SETEMBRO/2013
FRANCISCO VOA PARA O ALTO
Nossa Janela aberta se abre para o momento do trânsito de Francisco. O mês de outubro tem cores franciscanas. Uma das tocantes descrições da cena do trânsito se deve ao frade português Fernando Felix Lopes, no seu encantador livro, O Poverello São Francisco de Assis. Eis o texto com o sabor especial do português de Portugal.
E à noitinha, o santo estendido em terra, e à volta os frades todos, em lágrimas, na despedida do Pai! E eis, que num esforço de voz, cortado de agonias, começa ele a entoar:
A minha voz clama pelo Senhor, a minha voz soe ao Senhor…
Senhor atende à minha prece, pois me sinto deveras abatido; livra-me dos meus perseguidores que são mais fortes do que eu. “Arranca a minha alma desta prisão para que eu louve o teu nome; os justos me coroarão, quando me tenhas feito justiça” (Sl 141-142).
Voou para o Alto. Não voltará? Volta de novo à terra, ó Pai São Francisco. Andaste no trabalho ingente e doloroso de arredar os espinhos que escondem no coração do mundo o Reino dos céus; chagaste no trabalho teus pés e mãos, teu peito estalou de cansaço num rasgão sangrento. E já os lobos amansavam suas gulas, as andorinhas andavam presas no encanto de tua voz, e os homens deixavam os campos de batalha para correr atrás de ti em convívio fraterno, e até os infiéis, enternecidos escutaram teus cantares de paz e bem. Parece que já nos sorria o paraíso.
Mas foste embora naquela madrugada de luz que num instante fulgiu no negrume da terra e logo se apagou. E foi outra vez a noite do pecado. Há mais espinhos sobre a crosta da terra: andam à solta,mais açulados e gulosos, os lobos que nos espreitam; fugiram aterradas as andorinhas e as irmãs cotovias, tristes encapuchadas vivem numa saudade imensa daquela madrugada que não chegou a amanhecer. Volta pai São Francisco, ao teu trabalho de encher a terra da paz do Reino de Deus. “Mas se não voltas então me espera, ó Pai, espera-me porque também quero partir contigo”.
O Poverello
São Francisco de Assis
Fernando F. Lopes, OFM
Editorial Franciscana de Braga,1978, p. 492-494