Sábado, 07 Janeiro 2017 19:23

Formação para Fraternidade: Artigo 7 da Regra da OFS

 

FRANCISCANOS SECULARES, “IRMÃOS E IRMÃS DA PENITÊNCIA”

Conversão a partir do pensar e agir de Cristo e seu Evangelho e da Reconciliação

 

 Texto de Maria de Lourdes Nunes Carvalho, OFS

 

        “Como "irmãos e irmãs da penitência", em virtude de sua vocação, impulsionados pela dinâmica do Evangelho, conformem o seu modo de pensar e de agir ao de Cristo, mediante uma radical transformação interior que o próprio Evangelho designa pelo nome de "conversão", a qual, devido à fragilidade humana, deve ser realizada todos os dias. Neste caminho de renovação, o sacramento da Reconciliação é sinal privilegiado da misericórdia do Pai e fonte de graças”. (Regra da OFS 7)

 

 

 1. ORAÇÃO DE ABERTURA:

     Oração do Espírito Santo(São João XXIII)

Espírito Santo! Termina em nós a obra começada por Jesus, dá entusiasmo ao nosso apostolado, para que atinja todos os homens e todos os povos, resgatados, todos eles, pelo sangue de Cristo.

Acelera em cada um de nós o despertar de uma profunda vida interior. Apaga em nós a autossuficiência e eleva-nos até ao nível de uma humildade santa, do verdadeiro temor de Deus, da coragem generosa.

Que nenhum apego terrestre nos impeça de honrar a vocação a que fomos chamados. Que nenhum interesse possa, por covardia nossa, abafar dentro de nós as exigências da justiça.

Que cálculos medíocres e mesquinhos não reduzam às estreitezas do nosso egoísmo os imensos espaços da caridade. Que grande seja em nós a procura da Verdade, até a pronta aceitação do sacrifício, mesmo até a cruz, até a morte.

 Que tudo, enfim, responda à oração suprema que o Filho dirigiu ao Pai. E que esta graça, Espírito de Amor, pela vontade do Pai e do Filho, se derrame sobre a Igreja, sobre todas as instituições, sobre todos os povos e sobre cada um de nós. Amém.

 

2. CANTO:

1. Um dia uma criança me parou, olhou-me nos meus olhos a sorrir, caneta e papel na sua mão, tarefa escolar para cumprir. E perguntou, no meio de um sorriso, “o que é preciso para ser feliz?”

Refão: Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu. Sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria, e ao chegar ao fim do dia eu sei que dormiria muito mais feliz.      

2. Ouvindo o que eu falei ela me olhou, e disse que era lindo o que eu falei. Pediu que eu repetisse, por favor, mas não dissesse tudo de uma vez. E perguntou de novo, num sorriso, “o que é preciso para ser feliz?”    

3. TEMA: FRANCISCANOS SECULARES, “IRMÃOS E IRMÃS DA PENITÊNCIA”

Ser franciscano e/ou franciscana secular, no mundo de hoje, é renovar na própria vida, a cada dia, o itinerário de penitência econversão, como fizeram, cada um em seu tempo, São Francisco, Santa Clara, Santa Isabel da Hungria, São Luís IX, Rei de França e tantos outros santos e santas franciscanos no decorrer da história de santidade e santificação dos irmãos e irmãs da Família Franciscana.

O surgimento da Ordem Terceira de São Francisco, dos “irmãos e irmãs da penitência”, foi fruto da inquietação espiritual do Seráfico Pai, pois depois de já ter muitos irmãos, homens e mulheres, começou a “pensar muito e ficou em dúvida sobre o que devia fazer, se somente entregar-se à oração, ou a pregar algumas vezes”.  Pediu então que Frei Masseo fosse ter com a Irmã Clara e com Frei Silvestre, solicitando-lhes que o ajudassem com orações a conhecer a vontade divina. A resposta de Frei Silvestre foi igual à de Irmã Clara: “Cristo respondeu e revelou que sua vontade é que vás pelo mundo a pregar, porque ele não te escolheu para ti somente, mas ainda para a salvação dos outros”.   Saindo para cumprir o mandado de Cristo,

pregou com tal fervor que todos os homens e todas as mulheres daquele castelo [Savurniano], por devoção, queriam seguir atrás dele e abandonar o castelo. Mas São Francisco não permitiu, dizendo-lhes: ‘não tenhais pressa e não partais; e ordenarei o que deveis fazer para a salvação de vossas almas’. E então pensou em criar a Ordem Terceira para a universal salvação de todos. E assim deixando-os muito consolados e bem dispostos à penitência, partiu-se daí... .  (I Fioretti, 16).

