Todos nos rejubilamos com os progressos alcançados pela medicina nos últimos tempos. Olhamos com admiração essas Unidades de Terapia Intensiva. Aparelhos sofisticados manejados por profissionais competentes, técnicas de reanimação, medicamentos de última geração prolongam a vida de pacientes gravemente enfermos. Muitos pacientes que freqüentam esses espaços passam novamente a circular por essa terra dos homens, a alimentar sonhos, arquitetar projetos e verem que o desfecho de suas vidas foi adiado. Há, é verdade, os que sabem que seus dias estão mais ou menos contados.
Há algum tempo li numa revista de espiritualidade espanhola um texto escrito por uma pessoa gravemente doente:
“À minha família, ao meu médico, a Frei Ambrósio, sacerdote que costuma me acompanhar espiritualmente e a meu notário;
Se, por acaso, chegar o momento em que eu não puder mais externar minha vontade a respeito dos tratamentos médicos que eventualmente me venham a ser ministrados, peço que esta carta-declaração seja considerada expressão formal de minha vontade assumida de forma consciente e responsável e com toda liberdade, e que seja respeitada como se fosse um verdadeiro testamento.
Tenho convicção de que a vida neste mundo é um dom e uma bênção de Deus, mas não é valor supremo e absoluto. Sei que a morte é inevitável e que coloca termo à minha existência terrena. A partir do universo da fé creio que com a morte se nos é aberto o caminho para uma vida que não termina, junto de Deus.
Por isso, eu, abaixo assinado, peço que em razão de minha enfermidade e se estiver em situação crítica irrecuperável, não seja mantido em vida por meio de tratamentos desproporcionais ou extraordinários, não me seja aplicada a assim chamada eutanásia ativa, nem seja prolongado, abusiva e irracionalmente, o processo de minha morte. Ao contrário, isto sim, que me sejam administrados adequados tratamentos para aliviar as dores.
Peço da mesma forma que me ajudem a assumir cristã e humanamente minha própria morte. Desejo preparar-me para este acontecimento final da vida em paz, em companhia de meus entes queridos e recebendo o consolo da fé cristã.
Subscrevo esta carta-declaração após madura reflexão. Peço aos que tiver o encargo de cuidar de mim que respeitem esta minha vontade aqui claramente expressa. Estou bem consciente que lhes confio grave e difícil responsabilidade. Precisamente para dividir com vocês esta responsabilidade grave e delicada e para tirar de todos eventuais sentimentos de culpa, redijo e assino esta Declaração
Data…
“Assinatura…”
Estamos diante de um verdadeiro testamento. O doente não confia a outros circunstâncias e responsabilidade em que vai se dar sua morte. Ele deseja ser protagonista da própria morte.
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