OUTUBRO/2013
O PROCESSO DA FORMAÇÃO FRANCISCANA:
“FORMOSO” E COMPLEXO
As reflexões que seguem se apóiam no texto de Frei José Maria Arregui, OFM, em conferência proferida em Cracóvia, no Congresso de formadores franciscanos conventuais, em agosto de 2004. Encontra-se nos Cadernos Franciscanos da Editorial Franciscana de Braga.
1. Formar franciscanamente é tarefa bela, mas também cheia de complexidade e desafios. De modo especial pensamos na formação inicial, embora em nossos dias seja sempre tempo de aggiornamento. Conselhos locais, equipes de formação, assistente espiritual não podem descuidar. De modo especial, precisamente na formação inicial pode começar o novo na vida franciscana que todos andamos procurando. Esse processo é “formoso” e belo porque nos permite ver o irmão descobrindo mundos novos, ir buscando respostas para suas interrogações, dando-se contada beleza da própria vida, a beleza de Deus no caminho de São Francisco. Os formadores sabem disso, desde que sejam formadores e não meros transmissores de idéias como secos professores.
2.O processo de formação é também complexo. O desenvolvimento da pessoa humana é realidade intrincada. Será preciso descobrir onde foram ficadas as raízes de cada um no tempo da infância, como viveram suas primeiras experiências inconscientes, como foram se abrindo ao novo que surgia, como foi o relacionamento com os próprios pais, como foram se situando perante as primeiras experiências humanas, de como sentiram os outros como amigos, adversários ou indiferentes, de como se aceitando a si mesmos, como pessoa de valor ou ser desprezível. A vida está cheia de crises. Temos que vencer umas após as outras se quisermos crescer e amadurecer. A formação se ocupará de tudo o que acabamos de mencionar. Que podemos oferecer ao irmão que procura nossa fraternidade e àquele que já vive conosco? Antes de qualquer coisa a Fraternidade como um todo precisa saber para onde está caminhando, o que de fato deseja. Um novo candidato a nosso estilo de vida quando se dá conta que andamos de um lado para o outro sem saber para que existimos e porque estamos juntos. Pessoas sinceras que começam conviver conosco não podem se decepcionar.
3. Descobrir a riquezaque cada um tem- Arregui apresenta um relato que muito ajuda a compreender o que vem a ser a formação:
Era uma vez um escultor que trabalhava com o seu martelo e cinzel sobre um bloco imenso de mármore. Uma criança que o observava não via mais do que grandes e pequenas lascas de pedra que caíam à direita e à esquerda. Não tinha a menor ideia do que estava a suceder. Quando passadas umas semanas regressou à oficina do artista, a criança viu, com espanto, um grande e forte leão sentado no lugar onde estava a pedra de mármore. Com grande emoção, correu para o escultor e perguntou. “Diga-me, senhor, como sabia que dentro do mármore estava um leão?”
4. A formação começa sempre com uma intuição básica: por detrás de cada ser humano existe algo grande e original que muitas vezes escapa a um olhar superficial. Há um projeto de Deus para com as pessoas. Esse projeto visa o desenvolvimento do ser, refere-se à vida, abundância de vida, sair da mediocridade e da mesmice. Jesus afirma que veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Cada ser humano que vem a este mundo é uma promessa que só se torna realidade se for acompanhada, se a pessoa se abrir, se vier a corresponder. A criança recém-nascida é só uma promessa, é só o começo. Depois vem a família, o ambiente, os formadores, as amizades, os estudos, os professores e a ação do Senhor. Cada pessoa é o primeiro responsável no tocante à própria formação, mas tem que contar, ao menos no início, com colaboradores aliados que facilitarão e tornará possível a descoberta, o desenvolvimento, a exteriorização de toda riqueza que cada um, guarda dentro de sim. O conselho local e a equipe de formação não deveriam sondar as qualidades dos irmãos para que eles tomassem a decisão de trabalhar mais decididamente na evangelização?
5. A tarefa básica da formação inicial será de descobrir a complexidade da pessoa e da realidade. Quais os elementos básicos? Afirmação da autoestima, desenvolvimento da afetividade, experimentar os caminhos da liberdade pessoal. Será preciso curar as feridas, ser bálsamo e azeite para numerosas feridas recebidas na infância e na adolescência. Há muitos candidatos a vida religiosa na I Ordem e na OFS que proveem de famílias desagregadas e que fizeram experiências que bloquearam e desequilibraram.
6. Este acompanhamento humano básico não é somente tarefa da formação inicial, mas de toda a vida. Arregui faz uma observação que transcrevo: “Só aprendemos a verdadeira autoestima e a desenvolver-nos afetivamente com liberdade e usá-la com responsabilidade, quando aprendemos também a servir e a entregar-se, isto é, quando aprendemos a morrer”. A tarefa primordial da formação é possibilitar o crescimento e o desenvolvimento integral das pessoas e o acompanhamento nos processos pessoais.
7. Todo homem e mulher nascem dotados de muitas possibilidades que haverão de descobrir, conscientizar e desenterrar. Por isso, só pode ser formador quem acredita e confia na riqueza do ser das pessoas e na sua maturação. O Ministro, os formadores, entre eles o assistente espiritual, e a fraternidade local são responsáveis pelo crescimento dessa vocação. As pessoas crescem quando sentem que os outros acreditam nelas, quando são amadas. O respeito, a confiança e o amor, são algumas das ferramentas que Deus nos oferece para o crescimento e o desenvolvimento pessoal: uma pessoa pode enterrar para sempre a sua riqueza, se ninguém o acompanha, de fora. Formação é fundamental para que a OFS tenha outro rosto no cenário da Igreja e do mundo.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Questões:
Quais as feridas que os formandos podem trazer para o tempo de iniciação?
Como descobrir os talentos e possibilidades dos nossos candidatos e os recém-professos?
(Continua no próximo mês).