Março/Abril/2014
O SENHOR VIVE, ELE RESSUSCITOU!
No mês de abril de 2014, mais uma vez viveremos a aventura da festa da festas, da solenidade da Páscoa. Eloi Leclerc, franciscano francês de muita profundidade, vai nos fornecer a matéria para nossa Leitura Espiritual. Jesus, aquele que Maria tanto amava,vive, ressuscitou. Maria tem a tentação de retê-lo, perto dela. Nossa meditação se apóia em Vida em Plenitude, publicado pela Editorial Braga. Apoiamo-nos, de modo particular,no capítulo 9 (Jesus o vivente).
Ler com atenção João 20, 1-18
Mulher, por que choras? A quem procuras? Possuis aquele que buscas, e o ignoras? És dona de verdadeira alegria e estás chorando? Tens dentro de ti quem fora procuras. Realmente está junto ao sepulcro, chorando do lado de fora. Tua mente é meu sepulcro. Aí descanso, não morto, mas vivo para sempre. Tua mente é meu jardim. Com razão julgaste ser eu um jardineiro. Por sou o segundo Adão: trabalho no jardim do paraíso e monto-lhe guarda. Teu choro, teu amor e teu desejo são obra minha: tens-me dentro de ti e não sabes; por isso é que me procuras fora. Eis que vou aparecer também do lado de fora, a fim de levar-te para dentro, a fim de encontrares dentro quem fora procuras. Maria (Jo 20,16), eu te conheço pelo nome, aprende a conhecer-me pela fé (Da meditação sobre a Paixão e Ressurreição do Senhor de um autor do século XII, Lecionário Monástico III, p. 31).
· Era o primeiro dia da semana depois dos trágicos acontecimentos da sexta-feira. Bem de madrugada, quando tudo estava escuro, Maria Madalena, cheia de dor e de saudade, foi ao sepulcro daquele que lhe havia seduzido o coração. Queria prestar uma última homenagem àquele a quem considerava seu Mestre e Senhor.
· “Quando lá chegou, ficou estupefata e angustiada ao verificar que o túmulo estava aberto. A pedra tinha sido retirada. Sem perder um instante, correu a prevenir Simão Pedro e o outro discípulo, de quem Jesus era especial amigo. Ambos acorrem de imediato. Ambos veem o túmulo aberto. Entrando nele descobrem as faixas no chão e, dobrado à parte, o sudário que lhe cobrira a cabeça. João “viu e acreditou”, diz o evangelho. Mas nem ele, nem Simão Pedro, viram o Senhor. E regressaram à casa. Maria, essa continuou ao pé do túmulo, banhada em pranto, com o olhar fixo na abertura escancarada. O espanto inicial deu lugar à desolação. Não pôde conter as lágrimas”.
· Compreende-se que assim experimentasse dor profunda. Jesus tinha sido para ela a luz da vida. Ele havia libertado de tantas coisas. Ela, com seu apaixonado amor, o seguira até o fim, até junto da cruz. Naquele primeiro dia da semana, depois do descanso do sábado, para permanecer um tempo junto de seus restos mortais, dirigiu-se ao jardim. Ele não estava mais lá. Não bastava que o tivessem eliminado da terra. Agora até seu corpo desaparecera. “Aos olhos de Maria Madalena o céu e a terra estavam privados de luz. Ela vivia um desses momentos de profundo desespero em que uma pessoa não consegue libertar-se da ideia de que o mundo não tem sentido, perante o vazio onde se afundam todas as esperanças, certezas e amores”.
· Anjos vestidos de branco, conversam com aquela que era toda lágrimas: “Mulher, por que estás a chorar?”. Ela respondeu: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram!” Maria não experimenta espanto diante da presença desses seres luminosos. Esses anjos constituíam luz que não ilumina. Só pensa numa coisa: alguém havia roubado o seu Senhor. Não viera ao sepulcro à procura de uma pessoa viva, mas dos restos mortais daquele que ela tanto amava.
· O Senhor estava ali, naquele jardineiro. Mas ela não tinha condições de reconhecê-lo. Afinal de contas ela tinha vindo buscar um morto. “Com os olhos inundados de lágrimas até se compreende que não o tenha reconhecido pelo seu aspecto. Mas nem mesmo pela voz o identificou tão obsessionada estava com a idéia de encontrar apenas um corpo inerte. Imaginando que fosse o encarregado da propriedade, suplicou: “Se foste tu quem o retiraste, dize-me onde o puseste, que eu vou lá buscá-lo!”.
