivadas, as bodas de ouro dos pais.  Podemos nos apoiar  nas rugas dos rostos como  suporte  nas horas em que parece que vamos cair em precipícios.  Podemos nelas encontrar consolo.

 

            Envelhecer não é tragédia. Os rostos cheios de rugas constituem uma obra de arte, de uma arte que a vida vai modelando no rosto dos humanos.

Frei Almir Ribeiro Guimarães