Temos ainda em nossas retinas e ouvidos as imagens e sons da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Foram dias de festa profunda, de alegria incontida, de olhos que brilhavam, se cantos cantados juntos. O Rio de Janeira havia se tornado a capital mundial da força dos jovens, da esperança da juventude. A Ordem Franciscana Secular tem no tema da juventude uma de suas prioridades para o o triênio. Queremos cada vez mais caminhar juntos OFS e JUFRA. Hoje, com toda simplicidade, pretendemos contemplar o mundo em que vivem os jovens. Os responsáveis pelo acompanhamento de jovens (também da JUFRA) precisam levar tudo isso em consideração.
1. Não há um jovem, mas muitos jovens. Não há uma juventude, mas muitas juventudes. Eles estavam nas ruas de Copacabana por ocasião da visita do papa, estiveram no Rock”in Rio”, estão nos estados de futebol, nas noites das baladas, em pequenas sociedades que se drogam, nas casas dos bacanas e na cracolândia. Alguns descem das favelas, outros são filhos de famílias das zonas ricas de Fortaleza, Salvador, São Paulo ou Rio de Janeiro. Alguns conseguiram viver em ambientes educativos e em famílias estruturadas. Uns sobrevivem galhardamente. Outros morrem cedo porque passam a frequentar as escolas da marginalidade, dos assaltos e dos sequestros. Não poucos estão em casas de correção. Uns já são pais e mães solteiros… Outros se tornaram pobres seres que se alimentam a indecente sociedade do consumismo e do dinheiro. Em que mundo vivem os jovens?
2. Vivemos na busca do imediato. É o mundo de hoje. Queremos, queremos aqui e agora, para já. Rapidamente. Nem sempre esse desejo vem acompanhado de compromisso e de paciência. Parecemos crianças pirracentas. Queremos coisas, pessoas, prazeres, agora, imediatamente, sem medir as consequências desse desejo. Podemos dizer que, algumas vezes, essa pressa seria um sinal de inconformismo com as coisas que se sucedem rotineira e mecanicamente, o que seria positivo. Os jovens vivem uma sexualidade meio prematura, meio logo, imediatamente…
3. Conhecemos expressão “sociedade líquida”. Tudo escorre por entre nossos dedos como a água de uma torneira com a qual lavamos as mãos. Nada é sólido: os amigos, o casal, os compromissos, fé, a Igreja… tudo líquido, bem reformável. Ninguém pode viver nessa “liquidez”. Um jovem em estado de formação precisa ter pontos de referência. Será possível encontrar um sentido último da vida que venha a canalizar nossos desejos? Os responsáveis pela JUFRA estão conscientes disto?
4. O jovem vive hoje num mundo descosturado. Cada peça com a qual vai construindo sua biografia é diferente da outra. É como se cada cômodo de uma casa não tivesse porta para comunicar com o corredor e a sala. Cada pessoa, em cada momento, tem sua lógica e tudo é desconectado. O trabalho tem suas leis, os estudos têm sua logica, os namoros têm suas regras… tudo descosturado.Como os pais vão partilhar a vida com os filhos quando voltam tarde do trabalho, quando os filhos não voltam cedo para casa por diferentes motivos, quando aos domingos cada um inventa seu programa. Como partilhar a vida aos domingos quando os filhos voltam de suas baladas, dormem o dia todo ou então trabalham fora, mesmo em dia de domingo? Numa arrumação complicada do fim de semana nas casas e na vida, sobra tempo para a expressão da fé na missa dominical, de maneira serena, consciente? As pessoas, e entre eles os jovens, representam papeis muito diferentes: trabalho, estudo, distração, cuidado da casa, atenções para os pais idosos, formação cristã, compras e vendas, oscilações da bolsa, vontade de ajudar os outros, sendo homem, sendo mulher, sadio ou com saúde. No coração da juventude se vive a explosão da sexualidade numa sociedade erótica , hedonista, meio pornográfica. Como é que os jovens se situam diante de tudo isso? É possível fazer uma costura?
5. Crescemos como pessoas na medida em que vamos alimentando relacionamentos. Os jovens gostam de estar juntos, uns com os outros. Gostam de sair juntos, comer juntos, cantar juntos. Uma das características mais importantes do tempo da juventude é o cultivo de amizades que marcam a vida. E esta comunicação entre os jovens se faz muito intensamente com todos os aplicativos dos celulares e todas a novidades da rede de comunicações. As pessoas vivem dedilhando mensagens em seus celulares, conversam horas e horas com amigos e conhecidos. Vivem a comunicação. E no entanto, essa comunicação nem sempre é profunda. Descartam-se pessoas. Recebe-se uma mensagem. É dada resposta. Por vezes há um encontro, nem sempre profundo. Muitos jovens se sentem profundamente sozinhos e chegam mesmo ao extremo do suicídio. As pessoas custam encontrar o parceiro para o casamento. Cada um vive em sua casa e tem-se medo de arriscar a entrega e assumir um compromisso.
6. Um pensamento de Giacomo Bini, antigo ministro geral dos menores, diz: “Devemos substituir a cultura da aparência, da eficácia, característica do mundo atual com a cultura da interioridade, do silêncio, da escuta obediente e da fecundidade divina”.
Em que mundo vivem nossos jovens?
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM