“Antes que nascesses, eu te santifiquei e eu te designei profeta às nações.” Jr 1,5
Desde o início da criação, cada um de nós foi escolhido e chamado de forma única por Deus para cumprir e participar de sua missão. Este amor eterno e infinito de Deus nos assegura que nosso propósito não é arbitrário ou acidental, mas deliberado e divino. A Promoção Vocacional é uma tarefa espiritual profunda que envolve discernir e aceitar o chamado de Deus em nossas vidas. Trata-se de cultivar uma cultura de escuta e abertura à orientação do Espírito. Cada vocação tem a sua raiz na iniciativa de Deus, e Ele espera pacientemente por nossa resposta, sussurrando aos nossos corações as palavras de Isaías: “Chamei-te pelo teu nome” (Is 43,1). Este é um convite profundamente pessoal e específico, enraizado em seu amor infinito.
A Igreja, na sua sabedoria, ensina-nos que cada pessoa traz em si uma vocação divina, um chamado único inscrito em seu ser. Através do batismo, recebemos um selo espiritual indelével de nossa pertença a Cristo, integrando-nos à missão da Igreja de anunciar e viver o Evangelho. Para aqueles chamados ao carisma Franciscano, o convite é viver o Evangelho segundo o espírito de São Francisco de Assis. A Promoção Vocacional franciscana consiste em criar uma cultura que encoraje as pessoas a ouvirem a voz de Deus em suas vidas. O próprio São Francisco ouviu esse chamado em um momento de profunda conversão, que o levou a abraçar uma vida de pobreza radical e serviço.
A Regra da Ordem Franciscana Secular começa com uma declaração que reflete esta divina diversidade de vocações: “a família franciscana, uma entre muitas famílias espirituais suscitados pelo Espírito Santo na Igreja […]”. Esta vocação nos chama a encarnar de uma forma única os valores do Evangelho, respondendo ao chamado de Deus como a Bem-Aventurada Virgem Maria, que humildemente se submeteu à vontade de Deus com seu sim: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
A Promoção Vocacional é destinada àqueles que descobriram sua vocação e àqueles que ainda a buscam. Para aqueles que responderam ao chamado de seguir São Francisco de Assis, é essencial seguir aprofundando seu compromisso de seguir seus passos. Para aqueles que ainda buscam, é importante perceber o momento de ouvir e responder com atenção.
Quem pode pertencer à Ordem Franciscana Secular? (CCGG 39.2)
Católicos que vivem em comunhão com a Igreja:
- Leigos (homens e mulheres);
- Clero secular (diáconos, padres e bispos).
Aqueles que estão vinculados por um compromisso perpétuo a outra família religiosa ou instituto de vida, não podem pertencer à OFS (CCGG 2).
O papel do Espírito Santo na vocação
O Espírito Santo é a principal força motriz na história de qualquer vocação. O Espírito atua como a voz divina que sussurra no fundo do coração, convidando-nos a confiar no plano de Deus e para entrar no desconhecido com coragem e fé. O Espírito Santo é tanto o iniciador quanto o sustentador. É o Espírito que desperta em nós os primeiros sinais de um chamado, sobretudo em momentos de oração e discernimento. Através do discernimento orante, devemos deixar-nos guiar pelo Espírito e afirmar, como São Francisco: “É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração” (1Cel 8,22). Tendo encontrado o que deseja, continua “olhe dentro desse espelho todos os dias, ó rainha, esposa de Jesus Cristo e espelhe nele, sem cessar, o seu rosto” (4In 15-16). O discernimento não é um evento único, mas um processo que dura a vida toda e alinha a nossa vontade com o plano de Deus. No discernimento, o Espírito torna-se nosso companheiro, iluminando o caminho à frente e nos proporcionando a sabedoria e a clareza necessárias para tomar decisões.
Como franciscanos seculares, somos convidados a uma união mais profunda com Deus por meio de nossa vocação. Como o jovem Samuel, que precisou da orientação de Eli para dizer: “Fala, que teu servo ouve” (1Sm 3,10), nós também precisamos de Assistentes Espirituais, oração e comunidade para reconhecer e abraçar a nossa vocação. Esta jornada ao longo da vida nos recorda das profundas palavras de Jesus: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes fruto e para que o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16).