O Memoriale Propositi, primeira Regra da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, assinada pelo Papa Gregório IX, começa assim:  “O Memorial do Propósito de vida dos irmãos e das irmãs da penitência, que vivem nas próprias casas, iniciado no ano de 1221, é este...”. Por isso, o Artigo 7 da atual  Regra da Ordem Franciscana Secular atualiza e confirma a essência original da vocação franciscana secular de "irmãos e irmãs da penitência".

Quase 800 anos depois, o desafio é reavivar o Carisma Franciscano Secular, voltando à origem a fim de beber na fonte para que assim a Vocação Secular da Espiritualidade Franciscana seja impulsionada pela dinâmica do Evangelho, a conversão e a vocação sejam moldadas pelo pensar e pelo agir de Cristo, e o sacramento da Reconciliação continue sendo sinal da misericórdia do Pai e fonte de graças para todos os “irmãos e irmãs da penitência”.

  

3.1 – A Vocação impulsionada pela dinâmica do Evangelho

Impulsionar a Vocação pela dinâmica do Evangelho significa colocar o Ideal Franciscano como um tesouro, assumido definitivamente na vida pessoal por meio da Profissão, pois Jesus Cristo ensina que “onde está o teu tesouro, lá também está teu coração” (Mt 6, 21).

Por ser uma vocação de “irmãos e irmãs da penitência”, a intimidade com a Palavra de Deus deve ser vivida e testemunhada tanto na vida pessoal como na vida fraterna. Foi esta a experiência vivida, testemunhada e declarada pelo nosso Seráfico Pai, São Francisco de Assis: “E depois que o Senhor me deu irmãos Ele mesmo me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo Evangelho”. (Test 14).

O Papa Francisco conduz o seu pontificado à luz da sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, ressaltando que a “Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus [pois] o Evangelho, onde resplandece gloriosa a Cruz de Cristo, convida insistentemente à alegria”. (EG 1;5)

A dinâmica do Evangelho leva ao aprofundamento da consciência de pertença ao Povo de Deus e à Família Franciscana, assim como desperta para a necessidade de comunhão e partilha da Palavra, do Pão e da Missão pois,

  se é verdade que todas as coisas que se disseram a respeito do Povo de Deus se dirigem igualmente aos leigos, aos religiosos e aos clérigos, algumas, contudo, pertencem de modo particular aos leigos, homens e mulheres, em razão do seu estado e missão; e os seus fundamentos, devido às circunstâncias especiais do nosso tempo, devem ser mais cuidadosamente expostos. (LG 30)

Os padroeiros da Ordem Franciscana Secular Santa Isabel da Hungria e São Luís Rei IX, Rei de França são exemplos fortes de quem viveu em estado de missão, no seu tempo, conforme nos exorta a Lumen Gentium (Luz do Mundo),  da constituição dogmática sobre a Igreja, aprovada pelo Concílio Vaticano II.

De acordo com a carta enviada por Frei Conrado, diretor espiritual de Santa Isabel da Hungria,''na sexta-feira santa de 1228, colocadas as mãos sobre o altar na capela da sua cidade de Eisenach, onde havia acolhido os Frades Menores, na presença de alguns frades e familiares, Isabel renunciou à própria vontade e a todas as vaidades do mundo!”. Depois disso, Isabel dedicou-se ao serviço aos pobres e enfermos, tornando-se a primeira mulher  que se tornou santa nas pegadas de São Francisco de Assis, ou seja, viveu no mundo mas sem pertencer a ele, dedicando sua vida à oração, à intimidade com a Palavra de Deus e às obras de caridade.

Não existem registros de que Luís IX tenha feito algum milagre na sua vida terrena, porém a sua presença no mundo, por meio de atitudes e ações desenvolvidas como rei influenciaram toda a Idade Média, pois “participa simultaneamente do econômico, do social, do político, do religioso, do cultural; e age em todos esses domínios” e tudo “se torna uma ‘procura utópica’ (Le Goff, p.21)”.

A vocação impulsionada pelo Evangelho em São Luís IX pode ser evidenciada no Testamento Espiritual ao seu filho, em especial quando diz: “Seja bom de coração e bondoso com os pobres, os desafortunados e os aflitos. [...] Sempre fique do lado dos pobres e não dos ricos até ter certeza da verdade”.

 

3.2 – Conversão e Vocação moldadas pelo Pensar e pelo Agir de Cristo

Somente respondendo com a própria vida diária à pergunta “Senhor, que queres que eu faça?” (At. 9, 6), a exemplo de Francisco, é possível aprofundar e aperfeiçoar a Conversão e a Vocação, ou seja, é preciso moldar a própria humanidade na pessoa de Jesus, a exemplo do que fez São Francisco de Assis no seu tempo. Portanto, só uma vida de Oração e de intimidade com a Palavra leva à escuta da vontade de Deus.

Para que a vocação e o caminho de conversão sejam moldados pelo pensar e pelo agir de Cristo, é preciso estar em intimidade permanente com o Altíssimo, pois “a presença de Deus acompanha a busca sincera que indivíduos e grupos efetuam para encontrar apoio e sentido para a sua vida”. (EG 71). A Lumen Gentium mostra que a imensa maioria do povo de Deus é constituída por leigos  (LG 102),  por  isso,

os leigos são especialmente chamados a tornarem a Igreja presente e ativa naqueles locais e circunstâncias em que só por meio deles ela pode ser o sal da terra. Deste modo, todo e qualquer leigo, pelos dons que lhe foram concedidos, é ao mesmo tempo testemunha e instrumento vivo da missão da própria Igreja, «segundo a medida concedida por Cristo». (LG 33).

A Família Franciscana não é diferente da Igreja, já que a grande maioria dos franciscanos e das franciscanas que se encontram espalhados pelo mundo inteiro, é constituída de leigos da família espiritual fundada por São Francisco de Assis, sob a inspiração do Espírito Santo.

Moldar-se pelo pensar e pelo agir de Cristo, é fundamental e inadiável ao reavivar da essência humana, cristã e franciscana secular no mundo de hoje. Jesus Cristo nos ensina em seu Evangelho: “Não vim para ser servido, mas para servir.” (Mt 20,28). São Francisco de Assis moldou o seu pensar e o seu agir ao de Cristo no encontro com o leproso, no encontro e diálogo com o sultão, na promoção do reencontro entre o prefeito e o bispo de Assis e em tantas outras oportunidades de sua caminhada de conversão e santificação.

Em suma, ter Cristo como centralidade do pensar e do agir como franciscano e como franciscana secular, significa ser fiel e obediente à sua Igreja, ser presença ativa no mundo com intervenção na história para contribuir na conquista da Paz e do Bem que vem de Deus. Para tanto, é preciso conceber o mundo-universo como criação de Deus e espaço para a construção do seu Reino Eterno e que o Franciscano e a Franciscana Secular devem estar presentes nele, testemunhando pela vida pessoal e comunitária que o Ideal Franciscano é uma forma atual e privilegiada de viver os valores do Evangelho e agir nas realidades do nosso tempo a partir do agir de Nosso Senhor Jesus Cristo.  

 

3.3 – A Reconciliação como sinal da misericórdia do Pai e fonte de graças

          O Artigo 7 da Regra da OFS deixa bem claro que o caminho de conversão e de aprofundamento da vocação passa necessariamente pelo Sacramento da Reconciliação para que os “irmãos e irmãs da penitência” obtenham a misericórdia do Pai pelos pecados praticados, mas é também fonte inesgotável de graça, fundamental ao processo de conversão.

Em seu Evangelho (Mt 5, 23-24), Jesus nos ensina que a Reconciliação é indispensável para a obtenção da salvação. Já São Paulo, na Carta aos Romanos, declarando que, “com efeito, eu não faço o bem quero, mas pratico o mal que não quero. E se faço o que não quero, já não sou eu que faço, e sim o pecado que mora em mim” (Rm 7, 19-20), nos demonstra que é preciso reconhecer a própria fragilidade humana, e assumir o compromisso de frequentar assiduamente o Sacramento da Confissão para o perdão dos pecados e aumento da graça de Deus na vida pessoal.

O Catecismo da Igreja Católica explicita que “aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa a Ele feita e, ao mesmo tempo, são reconciliados com a Igreja, que tinham ferido com o seu pecado, a qual, pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela sua conversão.” (CIC, 1422).

