Por: Rosa Maria M. Cansian –
Psicóloga, Consultora em Desenvolvimento Humano,
voluntária visitadora da Associação Amigos do Hospital Universitário da UFSC-Florianópolis/SC.
A preocupação de quem faz visitas a pacientes, idosos ou qualquer pessoa é: será que estou preparado para isso? O que devo ter ou fazer para me aproximar de uma visita adequada? No livro “Vida em Fraternidade”, chama atenção a descrição do “Frade Perfeito”. Podemos nos perguntar se existe alguém que possa ser considerado “perfeito”, mas logo percebemos que as características descritas dizem respeito a vários frades que foram exemplo delas:
– Fé
– Simplicidade e Pureza
– Cortesia
– Conversa agradável e devota
– Mente elevada em contemplação
– Constante oração
– Paciência
– Vigor corporal e espiritual
– Caridade
– Solicitude
Se formos pensar, essas são habilidades que todos deveríamos possuir ou, pelo menos, tentar desenvolver para que pudéssemos ser mais humanos e tivéssemos relações mais amigáveis e tranquilas. Na relação com pessoas mais fragilizadas, como enfermos e idosos, isto se faz ainda mais importante. Mas podemos ficar tranquilos pois, se não temos todas bem desenvolvidas, temos a possibilidade de contarmos uns com os outros e, juntos, conseguimos obter um resultado mais efetivo: “os irmãos são corresponsáveis pela vida da Fraternidade a que pertencem…”. Cada qual pode colaborar com suas habilidades e qualidades e cada qual pode desenvolver aquelas que estão precisando de maior investimento. Para isso, constatamos que é fundamental o autoconhecimento, porque ele nos dá a dimensão do que é nosso e do que é do outro; onde está nossa habilidade e onde está a do outro; onde devemos investir e o que podemos celebrar. O autoconhecimento faz pensar em quem somos, como enxergamos o mundo, como interpretamos os acontecimentos, quais as nossas qualidades e defeitos, o que devo tomar para mim e o que devo reconhecer que é do outro. Jung, um psiquiatra que estudou o comportamento humano, nos auxilia a entender por que enxergamos e agimos de determinadas formas.
Jung encontrou padrões previsíveis e diferenciados do comportamento normal, observando seus pacientes e também outras pessoas.
Jung acreditava que todos temos preferências naturais por um tipo de percepção e por um tipo de julgamento. Ele também observou que algumas pessoas são levadas mais pelo mundo exterior ou interior do que outras. Conforme você for praticando suas preferências, você irá desenvolver perspectivas e maneiras distintas para interagir com a vida e com as pessoas. As diferenças entre aquilo que as pessoas preferem, utilizam e desenvolvem resultam em diferenças fundamentais entre elas. Os padrões previsíveis resultantes formam o tipo psicológico.
Assim, existem alguns pontos que precisamos estar constantemente avaliando e revisando em nós mesmos, para que sejamos visitadores qualificados e que realmente farão a diferença, diante de quem recebe nossa visita:
– Autoconhecimento e conhecimento do Outro;
– Habilidade para OUVIR, muito mais do que para falar;
– Olhar atento não só para quem é visitado, mas para o grupo do qual ele faz parte (cuidadores, familiares);
– O que preciso estar consciente a respeito do meu funcionamento para não misturar com os do visitado (vida familiar, doenças, filhos);
– Ter presente as questões do Roteiro para a Visita (Livro Vida em Fraternidade, p. 242), pois ele pode ser o fio condutor para uma visita que contempla os vários aspectos da vida de quem é visitado por nós, aspectos físicos, mentais e espirituais. Cada um diz respeito ao estado geral do irmão visitado. No aspecto físico o olhar deve estar nas condições do corpo, a capacidade física, disposição, nutrição. No aspecto mental, atentar para os aspectos cognitivo, psicológico e emocional; o equilíbrio entre emoções e sentimentos diante do desafio que está enfrentando, na percepção da realidade que está vivendo. No aspecto espiritual, precisamos estar atentos aos aspectos relacionados a fé, crenças, a conexão com o divino e sagrado, traduzido na religião que escolheu para seguir. O aspecto social também é muito importante porque nos faz observar os relacionamentos do irmão visitado seja com a família, amigos, cuidadores, comunidade em que vive.
No SEI – Serviço aos Enfermos e Idosos, temos as premissas de São Francisco que enxergava no amor pelo outro, no respeito e no cuidado pela vida, os princípios do serviço. Esses princípios são traduzidos no afeto, na atenção fraterna e preocupação com a saúde física, mental e espiritual dos irmãos e irmãs.
Todos esses pontos colocados não são novidade. Porém, precisamos jogar luz sobre eles para que não se tornem apenas gestos mecanizados da nossa missão. Quando fazemos algo por um longo tempo, temos a impressão de que nada mais precisa ser aprendido ou revisado e este pode ser o grande desafio para cada um de nós. Nossa mente e nosso coração precisam de constante aperfeiçoamento e, para tal, precisamos estar abertos e disponíveis. Nossa missão, enquanto existirmos, é sermos seres humanos melhores para que possamos representar, com muita honra, a Jesus Cristo, a São Francisco de Assis e também atendermos ao tema escolhido pelo nosso Papa Leão XIV para o Dia Mundial do Enfermo em 2026: “A compaixão do samaritano”, onde Jesus é o bom samaritano que se aproxima da humanidade, nos tempos atuais, através de cada um de nós.
Por fim, quero ressaltar quatro aspectos que considero fundamentais para quem escolheu fazer visitas:
– Ser cuidadoso no uso da palavra. Se não for possível encontrar a palavra adequada, fique em silêncio.
– Não tirar conclusões precipitadas.
– Não levar nada para o lado pessoal.
– Fazer sempre o seu melhor.
Talvez o jeito mais fácil de viver bem seria incorporar no nosso dia estas nuances da existência: demonstrar afeto, permitir-se estar com os amigos, fazer-se feliz, fazer as próprias escolhas, trabalhar com algo que faça sentido no seu tempo de vida, ser feliz e levar Paz e Bem e um sorriso aos irmãos que nós visitamos.
Que Deus nos abençoe! Paz e Bem!
(Este artigo foi produzido a partir da Live SEI, levada ao ar em 22/10/2025, através do canal OFS do Brasil, no YouTube.)
