OUTUBRO/2013
COMUNICAÇÃO EM REDE
Prós e contra
No número anterior desta revista eletrônica já abordamos o tema da comunicação que é uma das prioridades da OFS no Brasil. Continuamos a refletir sobre o tema nesta rubrica que reflete precisamente sobre nossas prioridades. Aqui apoiamo-nos numa reflexão de Juan Rubio Fernández,El desafio de losmedios de comunicación, na Revista espanhola Sal Terraen. 100 (2012) p. 513-523.
1. Vivemos na era da comunicação. O mundo de hoje quer comunicar-se intensamente. Os franciscanos seculares, aos poucos, vão se adentrando nos meios modernos de comunicação. Repetimos o que foi dito em nosso número anterior: a comunicação visa a comunhão e, via de regra, esse estado de união entre as pessoas se faz com a presença real. Mas a internet, twiter, facebook estão aí, rádio, televisão… Tudo comunica. Estamos imersos na comunicação. Novamente chega à nossa mente o bordão do Abelardo Barbosa, o Chacrinha: “Quem não se comunica, se trumbica”.
2. Todo conceito de internet está baseado na grande metáfora da “rede das redes”. Estamos diante de milhões de pontos de comunicação espalhados pela face da terra conectados por uma intrincada rede de cabos. A internet é concebida como um grande oceano de informações em que o usurário é o navegante, cibernauta ou internauta. Tal se realiza navegando em milhões de “sites” que existem na Rede. Internet é como um fórum gigantesco onde podemos todos nos comunicar. O internauta busca as fontes que deseja e, ao mesmo tempo, emite opinião e comunica-se instantaneamente. É voz de todos em silêncio. Temos notícias, cultura, intercâmbio. Internet é a democratização do conhecimento como a fotografia foi a democratização do retrato.
3. Juan Rubio Fernández assim se exprime: “Às vezes penso na Internet como a solidão no meio do oceano. Com um escafandro bem ajustado, o escafandrista contempla a beleza do universo submarino, mas no silêncio e na solidão”.
4. Desde a irrupção da internet a comunicação entrou em nova era. Hoje podemos abandonar a solidão e ver-nos imersos num mundo conectado de mil maneiras. Passamos do off-line para o online. Ninguém está longe, todos parecem estar constantemente à nossa disposição. Uma comunicação vinte e quatro horas faz com que nunca estejamos sós. Cada dia é mais fácil encontrar convidados virtuais que interrompem uma reunião, uma sessão de cinema ou qualquer encontro que nos pediria concentração e seriedade. Muito comum que durante a refeição familiar os jovens estejam “chateando” com os amigos e não prestando atenção na conversa em torno à mesa. Isto acontece nos momentos de descanso, nas reuniões de trabalho, inclusive nas celebrações litúrgicas. Basta observar na rua as pessoas andam e falam ao celular (mesmo dirigindo). Falam para dizer pouca coisa. Qual é a qualidade humana de tantas comunicações? Será que as pessoas simplesmente não buscam, com tanta fala e digitação, dizer que existem? Parece sofrerem de gélido abandono. As redes sociais abrem avenidas insuspeitadas. É um novo perfil do homem e da mulher que configura a pessoa de uma outra maneira. Todos precisaram prestar atenção e colocar alma na rede. Não seria esta a missão da Igreja com sua evangelização? Comunicação, mas tão impessoal, tão atabalhoada, tão superficial?
5. Apoiado nos Lineamenta do Sínodo da Nova Evangelização que se realizou em Roma ainda sob a presidência de Bento XVI, Juan Rubio Fernández lembra alguns pontos positivos: maior acesso à informação, maior possibilidade de conhecimento, intercâmbio, formas novas de solidariedade, capacidade de construir uma cultura cada vez mais mundial, fazendo que os valores e melhores frutos do pensamento e da expressão humana se transformem em patrimônio de todos. Essas potencialidades não podem nos impedir de ver os perigos. A cultura da internet leva a uma profunda concentração egocêntrica sobre si mesmo e suas necessidades individuais. Acentua-se a dimensão emotiva na estruturação das relações e os vínculos sociais. “O ponto final a que pode levar estes riscos consiste na cultura do efêmero, do imediato, da aparência: quer dizer uma sociedade incapaz de memória e de futuro.”
6. Diante de tudo isso, precisamos ter critérios para o uso dos meios de comunicação e desenvolver aquilo que pode nos ajudar a ser mais gente e a tornar o evangelho mais conhecido. Alguns critérios:
– Perguntar-nos se as informações que nos chegam nos ajudam a crescer como seres humanos, se são verídicas, se nos ajudam a viver com os outros. Nem tudo o que nos trazem os meios de comunicação tem valor ou o mesmo valor.
– Recuperar a busca da verdade e da reflexão. Diante dos meios de comunicação restaurar o método: ver, julgar, agir.
– Precisamos passar de passivos a ativos. A televisão e meios todos se ligam, mas também podem ser desligados.
– Deveremos evitar a intoxicação comunitária e a lavagem de cérebro.
– Precisamos voltar a viver esses encontros ou confabulações familiares.
– Associar-nos para denunciar aquilo que manipula as pessoas.
– Recuperar a profissão de jornalista com alguém que nos ajuda a ter critérios de análise da realidade.
– No seio de nossas fraternidades franciscanas fazer com que os irmãos tenham noções necessárias para receberem e enviarem mensagens (e-mails) e, quanto possível, usar as técnicas modernas nas abordagens dos temas. Intensificar a comunicação entre os irmãos de uma fraternidade ou de um regional
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Obs.: Este assunto precisa ainda ser melhor explorado em outros lugares.