Na vida de São Francisco de Assis a confissão, a penitência e o perdão são valores inseparáveis, desde o início de sua conversão:

 Foi assim que o Senhor me concedeu a mim, Frei Francisco, iniciar uma vida de penitência: como estivesse em pecado, parecia-me deveras insuportável olhar para leprosos. E o Senhor mesmo me conduziu entre eles e eu tive misericórdia com eles. E enquanto me retirava deles, justamente o que antes me parecia amargo se me converteu em doçura da alma e do corpo.Edepois disto demorei só bem pouco e abandonei o mundo.(Test 1-3)

 

Ao rezar, “Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero pecador, te peço, que, a todos quantos arrependidos e confessados, virão a visitar esta igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas”, o Seráfico Pai demonstrou que também se preocupava com a salvação de todos; e ao solicitar ao Papa o perdão e remissão dos pecados para quem visitasse a Porciúncula, fez com que o Perdão de Assis chegasse até nossos dias e fosse estendido a todas as igrejas do mundo. Por isso, além da própria salvação o Franciscano e a Franciscana Secular devem contribuir com a salvação dos outros.

 

.    CONCLUSÃO

Atitudes indispensáveis para pensar e agir com o pensar e agir de Cristo como "irmãos e irmãs da penitência", impulsionados pela dinâmica do Evangelho:

a) cultivar a intimidade e a leitura orante da Palavra de Deus;

b) beber constantemente nas Fontes Franciscanas e Clarianas e na Regra para fortalecer e trazer para o mundo de hoje os paradigmas da espiritualidade franciscana;

      c) olhar a Igreja, a sociedade e as diversas dimensões da nossa realidade temporal a partir do ideário franciscano e do Movimento de Assis para ; e

        d) tratar a vocação/conversão, como um processo que nunca acaba. 

 

4. QUESTÕES

    4.1 – Como conservar e aperfeiçoar a santidade recebida como herdeiros e herdeiras da vocação do Pai Seráfico?

   4.2 – Nosso Fundador e nossos padroeiros deram respostas concretas de Fé aos apelos de Deus, no contexto social e religioso da Idade Média. Neste nosso tempo do Século XXI, como responder?

 

5. AÇÃO CONCRETA

     Em 2017, aprofundar, na vida pessoal e na Fraternidade, a vivência do Sacramento da Reconciliação e da leitura orante da Bíblia.

 

6. PARA ENRIQUECIMENTO DO ESTUDO

    6.1 – Sagradas Escrituras

              ● Evangelho de São Mateus, Capítulos 5 a 7.

              ● Carta de são Paulo aos Romanos, Capítulo 7

    6.2 – Documentos do Magistério da Igreja

              ● Constituição Dogmática Lumen Gentium, Capítulo – Os Leigos.

              ● Catecismo da Igreja Católica, Reconciliação e Confissão (§§1422-1495)     

    6.3 – Fontes Franciscanas

          ● I Fioretti de São Francisco de Assis, Capítulo 16.

          ● Testamento de São Francisco de Assis

 7. ORAÇÃO FINAL:

          Oração pela Vocação Franciscana Secular – Senhor Jesus, que disseste: “orai ao Senhor da messe para que mande operários para a sua obra”, escute essa nossa humilde oração.

- Tu que chamastes Francisco e Clara de Assis para viver na mais íntima comunhão contigo e renovar a Tua Igreja, suscita também hoje, homens e mulheres para viverem o Evangelho, “impulsionados pelo Espírito Santo a atingir a perfeição da caridade no próprio estado secular” e, a reencontrarem o gosto da oração, da contemplação e do serviço ao próximo.

- Nós te pedimos que muitos jovens também se encontrem no projeto franciscano de vida para desenvolverem a sua vocação cristã e “tornarem-se testemunhas e instrumentos da missão da Igreja, anunciando-Te com a vida e com a Palavra”.

Assim, “imitando a disponibilidade incondicional da Virgem Maria” e unidos à Família Franciscana, seremos todos, “portadores da paz e mensageiros da perfeita alegria em toda a circunstância, de modo que, inseridos na Ressurreição de Cristo, caminhemos com serenidade ao encontro definitivo com o Pai”. Amém

 8. CANTO FINAL:

1. Cristo quero ser instrumento/ de tua paz e do teu infinito amor./ Onde houver ódio e rancor/ que eu leve a concórdia, que eu leve o amor.

Refrão: Onde a ofensa que dói, que eu leve o perdão./ Onde houver a discórdia, que eu leve a união de tua paz.   

2. Onde encontrar um irmão a chorar de tristeza,/ sem ter voz e nem vez, quero bem no seu coração/ semear alegria pra florir gratidão.    

3. Mestre que eu saiba amar/ compreender consolar e dar sem receber./ quero sempre mais perdoar/  trabalhar na conquista dá vitória da paz. 

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