Aquela mulher havia se sentado no primeiro banco da igreja do Coração de Jesus. Estava para começar uma cerimônia de ordenação presbiteral. A mulher chegara bem cedo. Colocara-se carinhosamente diante do Senhor. Para ela era uma cerimônia toda especial: seu filho seria ordenado ministro do Altíssimo. O canto inicial ecoou e a procissão de entrada começou a deslocar-se. Eram dois os que seriam ordenados. A mulher vivia um momento de profunda alegria. Todas as fibras de seu interior estavam fortemente atividas. Desejava que esta vivência penetrasse o mais íntimo de seu coração. Depois da Liturgia da Palavra chegara o momento da ladainha dos santos. O filho estava prostrado por terra… Ela começou a responder as invocações e depois… depois evadiu-se. Lembrou-se do tempo da gravidez do filho, do nascimento de André que recebera esse nome em homenagem ao avô paterno, recordou-se das peraltices do menino, de sua primeira comunhão, do dia em que ele se perdeu do pai num jogo de futebol no Maracanã. Lembrou-se dos amigos que ele fora fazendo, do desejo que sempre manifestava de visitar doentes e velhos, também do tempo das meias loucuras do adolescente que voltava tarde da noite, da longa doença que fez com que perdesse um ano na escola, do retiro de jovens que havia mudado sua vida. Um pedaço dela estava prostrado enquanto se cantava a ladainha dos santos. Aquele que viera de dentro dela em breve seria servo do Senhor, “outro Cristo”, ministro do Altíssimo. Tudo foi se passando e seu coração quase explodiu quando recebeu a primeira bênção sacerdotal desse André que era seu filho e sacerdote do Altíssimo.
Frei Almir Ribeiro Guimarães