Sábado, 09 Janeiro 2021 13:23

OFS e o Espelho da Perfeição: reflexão sobre o capítulo XII

Capítulo XII

 

Considerava roubo pedir esmolas e utilizá-las além da necessidade.

 

1 São Francisco dizia frequentemente estas palavras a seus frades: “Não fui ladrão de esmolas, pedindo-as ou usando-as além da necessidade. 2 Sempre aceitei menos do que me cabia, para que os outros pobres não fossem lesados em sua parte; pois agir ao contrário seria um furto”.

 

Reflexão:

 

Este capítulo é minúsculo. Parece que seria mais fácil seu debate. Mas não é, uma vez que trata de um assunto de muita importância na nossa trajetória. Muitos creem que inicialmente a principal forma de vida dos frades era a mendicância. Porém, antes dela vinha o trabalho. Na Regra Bulada Francisco afirma que: “Os frades a quem o Senhor deu a graça de trabalhar, trabalhem fiel e devotamente”...”afastando o ócio inimigo da alma”. Além disso mesmo diante da renúncia total de bens, autorizou a posse de ferramentas de trabalho para os irmãos. 

Quanto aos Irmãos da Penitência ou Ordem Terceira de São Francisco, a questão da mendicância fica mais distante ainda, principalmente no que tange aos seculares. Tanto que as autoras Giovana Casagrande e Eleonora Rava, em seu texto “Penitentes Franciscanos: a Espiritualidade do Fazer”, afirmam que a Regra Supra Montem possibilitava a vivência religiosa dos terceiros de forma distinta. Havia espaço para os que tornavam-se pobres e se entregavam à Providência e para aqueles que mantinham seus trabalhos e viviam a penitência a partir de seu cotidiano.

Como leigos, os penitentes tinham em suas fileiras, entre homens e mulheres, trabalhadores, mercadores, nobres, que não dependiam da vida religiosa para manter-se. Porém, muitas foram as iniciativas de irmãos e irmãs terceiras que tinham como principal característica as obras de misericórdia. Muitos construíam, com os próprios recursos, hospitais, hospícios e outras obras. Mas, certamente, a mendicância fazia parte desta caminhada. 

O autor chama a atenção para o uso que era feito do que se doava para a obra de Deus. Neste ponto já erramos muito. Basta vermos como foram administradas muitas das obras sociais administradas pela Ordem Terceira durante seus séculos de existência. 

Não se trata de uma quantia para se ter luxo. Nem para satisfazer todas as nossas vontades e desejos como fraternidade. Ter um local para atender uma comunidade pobre, não é luxo, mas o uso e a forma como usamos o lugar pode tornar-se supérfluo. 

Outro fator importante é que a esmola é para os pobres. Como irmãos da OFS não devemos viver das doações que são dadas para as obras de misericórdia. A fraternidade não deve depender destes recursos. Eles são para os pobres e excluídos, ou seja, se temos um patrimônio que foi construído a partir destas esmolas, elas devem retornar àqueles que foram seu alvo principal.

Lembremos: se fizermos de forma diferente seria um furto, de acordo com o texto da Regra Bulada. Nada disso tem a ver com as contribuições dos irmãos para a fraternidade. Porém, não podemos esquecer que, entre nós, por vezes teremos os irmãos e irmãs que vivem com grande dificuldade. Desde a primeira regra conhecida Memoriale Propositi, temos uma obrigação com estes irmãos. 

A fraternidade precisa atender aos seus membros mais pobres ou que estão precisando de uma atenção especial. De que adianta um caixa com milhões e nossos irmãos e irmãs com necessidades? Por isso, as ministras e ministros precisam conhecer cada realidade, saber do que estão precisando aqueles entre nós que estão em dificuldades. 

Retomando o pensamento do Poverello, se temos uma obra de misericórdia devemos lembrar que ela não vai atender a todos os doentes e necessitados. Por isso não devemos monopolizar estas ações. Devemos abrir espaço e mostrar as possibilidades para aqueles que precisam e, também, valorizar outros que fazem o mesmo tipo de trabalho que nos dispusemos a fazer. Devemos criar redes de ação. Ou seja, nos irmanar com outras instituições, quer sejam católicas ou não, a fim de podermos ajudar o máximo de pessoas que pudermos. Não podemos prejudicar ninguém para realizar nossa caridade.

Lembremos que nossa relação com o dinheiro deve ser de desapego. Não somos bancos. Somos fraternidades cristãs franciscanas. Mesmo que talvez tenhamos nos perdido pelo caminho, ainda há tempo de retomarmos a rota. 

 

Para meditar:

 

1 – Sua fraternidade tem obras sociais? Como fazem para garantir o funcionamento?

2 – Qual a importância desta obra para a formação dos irmãos e irmãs?

3 – E quanto aos irmãos que não tem renda para manter-se? Como a fraternidade lida com isso? 

4 – O que seria a mendicância para vocês? Qual seu papel em nosso carisma?

 

Texto de Jefferson Eduardo dos Santos Machado – Coordenador de Formação da Fraternidade Nossa Senhora Aparecida – Nilópolis (RJ)

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