DEZEMBRO/2013
Irmãos e irmãs, mais uma vez, diante de seus olhos nossa revista de espiritualidade franciscana: Francisco de Assis, o pobre que canta. Estamos no tempo da espera, na quadra das festas e no alvorecer de um ano novo.
Que todos tenham santas e belas comemorações natalinas e que nossas Fraternidades, unidas ao novo Papa, se tornem novas numa Igreja nova e numa Ordem Franciscana sempre em estado de renovação.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
ESPERAMOS A VINDA DO SENHOR COM VIGILÂNCIA E AVIDEZ
Novamente vivemos o tempo da espera, o tempo das preparações, o tempo do advento. O último livro da Bíblia, o texto do Apocalipse, fala do grande desejo do coração humano: “Vem, Senhor Jesus!” E a tônica do tempo do advento é o cultivo de uma disposição interior de vigilância. Nem sempre percebemos, em nossas sociedades, o senso da espera pelo Senhor. Muitos de nossos contemporâneos estão mais ou menos satisfeitos com o que têm de sorte e não esperam nenhuma novidade da parte do Senhor. Só pode existir verdadeiramente Natal quando as pessoas se colocam em estado de vigilância e cantam a cantiga da esperança. O Senhor que se aproxima pede nossa atenção.
Vigiar é guardar no coração a palavra que vai sendo semeada em nossa vida. Vigiar é querer bem. Consiste na humildade de fazer espaço para Jesus. É conservar com alegria o amor que recebemos e fazer o propósito de comunicá-lo. Vigiar significa não viver para si, mas saber que temos responsabilidade para com os outros, sobretudo para com os mais pobres. Vigiar é o brado do advento que torna possível a Deus de “abandonar” o céu e vir ao nosso meio para renovar-nos interiormente e para podermos renovar o mundo. Ninguém pode se dar por satisfeito pelo que é e pelo que alcançou na vida espiritual. Tudo precisa ser retomado. Não podemos ficar repetindo os mesmos estribilhos e as mesmas “ladainhas” piedosas. O Senhor que vem, vem sempre revestido do novo.
O mundo precisa de seres transfigurados, precisa do advento. Os pobres, os sofredores, os doentes, os condenados à morte precisam do ar do advento. Os pequenos, os jovens, os idosos, cada um deles necessita do advento para poderem reencontrar Deus que os visita na pessoa de Jesus. O Senhor vem querendo deixar marcas em nossa vida pessoal, em nossas comunidades e em nossas fraternidades.
Há, antes de tudo, essa postura de vigiar, ou seja, de não dormir. Somos convidados a nos portar como sentinelas, pessoas que não sejam sonolentas. Sentinelas que esperam a visita do Senhor. Sentinelas para advertir nossos irmãos que andam meio entorpecidos pelo dinheiro, pelos bens, pela loucura dos prazeres doidos que o Senhor marca encontro com eles no rosto do Menino.
Esperamos o Senhor sem medo. Agostinho pede que não tenhamos medo do Senhor que vem: “Quem não tem inquietações aguarda com serenidade a vinda do Senhor. Pois que amor ao Cristo é esse, que teme a sua chegada? Irmãos, não nos envergonhamos? Amamos e temos medo de sua vinda. Será que amamos? Ou amamos muito mais nossos pecados? Odiemos, portanto, esses mesmos pecados e amemos aquele que vem castigar os pecados. Ele virá, quer queiramos ou não. Se ainda não veio, não quer dizer que não virá. Virá em hora que não sabes, se te encontrar preparado, não haverá importância não saberes”.
Santo Efrém: “Velai quando o corpo dorme porque nessa ocasião é a natureza que nos domina, e nossa atividade não se encontra dirigida pela vontade, mas pelos impulsos da natureza. E quando reina sobre a alma um pesado torpor, por exemplo, a pusilanimidade ou a melancolia, é o inimigo que domina a alma e a conduz contra a sua aspiração natural. Apropria-se do corpo a força da natureza, e da alma o inimigo. Por isso nosso Senhor falou da vigilância da alma e do corpo, para que o corpo não caia num pesado torpor, nem a alma no entorpecimento e temor”.
Somos seres esfomeados. Precisamos do alimento que vem do alto. Corremos rumo a Belém casa do Pão. Esperamos a vinda do Senhor examinando nossa consciência para ver se estamos na delicadeza, escutando os profetas que nos falam de um tempo em que as armas de guerra se transformam em foices e enxadas para lavrar a terra. Queremos nos assentar à mesa da grande confraternização.
Queremos ser mães do Salvador. Acolhendo a Palavra geramos o Senhor em nós. Desejamos ser como Maria no sentido de que a Palavra gere Deus em nós. São Francisco, na Carta aos Fiéis: “Somos suas mães, se com amor e consciência pura e sincera o trazemos em nosso coração e em nosso seio e o damos a luz em obras santas que sirvam de luminoso exemplo aos outros” (Carta aos Fieis, segunda recensão).
Esfomeados, esperamos a visita do Senhor! Queremos nos assentar juntos à mesa e sermos alimentados pelo Altíssimo na grande ceia da confraternização.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM