Havia um problema sério de cegueira naquela família. A doença passava de geração em geração, como de pai para filho. Aquela mulher foi ficando cega. Aos poucos. O processo começou pelos 30 e poucos e aos 40 anos ela já nada enxergava. Tinha saudades de ver os canteiros de margaridas, as socas de azaleias, os ipês roxos e amarelos, o rosto do marido e o semblante dos filhos, a penumbra do entardecer e o sério de um céu cheio de nuvens de chuva. Enxergava somente e muito bem com os olhos do coração. Tinha saudades de ver o rosto dos filhos e não conhecia os traços do semblante dos netos que foram chegando. Sua família assumiu o serviço bonito de levar alegria ao coração de uma esposa e mãe que passou a não enxergar.