A vocação na perspectiva de São Francisco e outros santos
São Francisco de Assis ao ouvir o chamado do Senhor para “reconstruir a minha Igreja”, interpretou-o inicialmente como um chamado para reparar a estrutura física de São Damião. Somente através da oração e discernimento compreendeu que sua missão era renovar espiritualmente a Igreja, inspirando inúmeros seguidores a abraçar vida de humildade, paz e simplicidade. Sua vocação nasceu de um encontro com Cristo que o levou a abraçar o Evangelho com simplicidade e alegria. Francisco ouviu o chamado de Deus para “reconstruir minha Igreja” e respondeu com confiança inabalável, dedicando-se a uma vida de serviço, paz e harmonia com toda a criação.
Da mesma forma, Santa Clara de Assis exemplificou o espírito franciscano com sua pobreza radical e sua confiança na providência divina. Ela caminhou ao lado de Francisco como um farol, demonstrando que a vocação não é buscar a glória, mas abraçar a humildade de Cristo. Outro exemplo inspirador é Santa Isabel da Hungria, padroeira da Ordem Franciscana Secular, que viveu a sua vocação dedicando sua vida servindo aos pobres e doentes.
Nos tempos modernos, Santa Marianne Cope exemplificou o carisma franciscano ao cuidar com coragem dos leprosos em Molokai, Havaí. Sua vida foi um testemunho de amor desinteressado, um reflexo da compaixão de Cristo pelos marginalizados. Estas santas nos lembram que toda vocação, embora única, está unida em seu objetivo final: trazer Cristo ao mundo.
A vocação de outra santa franciscana secular, Gianna Beretta Molla (1922-1962), brilhou intensamente no cumprimento dedicado das responsabilidades diárias de esposa, mãe e médica. Seu sincero desejo era formar uma família verdadeiramente cristã. Gianna tornou-se famosa pela santidade de sua vida e seu extraordinário ato final de amor, escolhendo sacrificar sua própria vida pela de seu bebê.
O ponto comum entre essas santas é a disposição de dizer sim a Deus diante da incerteza, confiando que suas vidas dariam frutos para o Reino. Suas histórias nos encorajam a discernir nossas vocações com paciência e oração, sabendo que o chamado de Deus se adapta à nossa identidade e propósito único.
Compreendendo nossa vocação
Como afirmam as Constituições Gerais da Ordem Franciscana Secular: “A vocação à OFS é uma vocação específica que dá forma à vida e à ação apostólica dos seus membros” (CCGG 2.1). A especificidade da nossa vocação reside na intensidade com que vivemos e servimos. A nossa vocação é única porque abraça o espírito de São Francisco, permanecendo totalmente imersa no mundo como leigos ou clérigos seculares. Existem cinco aspectos vitais para compreender nossa Vocação: Viver o Evangelho, Fraternidade, Testemunho de Paz e Justiça, Oração e Contemplação e Presença no mundo.
No entanto, muitos membros têm dificuldade em expressar a singularidade da sua vocação. Às vezes, isso é reduzido a uma lista de práticas piedosas ou histórias da vida de São Francisco, sem dar um testemunho de nossa vocação para os outros. Para contrariar isso, devemos compreender e viver profundamente as características que definem a nossa vocação franciscana, permitindo-lhe tornar-se um testemunho convincente para o mundo.
Secularidade: Vivendo o Evangelho no Mundo
Como franciscanos, nossa vocação está enraizada na secularidade. As Constituições Gerais afirmam: “A índole secular caracteriza a espiritualidade e a vida apostólica dos membros da OFS” CCGG 3.1). Isto significa que somos chamados a construir o Reino de Deus através da nossa vida cotidiana, trabalhando no mundo enquanto buscamos a caridade perfeita. A secularidade nos permite construir uma ponte entre o sagrado e o ordinário, infundindo valores evangélicos em todos os aspectos da vida. Os franciscanos seculares devem pedir constantemente ao Senhor: “Que quereis que eu faça (1Cel 6).
O Papa Francisco aprofunda o significado da nossa missão no seu discurso: “Que a vossa secularidade seja cheia de proximidade, compaixão e ternura. Que sejais homens e mulheres de esperança, empenhados em vivê-la e também em organizá-la, traduzindo-a em situações na vida quotidiana, nas relações humanas, no compromisso social e político; alimentando a esperança no amanhã, aliviando a dor de hoje.” O Ministro Geral da Ordem Franciscana Secular, Tibor Kauser, explica com mais detalhes as características da vocação franciscana secular, ecoando as palavras do Santo Padre: “Os franciscanos seculares são livres para fazer o bem; são engenhosos e talentosos; são sensíveis à justiça; respeitam a criação; buscam a paz; buscam soluções simples; buscam instrumentos mínimos, mas máxima compaixão e solidariedade; e possuem uma mansidão corajosa e uma determinação terna”. Isto demonstra uma maturação na vocação: seguir Cristo por onde quer que se vá.
