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COMUNICAÇÃO: ESTREITANDO OS LAÇOS ENTRE AS PESSOAS

COMUNICAÇÃO: ESTREITANDO OS LAÇOS ENTRE AS PESSOAS

   Reflexões elementares e básicas

 

 

Uma das prioridades da Ordem Franciscana Secular do Brasil no atual triênio é da comunicação. Tema amplo e fundamental em nossos dias.  Ressoa sempre em nossos ouvidos um bordão que Abelardo Barbosa, o Chacrinha, repetia sempre: “Quem não se comunica, se trumbica” .  Não basta apenas falar.  Comunicação não é encher a cabeça de um e de outro de noticias e falas. A verdadeira comunicação exige que corações falem a corações, pessoas falem a pessoas, que pessoas escutem outras pessoas.  Nas poucas linhas deste texto fazemos algumas poucas considerações.

 

1.Compreendemos que o Capítulo Nacional da OFS de Brasília (agosto de 2012) tenha escolhido como uma de suas prioridades o urgente tema da comunicação. Tudo começa na fraternidade local onde as coisas e a vida precisa ser comunicada.  Instâncias superiores da OFS  nos transmitem textos de formação, orientações, decisões, convocações para encontros.  Tudo chegará até onde está o último dos irmãos. A comunicação se faz de muitos modos: cartas, circulares via correio, via internet, telefone, sobretudo celulares e a rede de comunicação social. A irmã idosa e doente precisa ser “alimentada” e “visitada” pela seiva da fraternidade, tudo precisa lhe ser comunicado, tanto o afeto fraterno como as datas dos encontros; os membros da fraternidade local precisam conhecer os dias de retiro, as programações do regional, os grandes acontecimentos da Família Franciscana. Sem um intercambio de informações, aos poucos, os grupos e as pessoas se isolam.  E quem não se comunica se trumbica. A vida deixa de circular.

2.A palavra comunicação envia para o latim comunicare que sugere, entre outras coisas, fazer comunhão. Na comunicação há sempre várias pessoas, há transmissão de sinais (palavras, símbolos, etc), criação de um espaço de partilha. Normalmente a comunicação não visa tão somente a mente, mas  busca criar espaços de intimidade, porque a comunicação aponta para a formação de uma comunidade de pessoas.

3. Há uma infinidade de modalidades de comunicação: dois enamorados passeiam pelo parque, de mãos dadas, sem falar, mas exprimindo afeto pela leveza dos passos e o sorriso que dança em seus lábios; há a comunicação da presença de mulher junto ao leito do marido que alterna momentos de lucidez com outros quase  em estado comatoso;  há o sino da igrejinha que badala meia hora antes da missa;  há o roxo do paramento do sacerdote avisando que é advento ou natal; há o vestido escuro que a mulher antiga usa para dizer  que está de luto; há o vento quente que anuncia a chegada de tempestades e chuvas; há o aperto de mão e abraço  cálido que exprime amizade.  Normalmente falando a palavra escrita ou falada  é a maneira mais perfeita que expressa nosso pensamento, nos revela ao mundo exterior e é vinculo mais potente.  Um dos maiores privilégios humanos é a palavra. Constitui a expressão mais perfeita de nosso pensamento. Uma palavra curta e breve pode realizar maravilhas. Nem toda palavra só ergue; há aquelas que levam o ouvinte ao mais profundo desespero.  Há maridos ou mulheres que se suicidam depois de uma conversa tempestuosa com o parceiro ou parceira.  Uma breve e curta palavra pode eliminar o temor, suprimir a tristeza, infundir alegria, aumentar a compaixão. A palavra é o fundamento de todo relacionamento humano. Ela serve para comunicar o que queremos exprimir nossos sentimentos, convencer, negociar, mandar, informar, legislar. A comunicação é uma das mais belas modalidades de caridade.

4. Pequenas regras para que se faça a comunicação entre as pessoas:

–  Para que haja uma boa comunicação entre as pessoas e, na mesma linha, se estabeleça diálogo e comunicação será preciso falar com clareza, colocar gestos eloquentes, dizer as coisas com precisão.

–  Sem majorar a força da comunicação oral ou escrita será preciso dizer que se estima o outro (por palavras ou gestos). Não basta ficar subentendido a vida toda que amamos nossos filhos e apreciamos nossos irmãos da Ordem. Gestos concretos serão colocados com regularidade. O amor é alimentado pela comunicação.

–  O que comunica terá uma fala honesta: falará com limpidez, com convicção, respeitando a liberdade de quem ouve, tentando convencer, quando necessário, sem autoritarismo. A comunicação visa formar, informar e criar laços. 

–  Aquele que escuta precisa ter vontade de escutar. Tem a certeza de que o outro tem algo a lhe dizer.  Há um respeito pela fala daquele que se dirige a nós pessoalmente ou em comunidade.  Para que a comunicação seja efetiva será, pois, necessário escutar, saber escutar, querer escutar.

–  Quem escuta precisará estar disposto a mudar em seu interior aquilo que precisa ser mudado para que a comunhão entre o que fala e ele seja mais perfeita. Há humildade no que fala e no que escuta. Essa mutua compreensão entre duas e mais historias costuma se denominar de diálogo.

–  O que fala não pode esperar sempre uma resposta da parte do outro conforme seu desejo. Não falamos para agradar. Em assuntos polêmicos há uma fala que não é totalmente aceita sem que com isso se venha a quebrar a comunhão.

–  Leva tempo para que a fala, a comunicação se torne comunhão.  Uma coisa é comunicar que alguém vai se casar.  Outra coisa é estabelecer com esse, a quem se comunica que os estimamos de verdade. Leva muito tempo até que se chegue à comunhão.

–  Dever-se-á distinguir a comunicação meramente informativa da outra que visa a comunhão. Muitas vezes pode acontecer que a comunicação-comunhão não aconteça porque circulares foi deixadas nas gavetas. O telefonema avisando aos irmãos que uma irmã faz aniversário é o primeiro passo para que exista a comunicação carinhosa.

 5. Para terminar esta reflexão sobre o tema da comunicação chamamos atenção para alguns elementos bem práticos para que se realize  uma reunião geral com comunicação:

–  As cadeiras precisam estar bem dispostas. A aproximação entre as pessoas e o que fala é importante. Com o intuito de não queremos que nossas reuniões se assemelhem a salas de aula dispomos as cadeiras junto das paredes umas longe das outras. Quase se precisaria de um microfone para falar numa sala de poucos metros quadrados.

–  A pessoa que comunica quer ter a preocupação de falar com boa dicção. Quando não se tem aparelhagem de som, aquele que faça se esforçará por ser ouvido.

–  Na medida do possível nossas reuniões deverão se realizar em lugares silenciosos.  Os ruídos externos impedem a comunicação. Verdade que por vezes os barulhos internos são mais prejudiciais.

–  Não se pode abusar da paciência dos outros. Os que comunicam, comuniquem com clareza e sejam breves. A enxurrada de palavras, sobretudo quando desconexas, causa tédio e em vez de criar comunhão, fabrica distância.

–  Nossa palavra será breve. Vale lembrar aqui uma palavra de São Francisco falando dos pregadores: “Admoesto e exorto aos mesmos irmãos a que, na pregação que fazem, seja sua linguagem casta, para utilidade e edificação do povo, anunciando-lhe com brevidade de palavra, os vícios e as virtudes, o castigo e a glória;  porque  o Senhor, sobre a terra, usou de palavra breve”  (Regra Bulada, cap. IX).

 

Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM

 

Nota: Este tema mal e mal foi aflorado. Voltaremos a ele.