Sexta, 20 Julho 2018 16:59

20 de julho, o Dia Internacional da Amizade.

Vamos conversar sobre um tema belo e delicado: amigos, amizade. “Há palavras que fazem viver”, diz o poeta Paul Eluard. A palavra amizade é precisamente uma delas. Ela não se confunde com a camaradagem que une os companheiros de trabalho. Verdade, que pode começar por aí. É diferente dos laços amorosos que unem um homem e uma mulher no estreitamente dos corpos e dos corações. Isto não quer dizer que os casados não possam usufruir das benesses da amizade. André Comte-Sponville diz lembrar-se com emoção da afirmação de uma mulher referindo-se ao marido ao dizer: ‘É meu melhor amigo”.

Difícil discorrer sobre a amizade: “Difícil falar de amizade sem cair na banalidade, ser taxado de idealismo ou quem ignora seus desvios. A amizade, como a música, é questão de justeza, de precisão; a amizade não tolera notas falsas; uma execução desequilibrada quebra a harmonia. Não é como uma troca de idéias agradável e mundana entre pessoas freqüentando boa companhia, não se confunde com a experiência de camaradagem que une companheiros de trabalho ou de esporte, nem com a paixão amorosa. Há mil matizes na amizade, segundo as estações da vida mas sempre um “não sei o que” a caracteriza, um sabor único ao coração e que o coração reconhece” (Marie-Thérèse Abgrall, Saveurs d’amitié, Christus 209, p.8).

Tentemos ir adiante. Há tantas amizades: aquela que vivem os colegas da escola ou de um clube esportivo; os que viveram juntos a experiência de excursões; os homens e mulheres maduros que gostam de se encontrar simplesmente pela alegria do encontro, em torno de um copo. Camaradagem? Amizade?

Triste ouvir alguém dizer: “Não tenho mais amigos. Todos me abandonaram”. Uma tal constatação pode levar alguém ao mais profundo abismo, acelerar a destruição de um ser diante dos fracassos amorosos e profissionais ou simplesmente existenciais. Somente um amigo verdadeiro pode ser buscado para curar as feridas sem machucar mais ainda.

O amigo não faz discursos, não precisa se preocupar com demonstrações, isto é, provas de amizade. A amizade é fortemente ancorada pela confiança colocada em alguém. Os dois caminham juntos, mas abertos. Os que se estimam como amigos evitam de manchar o relacionamento com qualquer sorte de paixão e pretensão de posse egoísta.

No começo, sim, pode existir uma camaradagem. As crianças, os que freqüentam jogos, os trabalhadores de uma fábrica são colegas e camaradas. Para que daí brote a amizade será preciso fazer vibrar uma outra corda, descobrir outra dimensão, ou seja, da interioridade. O momento em que costumam nascer amizades é no tempo da adolescência. Começa-se a estimar pessoas que estão fora do circuito familiar. Há um jogo de profunda estima entre dois que até então nada mais eram do que dois.

A amizade é, antes de tudo, experiência de encontro, presença de um na vida do outro, um reconhece o outro com seu mistério e sua riqueza. No começo tudo parece depender uma “química”. No nascedouro da amizade há alegria de se reencontrar, prazer de estarem juntos, facilidade de comunicação. Os amigos se sentem bem um perto do outro, não somente pelo interesse da conversa nem por participarem de atividades em comum. Há uma espécie de acordo de fundo que se traduz por certos índices: uma claridade no semblante, olhares que se cruzam com certa conivência ou cumplicidade, vivacidade, gestos de cordialidade.

Mais do que prazer, a amizade faz nascer alegria nos amigos, quer dizer um sentimento de crescimento da vida. Spinoza diz que na amizade vive-se a passagem para uma maior perfeição. Diante do amigo com ele descubro-me mais rico interiormente do que pensava. Parece que o amigo faz brotar o melhor de mim mesmo, sempre sem desejo de posse. Que riqueza!

A amizade é a experiência de um acordo, de uma concórdia, de uma paz mais do que uma semelhança. Os amigos podem discordar um do outro, sem que nada se perca do acordo essencial entre os dois.

Os amigos conversam, se comunicam. Mas as palavras não constituem o todo. Um dos charmes da amizade vem de uma “liga”, de uma feliz alternância entre silêncio e palavra. Se a palavra é essencial, ela não é indispensável Um relacionamento se torna efetivamente amistoso quando suporta o silêncio.

Há muitas e belas páginas escritas sobre a caminhada e a amizade. Quantas amizades não foram nutridas ou alimentadas por longas horas ou dias de caminhada, passeio, competições, caminhadas em que se está lado a lado, próximos um do outro, mas levados pelo movimento e pelo ritmo. Cada caminhando com seu próprio passo, mas no mesmo ritmo. Não é o face a face. O olhar dos dois se dirige para o horizonte que é comum e livremente percorrido por um e pelo outro. Fala e silêncio, conversa e momentos sem fala. Estar perto, mas também viver em silêncio e separados. A amizade é como uma caminhada comum com pausas, retomadas. A concórdia interior supõe ou exige uma abertura a uma maior. A amizade é inseparável de uma busca, de um ideal, de uma comum aspiração.

A amizade começa com a experiência de um encontro. Esse encontro, porém, só se tornará amizade se confirmado por um segundo, terceiro, e depois, por uma série de encontros. Se depois do segundo e em seguida acontecer decepção e vazio, o elo do começo nada mais terá sido que uma simpatia que costumamos conhecer em nossa vida. A amizade nasce e se alimenta de muitos encontros.

 


Fonte: Franciscanos

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