· Jesus chamou-a pelo nome. Esse nome Maria ecoou fortemente na dor de seu interior. “Essa palavra simples pronunciada num tom afetuoso em que Jesus a terá dito, surtiu um efeito mágico: Maria, como que despertou, liberta de um pesadelo. Abriram-se os olhos, ficou delirante. Era ele, o Mestre, o Senhor! “Rabuni!”, exclamou ela. E num arroubo um tanto estouvado, quer tocar-lhe agarra-lo, prendê-lo… como se temesse vir a perde-lo de novo, vê-lo desaparecer-lhe diante dos olhos. Não. Não se trata de sonho nem de ilusão. Ela está a tocar-lhe, embora ele resista: “Deixa-me porque ainda não voltei para meu Pai. Mas, vai ter com meus irmãos e dá-lhes o recado que eu volto para o meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus”. Palavras espantosas, cheias de mistério e também prenhes de sentido, encerrando toda a mensagem pascal que é uma mensagem de vida”.
· No seu enlevo impulsivo, Maria imaginava ter reencontrado Jesus tal como o tinha conhecido antes. Apressava-se em coloca-lo em seu quadro natural: peregrinações, descansando, orando na montanha. Esse Jesus era a mesma pessoa que ela antes conhecera. Agora, no entanto, já não era o Rabi. Não se deixava encerrar num universo limitado e familiar. Passou a ser o Senhor dos vivos. Foi isso que Jesus tentou fazer com que ela compreendesse. Ela estava de volta para o seu Pai e nosso Pai.
· “As palavras que ele então lhe dirige são um convite a que ela o procure exatamente onde agora se encontra, onde vive em plenitude, voltado para o Pai. Um convite a descobri-lo no movimento profundo do seu ser, no seu retorno para o Pai.” Estou de volta para o meu Pai e vosso Pai”. Há que entender estas palavras como o ruído de uma torrente caudalosa a refluir para a nascente donde emanara. Nesse movimento de retorno, Jesus não vai sozinho: sobe para o Pai com todos os seus irmãos. É a humanidade inteira a ser guindada para a luz. É o velho desejo do homem de atingir nele a plenitude de vida. “Quando eu for elevado da terra, hei de atrair todos a mim”, tinha ele declarado (Jo 12, 32). Maria Madalena pretendia reter Jesus. Ele, por sua vez, convida-a, juntamente com todos os seus irmãos, a seguirem-no em seu movimento. É um convite à participação no jubilo pascal, na alegria da comunhão com o Pai: “Se me tivésseis amor, até vos alegraríeis com minha ida, sabendo que e vou para o Pai…” (Jo 14,28). Jesus quer que sua alegria se comunique a nós, pois foi abrir-nos o caminho e leva-nos consigo para o seio do Pai, no seu regresso vitorioso”.
· Terminamos com José Antonio Pagola: “Se quisermos encontrar-nos com Cristo ressuscitado, cheio de vida e de força criadora, devemos busca-lo não numa religião morta, reduzida ao cumprimento e à observância externa de leis e normas, mas onde se vive segundo o Espírito de Jesus, acolhido com fé, com amor e com responsabilidade por seus seguidores” (…). “Não vamos encontrar aquele que vive numa fé estagnada e rotineira, gasta por todo tipo de lugares comuns e fórmula vazias de experiência, mas buscando uma qualidade nova em nossa relação com Ele e em nossa identificação com seu projeto. Um Jesus apagado e inerte, que não apaixona nem seduz, que não toca os corações nem transmite sua liberdade, é um “Jesus morto”; Não é o Cristo vivo, ressuscitado pelo Pai. Não é aquele que vive e faz viver” (O Caminho aberto por Jesus. João, Vozes, p. 238-239).
Questões
v O que mais chama sua atenção na leitura de João 20, 1-18?
v Por que Maria não conheceu o Senhor?
v Como compreendemos a figura de Jesus ressuscitado?
Frei Almir Ribeiro Guimarães,OFM