Por secularidade entendemos que nossa missão é um chamado para integrar fé e ação na vida diária; nossa missão está entrelaçada na essência das experiências cotidianas. Cada momento torna-se uma oportunidade para refletir os valores do Evangelho. Portanto, mais do que pregar com palavras, nossa missão implica viver de uma maneira que inspire os outros a buscar a Deus. É uma convicção de que viver o Evangelho significa envolver-se ativamente com os desafios do mundo.
Promoção das Vocações
Promover vocações envolve conscientizar e inspirar as pessoas a considerarem essa maneira única de viver o Evangelho no mundo. Trata-se de compartilhar a beleza, a alegria e a missão do carisma franciscano em nossas vidas. A experiência e as estatísticas mostram que a promoção das vocações é um privilégio e uma responsabilidade para cada franciscano. O artigo 45 das Constituições Gerais estabelece: “A promoção das vocações na Ordem é um dever de todos os irmãos e irmãs e é um sinal da vitalidade das próprias fraternidades” (CCGG 45.1).
As pesquisas destacam a eficácia de diversas iniciativas, como as experiências “Venha e Veja”, os retiros de discernimento e oportunidades de missão para fomentar vocações. Ferramentas modernas, como as redes sociais, também desempenham um papel fundamental em alcançar potenciais candidatos (Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado, 2009). No entanto, o convite mais marcante continua a ser o testemunho vivo dos membros da fraternidade. Como observa um relatório, “foi a experiência dos membros e sua maneira de viver a vida religiosa que mais influenciou a decisão de ingressar no seu instituto”.
A promoção vocacional autêntica requer uma abordagem sincera, orante e intencional que respeite a singularidade da vocação de cada um. Por isso, exige determinação, perseverança e paciência. Este processo é frequentemente comparado ao trabalho do semeador na parábola de Jesus. Como bem lembramos da parábola, o resultado da semeadura dependia da terra onde caía o grão. Para nós, isso pode significar a fidelidade com que, como São Francisco, fomos chamados a reconstruir a Igreja e, inspirados pelo seu exemplo, vivermos a nossa vocação franciscana leiga para sermos “testemunhas e instrumentos da sua missão entre os homens, anunciando Cristo com pela vida e pela palavra” (ROFS 6). Para nós, a promoção vocacional deve refletir os carismas da simplicidade, humildade e fraternidade. Viver e compartilhar esses valores demonstram verdadeiramente a riqueza do nosso modo de vida franciscano. Portanto, deve brotar de um profundo amor a Cristo e a Igreja, de um desejo genuíno de ajudar os outros a encontrar o seu caminho e do compromisso de acompanhá-los nesse caminho.
Aqueles que sentem a voz do Senhor chamando-os para a Ordem Franciscana Secular devem ouvir a voz de Deus, rezar e buscar orientação.
Eles devem passar por um processo de formação. A formação é realizada em etapas, desde o momento em que alguém se sente atraído a ingressar na Ordem Franciscana Secular até o momento da profissão solene, que não é o fim do caminho vocacional, mas um novo começo para viver plenamente em Cristo, seguindo os passos de São Francisco de Assis. Nossa verdadeira vocação é testada através de como vivemos depois de fazer a profissão permanente.
Conclusão
A nossa vocação como Franciscanos Seculares é um dom sagrado e uma profunda responsabilidade de viver o Evangelho no mundo com simplicidade, humildade e alegria, seguindo o exemplo de S. Francisco. Vivendo com autenticidade e alegria, não só honramos a Deus, mas também inspiramos outros a considerar o modo de vida franciscano. Nossa vocação nos desafia a sermos testemunhas vivas do amor de Cristo, transformando as experiências cotidianas em oportunidades para refletir a presença de Deus. Rezemos pela graça de aprofundar nosso compromisso com a nossa vocação e ser instrumentos de paz, amor e esperança no mundo. Ao abraçar a nossa Regra de Vida, cumprimos uma missão única: “reconstruir a Igreja” e contribuir para o desenvolvimento do Reino de Deus em nosso contexto secular. Que nós, como São Francisco, busquemos continuamente reconstruir a Igreja, não com tijolos e argamassa, mas com vidas transformadas pelo Evangelho. Todos os dias devemos nos lembrar do nosso compromisso e sempre olhar para trás, para o começo, mantendo o que precisa ser mantido, fazendo o que precisa ser feito, sem cessar.
Publicação Original: https://ciofs.info/es/2025/07/01/spiritual-reflection-on-vocation-promotion/